Instinto foi lançado em abril e trata-se da estreia de Ashley Audrain no mundo literário. Não sendo nenhum livro espetacular nem estando espetacularmente bem escrito, faz-nos refletir profundamento e tira-nos umas boas horas de sono. Promete, portanto, ser uma ótima companhia para levar para a praia.

Blythe Connor está determinada a ser a mãe que nunca possuiu. Originária de uma família com um historial de abandono e negligência maternas, ela quer inverter a situação e dar à filha Violet todo o amor que ela merece. No entanto, a criança parece rejeitá-la e trata-a mal. Com o nascimento do segundo filho, tudo parece acalmar, mas um acontecimento muda o rumo da vida desta família, principalmente desta mãe.

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O grande fio condutor e mistério da obra é perceber se é Blythe que, tal como as suas antepassadas não tem qualquer instinto maternal, ou se o problema é Violet. Porque a verdade é que, na maternidade e na vida no geral, nem tudo é o que parece.

Pela voz da protagonista, através de capítulos curtos, que nem sempre acrescentam algo de relevante à história, somos guiados pela sua vivência enquanto mãe e todas as dúvidas inerentes a este papel. Além disso, assistimos à relação tóxica existente entre mãe e filha, contrastando com a que Violet tem com o pai. Da mesma forma, o leitor assiste exatamente o contrário com o nascimento de Sam. E são estas incongruências, somadas ao historial familiar de Blythe e à descrença do seu marido, Fox, que nos levam a duvidar. Faz-nos duvidar se Blythe está mesmo louca ou se existe de facto um problema com Violet. Por outro lado, pensamos que, se a criança tem realmente um problema, porque é que só a mãe o consegue detetar.

Mais que um thriller, Instinto é um tsunami emocional que, além de nos mostrar o outro lado da maternidade que não é o fofinho e cor-de-rosa, expõe de forma crua emoções e situações pelas quais ninguém deseja passar. É, no fundo, assim um drama familiar com algum mistério, no qual este último assume um papel quase secundário.