Parece que ainda ontem que ouvíamos pela primeira vez Birdy a cantar “Skinny Love”, quando em 2021, a jovem inglesa de 24 anos lançou o quarto álbum. Young Heart é ao mesmo tempo algo muito pessoal e relacionável com situações que nós próprios atravessamos.
De forma a dar o tom para esta atmosfera mais pessoal, Birdy conta que a witching hour, que acontece por volta das 4 horas da manhã, é a altura em que as letras fluem de forma mais criativa. Depois de ser criado o ambiente de floresta mágica, perpetua-se para “Voyager”. As percussões dão a ideia de que há um percurso a ser feito que acompanha a melancolia de deixar alguém.
O single, apesar de falar de solidão, é algo que se pode ouvir em muitas situações. Sente-se uma grande dedicação a nível vocal o que faz com que seja das melhores do conjunto bastante agradável. Birdy teve sucesso muito nova e isso fez com que não tivesse tanto tempo livre, passando por momentos de solidão. Com esta música percebe-se uma aceitação por isso, normalizando este sentimento.
O “outro lado” expresso em “The Otherside” é o que encontramos após enfrentarmos algum obstáculo. Com um ritmo mais upbeat e alegre, a cantora fala da importância de assegurarmos a quem gostamos de que vamos estar sempre disponíveis para os ajudar.
Para além de “Loneliness”, “Surrender” surge como o single principal. Aqui permanece a atmosfera mais íntima. Transmite uma certa calma ao ouvir, graças aos ritmos lentos e suaves aliados à voz angelical da jovem. Apesar disso, o álbum não podia estar completo sem uma balada. Eis que na sexta faixa surge,“Nobody Knows Me Like You Do”: a voz ganha prevalência sendo acompanhada apenas pelo piano. É das letras mais tristes do conjunto por falar num desgosto amoroso.
Como forma de seguir em frente, ouve-se “River Song”. O rio simboliza a ideia de movimento direcionado para um determinado fim, daí que encaixa bem na ordem do álbum e, também, a própria música vai acelerando à medida que nos aproximamos do fim. Cortar laços com relações anteriores é sempre difícil. E frequentemente surgem sentimentos de arrependimento. É o caso da outra balada de piano, “Second Hand News”.
O tema solidão é recorrente neste álbum, sendo que Birdy se classifica como introvertida e dá muitas vezes por si sozinha. Com “Deepest Lonely” faz disso algo bonito conduzindo-nos por momentos pacíficos e também inquietantes, característica também dos introvertidos. A participação dos violinos junto da guitarra acústica em “Lighthouse” alivia a atmosfera mais pesada construída até agora. Inclusive, após temas como desgosto e solidão, ouvimos uma carta de amor e de vontade de partilha.
“Celestial dancers” pode ser interpretada como uma pausa para o curso do álbum. Descreve o processo de composição em que Birdy sente uma conexão com algo maior. A própria música transmite esta ideia de flutuação. Depois da experiência celestial, há um renascer. “New Moon” é bastante animadora, apresentando ritmos mais suaves e leves.
“Young Heart” é o culminar de tudo o que temos ouvido feito de uma forma excecional. Temas como o desgosto e a solidão aliam-se ao piano e fazem desta música uma das melhores. A parte que se destaca é realmente a ponte quase no fim dos seis minutos de faixa, em que ouvimos algo triunfal e exacerbado.
Dentro do vasto conjunto de 16 faixas, há duas que não apresentam nenhum elemento muito distintivo. São elas “Evergreen” e “Little Blue”, que simplesmente mantêm o registo das faixas ouvidas anteriormente. A exceção é “Chopin Waltz In A Minor – interlude”. Segundo a artista, este interlúdio é uma gravação da mesma a tocar esta peça no piano como se fosse um simples truque.
No fim de ouvir este álbum, sente-se que saímos do Planeta Terra e voltamos. A verdade é que os instrumentos característicos da cantora tal como o piano e a guitarra acústica juntamente com a sua voz celestial fazem de Young Heart uma verdadeira experiência musical. É genial que com apenas 24 anos, Birdy colecione já quatro álbuns. Este último tem um lado empático que nos permite relacionar-nos com as palavras.
Álbum: Young Heart
Artista: Birdy
Editora: Atlantic Records
Data de Lançamento: 30 de abril de 2021