Ride or Die, um dos mais recentes romances da Netflix, estreou a 15 de abril. O drama japonês, inspirado no mangá Gunjō, conta a história de uma mulher que mata o marido abusivo da pessoa por quem está apaixonada desde adolescente. Deste modo, a obra cinematográfica chama à atenção para temas geralmente ignorados, prometendo assim impactar.

Rei (Kiko Mizuhara) é uma lésbica perto dos 30 anos que, apesar de viver com a namorada, Mika (Yôko Maki), ainda esconde à família a sua orientação sexual. Apesar de uma pequena discórdia que surgiu porque Mika não se sentia assumida, as duas parecem viver felizes. Pelo menos até aparecer uma ex-colega de escola de Rei, Nanae (Honami Satô), que foi também a sua primeira paixão.

Rei descobre então que esta sofre de violência doméstica por parte do marido e que se sente sem opções de fuga. Nas palavras de Nanae, “ou o meu marido morre ou morro eu”. Revoltada com a situação, e ainda apaixonada pela amiga de infância, a jovem afirma que, se alguém merece morrer, é ele. Nanae pergunta-lhe, então, se Rei o mataria por ela.

Cega de paixão e raiva, Rei seduz o homem, levando-o para a cama e assassinando-o quando este menos espera. As duas mulheres decidem então fugir, deixando para trás empregos, bens, família e, no caso de Rei, a namorada. Fugindo numa viagem de carro sem rumo, cheia de suspense e revelações, o romance entre as duas floresce. Porém, assombradas pelas decisões tão drásticas e impulsivas, o desespero e o medo parecem controlar a sua relação.

Dominada por emoções, a longa-metragem procura mostrar o romance das protagonistas de forma crua e real. Estas arrependem-se, discutem, choram e insultam-se, incapazes de absorver tudo o que essa nova realidade tem de diferente. Além disso, o filme é também uma lufada de ar fresco para o cinema japonês, contendo temáticas por ele pouco exploradas como a homossexualidade e a violência doméstica. Adicionalmente, possui também cenas de sexo explícito e total nudez frontal, que, embora sejam injustificadamente frequentes, quebram um grande tabu na indústria japonesa, que evita sempre colocar atrizes neste tipo de cenário por achar que isso diminui o seu valor.

A cinematografia de Ride or Die é um dos seus pontos mais fortes. Os cenários são todos de beleza admirável, contrastando espaços de elevada saturação e cores chamativas, com outros mais escuros e neutros. É também merecedor de referência o modo como o filme transita de cenas de grande tensão para cenários alegres, sendo a oposição repentina chocante num sentido bastante positivo.

A representação foi algo desapontante. As performances não eram más, mas também não eram particularmente boas. As atrizes pareciam ter pouca química e, em certos momentos, atuavam de forma um pouco rígida. Deve-se ter em conta, porém, que a escrita também pecou, o que pode dificultar o trabalho do elenco. Grande parte dos diálogos eram pouco dinâmicos e orgânicos, aborrecendo facilmente o espectador.

O enredo tem uma base interessante. No entanto, desenvolve-se de maneira irrealista e, por vezes, simplesmente estúpida. Os conflitos internos e externos das personagens começam por ser bastante intrigantes, acendendo em quem assiste uma curiosidade de saber os motivos das suas atitudes. Todavia, os solavancos da relação, que progride e regride com rapidez, rapidamente se tornam cansativos e repetitivos.

Outro ponto de extrema relevância é a duração do filme. Não há nenhum motivo que justifique os seus 142 minutos. As cenas mostravam-se sempre exageradamente prolongadas e há variados momentos que parecem não acrescentar absolutamente nada à história nem ao desenvolvimento das personagens. Deste modo, a longa-metragem torna-se exaustiva e leva, por vezes, à perda de interesse do espectador.

Em geral, a obra cinematográfica tem uma premissa interessante, mas definitivamente não é o tipo de filme que se assiste com a família num domingo à tarde. Possui muitas cenas de violência e sexo, parecendo alguma delas desnecessárias e contribuindo para a estigmatização de que filmes sobre relacionamentos homossexuais têm de ser hiper-sexualizados. Contudo, a forma como as emoções, vividas e inconstantes, são retratadas e o suspense cativam e convidam a uma visualização.