Para marcar o Dia Internacional do Surf, celebrado este sábado, o ComUM esteve à conversa com a primeira escola de surf e bodyboard do país – o Surf Clube de Viana. Situado na Praia do Cabedelo, a influência do clube não se limita a Viana do Castelo nem só à modalidade.
Fundado em 1989, um ano antes da própria Federação Portuguesa de Surf, o clube passou por caminhos desafiantes, mas nunca pôs de parte a componente da inovação. O presidente do clube, João Zamith, conta-nos que “o berço da federação foi o clube”. Entre outros projetos, o surf adaptado é uma das apostas, assim como outras iniciativas de ação social.
A limpeza das praias e a venda de aulas para apoiar crianças em S. Tomé e Príncipe são alguns dos mais variados exemplos. “Nós temos o papel de clube e uma ação social muito grande e tentamos incluir pessoas com deficiência e economicamente excluídas”, acrescenta o diretor. Além disto, as restrições de idade são quase inexistentes, sendo que contam com alunos dos três aos 75 anos.
Manuel Madruga e Mariana Palma são dois atletas do clube. Com 13 e 12 anos, respetivamente, o sonho de se tornarem profissionais de surf vive na mente dos jovens. O gosto pela modalidade surgiu recentemente para ambos, mas a regularidade dos treinos tem vindo a aumentar, assim como a paixão pelo mar.
Para Manuel, que começou no bodyboard, o interesse por levantar-se na prancha fez com que experimentasse o surf. Depois disso, não voltou atrás. Mesmo com uma referência num desporto de pavilhão, já que é filho de Hugo Madruga, ex-treinador de voleibol, o jovem preferiu o ar livre e já pratica surf há três anos.
Com brilho nos olhos, Manuel confessa que gostava de competir a alto nível e, apesar de não saber se quer viver do surf, é uma hipótese que não exclui. Embora treine cinco vezes por semana, “é fácil gerir estudos e surf, porque o clube aproveita as nossas manhãs ou tardes livres para virmos surfar”, considera.
Atualmente, o surf surge como uma das modalidades obrigatórias em Educação Física em algumas escolas do país. No caso de Mariana, que apenas pratica surf há um ano, o primeiro contacto com a modalidade foi feito através da escola. “No Surf Clube de Viana gosto do espaço – é grande e podemos estar sempre à vontade com os treinadores e nossos amigos”, realça a jovem, que vê no convívio um dos fatores mais importantes para praticar a modalidade.
Mas nem tudo é um mar de rosas. Em tom de brincadeira, Manuel recorda um dos sustos que já apanhou enquanto surfava com um colega. Ainda há pouco tinha entrado para o escalão regular II e levou com uma onda que o deixou bastante tempo debaixo de água. Apesar de não ter passado de um sobressalto, a memória ainda está fresca na sua cabeça.
Com o confinamento, alunos e treinadores deixaram de ter contato físico e de poder ir para água. No entanto, o clube fez um esforço para manter os escalões de formação ativos, o que resultou já que não tiveram desistências. Para o treinador Gonçalo Cruz, de 28 anos, o programa e-COACHING foi um “desafio interessante”. Entre complementação física e padrões motores, a parte teórica das manobras foi no que mais apostaram enquanto estavam em regime não presencial. “Fizemos várias atividades para os alunos se manterem conectados e tivemos uma muito boa adesão”.
No regresso à praia, a 5 de abril, viveu-se um momento de celebração por voltarem à água. Contudo, o treinador não vê os meses em que estiveram confinados como desperdício de tempo. Há 10 anos no clube, Gonçalo Cruz diz-nos que, enquanto treinador, já aprendeu bastante e acredita que, além de ter as competências técnicas, é essencial compreender que cada aluno é diferente e precisa de um acompanhamento personalizado.
Contrariamente aos outros desportos, o surf tem a particularidade de ser muito inconstante. No entanto, Gonçalo conta-nos o segredo: capacidade de adaptação – à praia, aos atletas e ao meio natural envolvente. Além disso, o treinador considera fundamental haver uma metodologia de trabalho.
Sempre com uma visão de atrair mais atletas, o clube realiza programas de captação para os mais novos, mas não descarta outras faixas etárias. O novo programa de surf para idosos pretende alargar o alcance do surf em idades mais avançadas, quebrando alguns tabus e tornar-se uma boa alternativa a espaços fechados, como ginásios. “Aqui no clube ensinamos surf a basicamente toda a gente”, conclui Gonçalo.
Artigo: Sofia Carneiro e Mariana Areal