No mês passado, a cantora e compositora de 23 anos, natural de Walsall, lançou um novo projeto composto por oito faixas para saciar a sede dos fãs, que anseiam pelo sucessor de Lost & Found. Com instrumentação minimalista e emoção pungente, Be Right Back pode até ser apenas projeto provisório, mas encerra em si uma dimensão experimental crucial para o percurso de Jorja Smith.

Com apenas 20 anos na altura da sua aclamada estreia, Jorja surgiu como uma estrela emergente no panorama neo soul e R&B do Reino Unido. A composição refinada e a habilidade vocal dinâmica são os ingredientes principais da música de Smith, naquilo que podemos descrever como a mistura perfeita entre a lendária voz de Amy Winehouse e o poder verbal de Lauryn Hill. Com um total de 11 milhões de ouvintes mensais no Spotify, a ascensão da artista britânica parece não ter prazo de validade.

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No comunicado de imprensa que acompanha o lançamento de Be Right Back, Jorja pede que não o considerem um segundo álbum. “Chama-se Be Right Back porque é apenas algo que quero que os meus fãs tenham”, clarifica. “Se eu precisei de compor estas canções, é porque há alguém que precisa de as ouvir”. Contudo, a artista parece já estar a trabalhar no verdadeiro segundo álbum de estúdio. Oferece-nos, por agora, um EP que até lá poderá funcionar como uma “sala de espera”, na qual passa muito boa música.

“Addicted” abre o projeto e possui a sonoridade comercial característica de um primeiro single. A linha de sintetizador foi escrita para ficar gravada nas nossas cabeças durante dias a fio. A performance vocal de Jorja não foge, contudo, àquilo que a britânica nos tem habituado, entregando-nos de corpo e alma um refrão que demonstra a potência vocal da artista. Tudo isto enquanto canta sobre a falta de reciprocidade que sente no relacionamento: “The hardest thing / You are not addicted to me / I’m the only thing you should need / You should be addicted to me” – uma mensagem algo simplista, tendo em conta a quantidade de letras profundas e significativas da compositora. É, por isso, o mais pobre dos temas do EP.

Segue-se “Gone”, o segundo single do projeto. A percussão em loop e o piano criam a atmosfera sonora ideal para acompanhar tanto a voz de Jorja como o tema da canção. Ainda mais melancólica que a primeira faixa, “Gone” retrata um cenário de perda (não necessariamente de um parceiro romântico, embora pudesse ser interpretado dessa forma), já que a artista explicou que a música fala sobre um ente querido que perdeu a vida num acidente de carro.

“Bussdown”, uma colaboração com a rapper londrina, Shaybo, introduz uma mudança na vibe e no conteúdo do EP. A produção musical de influência reggae complementa a lírica alegre e escrita de forma simples, permitindo que Jorja se vanglorie durante três minutos e alguns segundos. São os detalhes que tornam esta música um dos destaques deste projeto, em especial as harmonias do refrão, que soam ainda melhor na versão ao vivo que Jorja Smith lançou recentemente.

Porque é que a faixa mais curta é sempre aquela que não devia ter fim? Com menos de dois minutos de duração, “Time” combina a voz vulnerável de Jorja e os acordes de uma guitarra elétrica. Ainda assim, o tema possui alguma dimensão de versatilidade. Com apenas um verso, um refrão e um outro, a estrutura é simples, mas Jorja executa-a lindamente. A interpretação do refrão é particularmente impressionante, combinando as doses perfeitas de suavidade e energia.

Em “Home”, a natureza mais melancólica do EP retorna, com uma reflexão profunda sobre deixar para trás algo que nos prejudica, apesar da dor que isso possa trazer. “What’s worse than lookin’ at my neighbors pretendin’ that they’re happy / Is one day lookin’ at myself and I’m sayin’ that I’m sorry.” A produção minimalista, fornecida quase exclusivamente por uma guitarra, coloca mais uma vez a voz de Jorja em destaque, especialmente o registo mais grave no refrão, permitindo que a artista continue a brilhar.

A oitava faixa é, sem dúvida, o melhor presente deste EP. “Burn” combina uma performance vocal perfeita, uma narrativa potente, um refrão cativante e uma produção melódica simples, mas agradável. Aqui, Smith lida com o esgotamento e os efeitos secundários que acompanham a busca incessante de um sonho ou ambição. “/ You keep it all in, but you don’t let it out / You try so hard, don’t you know you’ve burnt out You burn like you never burn out / Try so hard, you can still fall down?

Be Right Back termina com os dois temas mais experimentais do projeto e, talvez, os mais experimentais que Jorja Smith alguma vez apresentou. É a prova de que a artista aproveitou este EP, também, para explorar novas sonoridades. Resta saber se “Digging” e “Weekend” configuram ou experiências junto do público, ou easter eggs daquilo que será o segundo álbum ou ambas as opções, em simultâneo. A produção musical de “Digging” é sólida, a lírica satisfatória, mas não existe nada de especialmente cativante no tema, além da mudança de temperamento: Jorja apresenta-se menos nostálgica e mais frustrada.

“Weekend”, pelo contrário, é outro dos destaques do EP. O registo de voz de cabeça no pré-refrão rouba a atenção de qualquer um, destacando novamente o alcance e a habilidade vocal de Jorja Smith. A música emocionalmente potente volta a um tom mais sombrio e desejoso, olhando lamentavelmente para o tempo e esforço investidos no passado.

De um modo geral, Be Right Back configura um projeto remanescente mais que satisfatório até que o segundo álbum chegue até nós. Não é tão coeso e coerente quanto o álbum de estreia, mas também não era esse o real propósito. Especialmente em faixas como “Burn” e “Home”, vemos Jorja fazer aquilo que melhor sabe: entrega vocais fantásticos, melodicamente afinados com forte emoção, complementados por uma produção relaxante e agradável. Algumas das faixas não se enquadram no padrão de qualidade que foi estabelecido em Lost & Found, mas, o projeto permanece impressionante do início ao fim, e oferece alguns dos melhores temas R&B deste primeiro semestre de 2021.