O debate realizado via online incluiu temas como o contexto do sistema de saúde português e o panorama epistemológico em que o mundo se encontra.

A escola de Medicina da Universidade do Minho organizou esta quinta-feira a sessão “Democracia e Saúde: que desigualdades persistem?”. A conversa teve como oradores Céu Mateus, economista da saúde, Nuno Sousa, professor e investigador da Escola de Medicina e Sandra Ribeiro, presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.

Céu Mateus inicia a sua intervenção afirmando que a “pobreza é a pior doença que se pode ter”. Neste sentido, a oradora explica que os recursos que temos ao nosso dispor acabam por condicionar muito a nossa saúde e os nossos estilos de vida.

A convidada defende igualmente que “as questões da desigualdade não as conseguimos resolver de todo” e, por isso, existem políticas como o Serviço Nacional de Saúde que existem de forma a reduzir o impacto das desigualdades económicas na saúde.

Nuno Sousa afirmou que de facto as “taxas de mortalidade não se conseguem mascarar”, sendo que as pessoas que têm piores condições socioeconómicas são as que morrem mais cedo. Para o orador a raiz do problema passa pela questão de o “número de anos de vida saudável ser muito menor nos indivíduos socioeconomicamente desfavorecidos”.

Sandra Ribeiro declara que a “maioria dos doentes são pobres e a maioria dos pobres são doentes”. Descreve a desigualdade no acesso à saúde como um círculo vicioso que vai atingindo quase sempre o mesmo tipo de pessoas.

Relativamente ao conjunto de dados e investigações relacionadas com o impacto que as diferentes etnias e raças têm no acesso à saúde, Céu Mateus reconhece que existem muitas investigações, porém as mesmas não decorrem em Portugal. Apesar disso, a oradora afirma que existem informações sobre certos assuntos como o rendimento que permitem desenvolver investigações sobre a desigualdade.

Tanto Nuno Sousa como Sandra Ribeiro concordam que para se criar certas políticas é necessário procurar informações no exterior do país. Contudo, Sandra Ribeiro acrescenta que apesar de existirem medidas que possibilitem que a saúde chegue a mais pessoas, quando se constrói o algoritmo, na grande maioria das vezes, não se pensa na diversidade e na acessibilidade.

O debate passou também pela temática do avanço digital e a falta de equidade que lhe está associada. Céu Mateus afirma que a aquisição de competências digitais é fundamental em todos os níveis de ensino porque “estamos a caminhar para um mundo cada vez mais digital”.

Por fim, no que diz respeito à situação pandémica atual, Nuno Sousa declara que a solidariedade existe quando possuímos o mínimo de conforto, ou seja, quando houver um número de vacinados considerado “confortável” nos países mais desenvolvidos, os mesmos estarão preparados para ajudar os países menos desenvolvidos.

Sandra Ribeiro acredita que os países podem “cair na sua própria ganância”. A mesma afirma que quem tem meios para comprar as vacinas tenta comprar o máximo que consegue, no entanto “não chega os ricos estarem vacinados se os pobres não estão”.