O novo álbum de Salvador Sobral, bpm, saiu a 28 de maio. Este projeto, que conta com 13 novas faixas (e o prelúdio de uma), é cantado em três línguas e completamente composto pelo cantor. Perfeito para amantes de jazz e uma autêntica ode à boa cultura musical.
As primeiras ideias surgiram num retiro feito no Alentejo, mas bpm foi gravado no início do ano no Le Manoir de Léon. Neste projeto, Salvador Sobral pôde explorar a sua “artéria aorta” de compositor com a ajuda de Leo Aldrey, músico venezuelano. O nome do álbum remete-nos para o elemento principal que liga a música e a vida- os batimentos por minuto. Nove músicas em português, duas em espanhol e duas em inglês compõe esta nova identidade do artista. Um pouco de pop (mas não tanto como no seu Paris, Lisboa) e um camião de jazz, cheio de influências nacionais e internacionais, das quais posso destacar Bon Iver, Capitão Fausto e, provavelmente, até Jacob Collier, fazem deste projeto algo complexo e devastadoramente interessante.
Como sempre, a acompanhá-lo, temos o baterista Bruno Pedroso e o contrabaixista André Rosinha a fazer um trabalho melhor que nunca. Para além de Leo Aldrey enquanto produtor e teclista, adicionam-se, igualmente, André Santos na guitarra e Abe Rábade no piano. Este último é descrito por Salvador como “lírico, mas punk” e, depois de o ouvirmos, percebemos completamente a expressão. O conjunto de músicos de topo escolhidos a dedo por Salvador resulta num projeto exímio. Aliás, torna-se difícil destacar uma só música.
Enquanto “sangue do meu sangue”, o single lançado a 24 de março, é um turbilhão de emoções com uma letra que nos deixa a pensar, “fui ver meu amor” parece mais uma belíssima composição de piano onde, por acaso, Salvador também canta. “Medo de estimação” permite-nos ouvir um trabalho espetacular de bateria e um dos momentos mais louváveis do contra-baixo. Por outro lado, em “cancion vieja” o artista explora as sonoridades espanholas de uma forma refrescante e necessária entre temas mais pesados. Em “aplauso adentro”, ouvimos uma perfeita harmonia com a convidada Margarida Campelo e em “paint the town” um “coro de salvadores” com um efeito divertido.
A confiança depositada em Aldrey para a produção foi, definitivamente, uma das boas escolhas entre as muitas feitas na realização deste projeto. Nota-se, também, um grande crescimento em Salvador enquanto artista relativamente ao seu último álbum. No entanto, também é possível que a diferença notada seja mais devido ao facto de as letras serem da alma e autoria do artista. Ouvir bpm é emocionarmo-nos, divertirmo-nos e refletirmos, mas também é uma boa dose biográfica de uma parte mais densa da vida de Salvador.
Entre pop, jazz e mais uns quantos géneros misturados da forma mais harmoniosa imaginável, este é, sem dúvida, o melhor trabalho daquele que devia ser considerado o melhor artista português da atualidade. Deixa-nos, obviamente, ansiosos por mais. Contudo, creio que é preciso ouvir bpm mais algumas vezes para o perceber em toda a sua qualidade e complexidade.
Álbum: bpm
Artista: Salvador Sobral
Editora: Warner Music Spain S.L.
Data de lançamento: 28 de maio de 2021