Realizado por Christopher Nolan, Memento estreou em 2000. Pelo conteúdo sensível, o filme é classificado como rated R. Assim, a longa-metragem enquadra-se nos géneros drama, suspense, mistério e thriller. A obra cinematográfica relembra o espetador das formas cruas e manipulativas com que as pessoas agem em sociedade umas com as outras, de uma forma ainda mais macabra.
A história narra-nos o dia a dia de Leonard Shelby (Guy Pearce), um homem com perda de memória de curto-prazo. Shelby, igualmente conhecido por Lenny, procura o homem que violou e matou a sua esposa. Contudo, mesmo que seja capaz de se lembrar de detalhes da sua vida, antes do assassino, Leonard não consegue lembrar-se do que acabou de acontecer nos últimos quinze minutos. Por exemplo, Lenny tem dificuldade em lembrar-se para onde se está a dirigir ou, mais importante ainda, qual é a razão.
Como solução, Lenny deixa indicações para si mesmo, em forma de polaroids, bilhetes e até chega ao ponto de fazer tatuagens, caso algo seja mesmo importante e não possa ser esquecido. Uma das mais arrepiantes é a tatuagem que se encontra no peito “JOHN G. RAPED AND MURDERED MY WIFE”. A frase não só se localiza num sítio estratégico como está escrita ao contrário, para que Lenny possa absorver a informação mal se veja ao espelho. O protagonista diz que é esta força de vontade que o faz seguir com a vida, mesmo que não se lembre dela.
Sendo Lenny a personagem principal, o enredo principal é referente à sua história, assim como é o seu ponto de vista o privilegiado. No entanto, existem outros enredos secundários igualmente importantes: a história de Sammy (Stephen Tobolowsky) e a intervenção de Natalie (Carrie-Anne Moss).
A narrativa de Sammy diferencia-se da das outras duas personagens pelos acontecimentos não terem sido maioritariamente filmados, mas sim apresentados por palavras. Deste modo, nestas cenas, vemos Sammy numa conversa ao telefone e pelo rumo desta, dá para entender algumas das questões que a pessoa que se encontra do outro lado da linha possa ter perguntado. Porém, todo o tipo de informação é transmitido pelo protagonista. Fica-se a saber que Sammy sofre da mesma doença que Lenny, mas enquanto que Sammy não consegue reagir, encontrando-se num estado de apatia permanente, o protagonista cria o seu próprio sistema de comunicação, procurando seguir com a sua vida dentro do possível. Consequentemente, é graças a Sammy que Leonard se inspira e desenvolve formas para superar a sua condição. Tem, inclusive, tatuado na sua mão esquerda “REMEMBER SAMMY JANKIS”.
Por outro lado, Natalie traz à história uma nova perspetiva. A personagem instala, ainda mais, a dúvida de quem seja o verdadeiro culpado do assassino da esposa de Lenny, isto porque Memento se inicia, exatamente, com a cena final da obra. Nesta cena, com lugar num barracão abandonado, estão presentes Lenny e um homem chamado Teddy (Joe Pantoliano) e o primeiro tem o objetivo de assassinar o segundo, pois pensa que foi ele quem matou a mulher de Lenny. A sede de vingar o amor da sua vida e de apenas confiar nos seus próprios apontamentos, levo-o a disparar o gatilho.
Apesar de Natalie só aparecer mais tarde no filme, tem um destaque particularmente importante pois levanta a questão de que aquele pode não ser o homem que Leonard procura. No entanto, por saber que o protagonista não se vai lembrar de nada, Natalie utiliza isso a seu favor e manipula-o. Ambos procuram vingança, mas a diferença é que Natalie tem o poder de não só alterar a vida do protagonista como também a história da longa-metragem, de modo a obter o que pretende.
Em termos técnicos, para além do dinamismo que a câmara oferece, é de destacar a escolha e a utilização das cores. A história é contada de uma forma não-linear, com vazios e saltos temporais que aproximam a audiência do estado de confusão mental do próprio protagonista. No entanto, é possível perceber uma lógica na forma como os factos vão sendo apresentados e a cor utlizada ajuda nesse entendimento. As cenas a cores começam com uma morte e contam a narrativa do fim para o princípio (em ordem cronológica inversa). Por sua vez, as cenas a preto e branco surgem na ordem cronológica, ou seja, os eventos são mostrados na sequência em que aconteceram.
Ironicamente, na maior parte das longas-metragens, as cenas a preto e branco surgem como recurso a lembranças ou a cenas do passado. Nesta produção, isso também acontece para a explicação da história de Sammy. Contudo, no global do filme, as cenas a cores representam o passado e as monocromáticas simbolizam o tempo presente.
Em suma, Memento tornou-se num ícone de referência do cinema contemporâneo. A longa-metragem provou que uma narrativa cinematográfica não precisa de seguir obrigatoriamente a estrutura básica dos três atos nem de grandes espetáculos, como bombas, explosões e outros tipos de elementos característicos de filmes de ação. Apenas é necessário que se desenvolvam ideias criativas, que bem trabalhadas criam enredos especiais e absolutamente surpreendentes. Desde o início, o espetador é preparado para um filme com uma gestão de informação, do suspense e do mistério. Além disso, é conduzido para uma narrativa em que o tempo será confuso, fragmentado e, por vezes, até caótico. Isto é, uma analogia para a mente do protagonista.
Título Original: Memento
Realização: Christopher Nolan
Argumento: Christopher Nolan, Jonnathan Nolan
Elenco: Guy Pearce, Carrie-Anne Moss e Joe Pantoliano
EUA
2000