Modalidade de futsal dos minhotos é exemplo claro dos problemas que assolam a formação desportiva em tempos de pandemia.
Com o surgimento da pandemia da Covid-19, os escalões de formação nos vários clubes portugueses foram obrigados a parar durante bastante tempo. Em muitos casos, isso afetou a estabilidade e até a sobrevivência de várias instituições desportivas, principalmente no que diz respeito aos desportos coletivos. Apesar da sua influência a nível nacional, a modalidade de futsal do SC Braga não foi exceção.
A equipa dos juniores A (sub-19) do clube minhoto esteve sem competir desde meados de março de 2020, regressando aos jogos no passado dia 19 de abril. Já os treinos pararam pela primeira vez em março do ano passado. Regressaram em outubro. Em novembro, com a chegada da terceira vaga pandémica, foram novamente suspensos, reiniciando em abril deste ano. Este vaivém de paragens e regressos prejudicou fortemente o desempenho deste conjunto.
Na chegada ao Pavilhão Desportivo da Universidade do Minho, percebemos de imediato que há cuidados que já foram interiorizados por todos os que o frequentam. No entanto, o decorrer de várias atividades desportivas dentro do vasto estabelecimento é inesperado e ao mesmo tempo estimulante, já que sabemos que há uns meses essa era uma realidade longínqua. Cá fora, a bola listrada de voleibol passa entre o cá e lá da rede, no ginásio decorre uma atividade onde a dança animada é convidativa e, no caminho para as bancadas da quadra principal, há uma salinha onde poucas pessoas equipadas com fardas brancas e cinturões de várias cores indicam que a modalidade praticada é o karaté.
Em dia de treino, os jovens jogadores, com idades entre os 17 e os 19 anos, chegam por volta das 18h45. O treino começa às 19 horas. Na entrada do estabelecimento desportivo é visível a preocupação com o cumprimento das normas de segurança, que estão assentes na porta de entrada. Todos os atletas desinfetam as mãos e têm colocada a máscara, mantendo-a até ao momento em que entram dentro das quatro linhas. Da bancada, sente-se o ânimo dos jovens, equipados com o vermelho e branco que tanto caracteriza o clube bracarense.
Momentos antes da bola rolar, o treinador Afonso Laranjo fala-nos dos problemas atuais que esta equipa do SC Braga enfrenta e das medidas que estão a ser tomadas para “tentar colmatar o tempo perdido”. O técnico refere ainda que uma das alterações mais importantes foi a maior participação do preparador físico nos treinos e a sua ajuda “no planeamento da semana de trabalho”. Qual o seu objetivo para o resto da temporada? “É dar aos miúdos ferramentas para recuperarem não só física como mentalmente.” O que foi mais prejudicial nesta paragem? “Pegar em miúdos no escalão júnior que eram iniciados da última vez que jogaram. Houve aqui um salto de escalão que eles não vivenciaram e isso nota-se muito.”
Pedro Nunes, atleta de 17 anos que ingressou este ano no clube arsenalista, revela-nos, ainda no pré-treino, que a interrupção afetou o desempenho e a formação de todos. Destaca também que na sua posição de guarda-redes é necessário um maior exercício da flexibilidade que “não se adequa tanto ao treino feito em casa”. Para o jogador do clube minhoto, a falta de público nas bancadas durante os jogos é um fator de desmotivação, pois sabe que o apoio está sempre muito presente.
Esta situação dos adeptos não preocupa tanto o treinador que diz não ser prejudicial para a prestação da equipa. Porém, o técnico de 24 anos reconhece que esse quadro afeta o emocional dos jovens atletas que “gostam de ter os pais e os amigos a assistir”. Os jogadores que chegaram a Braga recentemente sentem com mais intensidade essa mudança, visto que necessitam de um maior amparo para dar entrada nesta nova fase desportiva.
Embora haja aqui uma sensação próxima de normalidade, há consequências inevitáveis que se vão repercutir no futuro dos atletas. Joel Pereira, vice-presidente e diretor das modalidades do SC Braga, afirma que os “sucessivos confinamentos atrapalharam muito a vertente formativa”, referindo com convicção que os escalões mais jovens foram os que mais sentiram na pele esses efeitos. Adianta ainda que “vai haver grandes constrangimentos no futuro”, já que a longa paragem levou os escalões de formação a sofrerem uma perda de 15 a 20% dos atletas. Segundo o responsável pelas modalidades, criou-se também uma desabituação dos pais e dos jovens relativamente à prática desportiva, o que pode tornar a situação mais alarmante.
Às 19 horas, os jovens entram para dar início ao treino. Depois de um aquecimento rápido, a bola passa a ser a protagonista dentro do campo principal do pavilhão. No decorrer do treino, a realidade pandémica em que vivemos fica, de certa forma, em segundo plano, pois os atletas aparentam estar concentrados apenas no desporto. Notamos que pode ter havido uma certa adaptação dos exercícios iniciais, para que o distanciamento social permaneça durante mais tempo. Mas é impossível evitar o contacto físico na prática de um desporto como o futsal. Por isso, as medidas de prevenção são, essencialmente, tomadas antes e depois da hora do treino.
Apesar de tudo, o diretor das modalidades mostra-se otimista quanto ao futuro do clube. É notável uma valorização do papel do desporto na vida dos mais novos. “Os pais têm o objetivo de colocar os filhos a praticar desporto e nós temos sido muito solicitados no clube em diferentes modalidades”. Ainda assim, é necessário “haver uma maior promoção e voltar a cativar os jovens que foram desistindo pelo caminho”.
Durante a hora em que vemos fintas sucessivas, passes teleguiados e defesas extraordinárias, a felicidade e a excitação dos jovens jogadores são palpáveis. E essas emoções adquirem um caráter ainda mais nítido quando o esférico bate nas redes da baliza. Seguem-se pequenos festejos que tornam notória a satisfação dos rapazes, que durante tanto tempo foram impedidos de praticar a modalidade de que tanto gostam. Quanto à vacinação, o vice-presidente do clube centenário espera que esta “continue a decorrer da melhor forma e que cedo chegue às camadas mais jovens para que consigamos voltar à normalidade”.
Artigo por Andreia Morais e Cláudia Araújo