Lançada a 23 de abril no serviço streaming da Netflix, Shadow and Bone traz um refrescante e perturbador mundo novo, onde as forças das sombras controlam a vida das personagens. Uma jovem cartógrafa, Alina Starkov, descobre acidentalmente que tem o poder de mudar o destino da guerra e torna-se a única pessoa capaz de invocar a luz.

A série baseia-se em duas sagas da escritora Leigh Bardugo, ambas do mesmo universo, o Grishaverse. A trilogia best-seller mundial, Sombras e Ossos (2012-), dá o nome às personagens principais (Alina, Mal e Kirigan) e a premissa à série. Por outro lado, a diologia Six of Crows (2015) oferece as personagens criminosas mais adoradas dos leitores (Kaz, Inej, Jesper, Matthias e Nina), de modo a criar uma história paralela e mais emocionante à série.

A premissa foca-se num mundo dilacerado pela guerra onde a humilde cartógrafa e órfã Alina Starkov (Jessie Mei) acaba de libertar um poder extraordinário, que pode ser a chave para libertar Ravka, o seu país. Um século antes da história da série, o Rei não aceitava coexistir com os Grisha, humanos com habilidades mágicas. Assim, os soldados gastavam as suas energias numa caça aos mesmos.

Nesta altura, um feiticeiro poderoso, Herege Negro, cria o Fulco, uma faixa de terra escura e estéril habitada pelos monstros Volcra, separando Ravka em duas partes. A urgência do Rei em acabar com esta “prisão”, levou-o à aceitação dos Grishas para trabalharem lado a lado com os seus soldados. Contudo, só invocando a luz, habilidade lendária, é que é possível destruir o que o invocador das sombras cria. Apenas 100 anos depois e, por acidente, ao tentar salvar o seu melhor amigo Mal (Archie Renaux), Alina conjura a luz, oferecendo a esperança de que talvez é a santa da profecia.

Em consequência, Alina é arrancada de tudo o que sabe e é levada para o palácio às ordens do único invocador das sombras conhecido, general Kirigan (Ben Barnes). O objetivo é treiná-la com o exército de elite de soldados Grisha. No enanto, enquanto ela tenta aperfeiçoar o seu poder, descobre que aliados e inimigos podem ser o mesmo e que nada neste mundo luxuoso é o que parece.

É no meio de traições e tentativas de homicídio que Alina aproveita a oportunidade para fugir do palácio. Nesta fuga, cruza-se com os Crows, um trio de criminosos profissionais, que foram contratados para a sequestrar. Mesmo que a história principal esteja repleta de fantasias, tanto de impressionantes como de intimidantes, é ao envolver-se em histórias inesperadas, que a série se destaca. Ao mesmo tempo, expande o romance, criando uma nova aventura emocionante, tanto para leitores como para os novos fãs. Tendo em conta que a narrativa principal pertence ao trio Alina, Mal e Kirigan, a apresentação dos seis Crows foi trabalhada ao longo dos episódios.

Enquanto que o trio Kaz (Freddy Carter), Jesper (Kit Young) e Inej (Amita Suman) trabalham no rapto de Alina, Nina (Danielle Galligan) e Matthias (Calahan Skogman) foram construídos numa outra história paralela menos bem conseguida. Ainda falta aparecer Whitter, o sexto corvo e interesse amoroso de Jesper, oferecendo esperança aos fãs que uma segunda temporada esteja a ser ponderada.

Pontos menos bons também existem. Para além da referida abordagem romântica, apressada e de certa forma esquisita, tenho a sublinhar a repetição contínua de cenas nostálgicas. Estas tornam-se aborrecidas, uma vez que os espetadores já sabem o que vão assistir. Deste modo, podiam ter escolhido memórias variadas ou, se queriam escolher a mesma cena, poderiam mostrá-la através de planos diferentes, para oferecer informação “nova” e maior dinamismo. Também a cinematografia ficou a desejar. A paleta de cores resume-se a acentuadas diferenças de tonalidades ou muito claras ou muito escuras. A própria Netflix avisa dessa peculiaridade (que a cor clara pode sensibilizar os olhos), tornando o visionamento da série desagradável. Nesta linha de pensamento, a tonalidade muito escura não permite diferenciar o que se está a passar na imagem. Além disso, em algumas situações, até revela o pixel do ecrã.

Quanto ao final, da maneira que terminou, não acho que seja obrigatório uma continuação nomeadamente da história principal. Contudo, fiquei encantada com os Crows, com destaque para o Kaz. Com os seus planos maquiavélicos e bem pensados, ao lado dos restantes corvos, cada um com o seu carisma, personalidade e talento criminal, a série brilha. Dito isto, mal posso esperar que o sexto elemento apareça para a criação de um spin-off com novas aventuras, espero eu, incríveis.

Não obstante, a mistura do mundo fantástico com o do crime que Shadow and Bone nos presenteia, permite a construção de um universo espetacular. Adicionalmente, cria um mundo onde existem forças perigosas e onde é necessário muito mais do que magia, mesmo que da mais rara e especial, para que se consiga sobreviver.