De forma a assinalar esta data, o ComUM entrevistou três portadores desta condição e uma investigadora da área.
O Dia do Orgulho Autista comemora-se esta sexta-feira, dia 18 de Junho. Em entrevista ao ComUM, Jaime Machado, Sara Rocha e Rafael Marques contam como é viver com autismo. Apesar de já em tenra idade saberem da sua condição, foram, oficialmente, diagnosticados em idade adulta. Para Sara Rocha, receber este diagnóstico “foi, de certa forma, um alívio”, comenta. Para Rafael Marques foi, igualmente, “libertador”.
A diferença é algo que está presente nas pessoas com esta condição. “Sempre me senti como se toda a gente tivesse um manual que eu a algum ponto não recebi”, expressa Sara Rocha. “Há coisas que as outras pessoas têm mais facilidade e eu com mais dificuldade, mas também há coisas em que eu tenho grande facilidade e as outras pessoas não”, enuncia Jaime Machado.
A investigadora, Patrícia Monteiro, afirma também que “as pessoas com autismo podem também fazer coisas extraordinárias”. “Na diferença nem tudo é necessariamente mau”, conclui Jaime. Os entrevistados expõem a interação com outras pessoas como a sua maior dificuldade. “Um dos sintomas mais comum nas PEA, é a dificuldade na comunicação e interação social”, afirma a investigadora.
A discriminação também é algo que acompanha a vida destas pessoas. Tanto em criança como em adolescente, sentia-se “muitas vezes como se não fizesse parte do mundo deles [colegas da escola que o excluíam]”, relata Jaime Machado que também na faculdade foi vítima de bullying e alvo de rejeição, o que o impediu de concluir o curso. Também no trabalho as dificuldades estiveram presentes. Rafael Marques expõe o stress e cansaço que sentiu “por ter que mascarar o meu eu para poder me integrar”.
“As pessoas devem ter consciência da diferença”, expressa Jaime Machado. “Tem de ter a consciência de que nós, muitas vezes, fazemos o que fazemos não porque queremos, mas porque não sabemos fazer de outra forma”.
Sara Rocha sublinha ainda que as pessoas devem tomar consciência de que o autismo “não é uma doença, é uma condição que apenas com apoios e acomodações se consegue ter uma vida relativamente normal”. A investigadora revela que “seria importante as pessoas perceberem que podem ajudar no processo de integração social”. No que toca ao autismo em crianças, “ensinar a brincar e privilegiar atividades com princípio e fim definidos podem ser excelentes abordagens para uma inclusão plena e ativa em sociedade”.
O Dia do Orgulho Autista é, aos olhos de Sara, “uma celebração de autistas para autistas”. “Esta data foi desenhada e criada por um grupo com a intenção de celebrar quem somos, uma neurologia diferente que nos traz dificuldades, mas também muitas coisas boas”. Segundo a investigadora, “com esta data seria bom relembrar que ser diferente é ser único e insubstituível. Existem diferenças de raça, religião, género, mas também de funcionamento cerebral”. “O ser humano é justamente rico por existir em todas as formas, cores e feitios”, conclui.