A lista C rege-se pelo mote "Dos alunos para os alunos".
Está a decorrer a campanha eleitoral para o Senado Académico da Universidade do Minho. Existem três listas candidatas à representação dos estudantes. Jéssica Valente, aluna do 2º ano de Direito e candidata pela lista C ao Senado Académico, conversou com o ComUM sobre o propósito da sua lista.
ComUM – A lista C autoproclama-se como uma lista “Dos alunos para os alunos”, qual a origem deste vosso slogan?
Jéssica Valente – Em primeiro lugar, existe uma falta de contato direto com os estudantes na Universidade do Minho, pois os estudantes não sabem quais são os órgãos que os representam, o que são e para que servem, portanto, nós somos uma lista que promove esse contato direto com os estudantes. Não o fazemos através de inquéritos nem de recolhas de dados, nós sentamo-nos com os estudantes à mesa e falamos diretamente com eles.
Nós somos um grupo de estudantes com percursos diferentes e que sente, na pele, as dificuldades que a maioria dos estudantes sentem. Por isso, sentimo-nos na obrigação e com a vontade de mudar o rumo da Universidade do Minho que sabemos que está marcada pela falta de resposta aos verdadeiros interesses dos estudantes.
ComUM – Quais são as principais motivações que te levam a concorrer para o Senado Académico?
Jéssica Valente – Nós reconhecemos a realidade do ensino superior e as suas insuficiências e estamos inseridos na realidade concreta que é ser estudante numa academia que tem dificuldades e obstáculos. Deste modo, pretendemos utilizar todos os meios que estão ao nosso alcance para promover uma discussão sobre o ensino superior e sobre a Universidade do Minho. Isto é o que nos falta bastante, porque os direitos discutem-se e defendem-se e o papel da lista C é dar voz aos interesses dos estudantes e àquilo que realmente eles precisam para continuar a sua formação de forma tranquila e ver os seus direitos alicerçados nas múltiplas ações que nós poderemos por em prática.
ComUM – O que difere a lista C das outras listas?
Jéssica Valente – Em primeiro lugar, a lista C não é uma lista de continuidade. Se falarmos em mudança, vamos realmente fazer uma reviravolta daquilo que tem sido até então a universidade. A lista C diferencia-se pelo contato direto com os estudantes e defende o fim da propina em todos os ciclos incondicionalmente e não apenas uma redução do seu custo. A Constituição prevê um ensino superior tendencialmente gratuito e é algo que não se verifica atualmente e que se torna num entrave para a entrada dos jovens no ensino superior.
Este movimento, “Dos alunos para os alunos”, enfrenta uma grande batalha eleitoral que passa muito pela luta diária pelos direitos dos estudantes da academia. Existe ainda uma reitoria burocrática que continua a abafar a nossa voz. A nossa lista defende criticamente os direitos dos estudantes e quer pô-los em prática.
Somos ainda contra o regime fundacional, porque a conversão do estatuto da Universidade do Minho, de um estabelecimento de ensino superior público para uma universidade fundação, surge no contexto de sucessivos desinvestimentos no ensino superior e apresenta-se como uma proposta que permite fazer cortes ao financiamento do ensino, transparecendo, no entanto, uma ideia de maior autonomia, gestão mais flexível e melhores condições. No fundo, um ensino superior belo onde não existem dificuldades. No entanto, este modelo híbrido financiado em 50 por cento pelo Estado e 50 por cento pelo setor privado, não é nada mais do que uma manifestação crescente da mercantilização do ensino superior, contribuindo para uma promiscuidade entre a missão pública do ensino superior e os interesses privados. É importante falar com os estudantes e explicar-lhes isto, porque a maior parte deles só conhece este regime e o mesmo acontece com o processo de Bolonha. Temos que contribuir para uma efetiva defesa dos interesses dos estudantes e cumprir o papel Público do que é o ensino superior.
Além disso, a lista C tem também uma forte preocupação para com os estudantes internacionais e os seus direitos. Ao passo que um estudante Nacional paga 70 euros por mês de propina, um estudante Internacional paga muito mais, tendo uma propina anual de cerca de 6000 euros. Para nós, o estatuto de estudante Internacional é enquadrado numa estratégia de internacionalização do ensino superior português, e objetifica a criação de condições legais e adequadas para a receção de estudantes estrangeiros. Quando a lista defende que o fim da propina é crucial, referimo-nos a todos os estudantes sem distinção da sua condição.
ComUM – A que aspetos a lista C vai dar mais importância, tendo em conta as necessidades da UMinho?
Jéssica Valente – A Universidade do Minho precisa de muita coisa neste momento, por isso, é tudo importante e urgente: o direito de acesso ao ensino superior, melhores condições, mais ação social, o fim da propina incondicional a todos os ciclos de estudos, etc.
A questão do Processo de Bolonha é também um problema raiz. É a única forma de organização do ensino superior que os estudantes conhecem e que veio trazer a degradação da pedagogia além de aumentar a discrepância do financiamento entre áreas do ensino e investigação. Sabemos que, na Universidade do Minho, há problemas em investigação. Os investigadores da universidade vivem em situações precárias e vêm os seus direitos a afundarem-se. O Processo de Bolonha veio com a falsa premissa de igualar o ensino dentro da União Europeia, mas o que mais de verdadeiro se sentiu com este processo foram as sucessivas supressões dos conteúdos de aprendizagem. É importante a restruturação dos métodos de avaliação.
Também os alunos têm uma pressão enorme em fazer a licenciatura. Estamos num stress imenso para terminar os estudos dada às várias preocupações e aos vários problemas da universidade. Este é um problema que vem muito antes da pandemia e não é nada saudável para o nosso psicológico e consequentemente para o nosso físico.
ComUM – O que achas que leva a comunidade académica a votar na lista que representas?
Jéssica Valente – O que leva um estudante a votar na nossa lista é o facto de realmente falarmos com as pessoas frente a frente, e abordá-las sobre os seus problemas e o que sentem relativamente à universidade, bem como as suas dificuldades em aceder e manter-se no ensino superior. Não somos um grupo de pessoas elitistas, preocupados apenas com a recolha dos problemas para que pareça bem. Somos efetivamente pessoas que tem problemas e “sentimos na pele” tudo aquilo que a comunidade estudantil e os 20000 alunos da Universidade do Minho sentem. Portanto, os alunos identificam-se com uma lista que os representa, que representa a realidade que é o ensino superior neste momento, em Portugal e especificamente na Universidade do Minho.
Posto isto, sentimos que a comunidade académica olha para nós e vê realmente que queremos saber o que os estudantes pensam e as suas dificuldades e problemas, procurando solucioná-los. É a altura perfeita para mudar. A continuidade não é a solução. Há que lutar pelos direitos dos estudantes e pela discussão do ensino superior e ir ao encontro dos interesses dos estudantes.
ComUM – Como achas que vão correr estas eleições no que toca ao voto dos estudantes?
Jéssica Valente – Considero que o voto exclusivo online deveria ser também presencial. Associado a isto, menciono também a questão do tempo letivo em que decorrem estas eleições: o ano letivo já se deu por terminado e as férias letivas já se iniciaram e os estudantes estão, naturalmente, mais afastados do ambiente académico. Temos um período de quase 10 meses para se realizarem as eleições e, do nosso ponto de vista, não é correto que se faça umas eleições fora desse período, quando os alunos já se encontram em descanso e com as suas famílias.
Por isso, a falta de conhecimento dos estudantes também se deve ao facto de a universidade esconder ou tentar esconder as eleições aos órgãos que os representam, pelo menos é o que se demonstra. Porque já se sabe do desconhecimento geral que existe sobre a representatividade estudantil dentro da universidade, a questão é saber se realmente a própria universidade está interessada em dar a conhecer aos alunos quais são os órgãos que os representam e desmistificar o padrão de uma reitoria burocrática que nos envolve a todos. Daí também existe a necessidade urgente de quebrar este padrão de afastamento, sendo o nosso lema parte daquilo que queremos para a academia minhota.
Artigo escrito por: Francisco Paiva e Maria Francisca Barros