A Lista B rege-se pelo mote "A Voz da Academia".
A propósito da campanha eleitoral para o Senado Académico da Universidade do Minho, o ComUM esteve à conversa com Joana Fraga, estudante do terceiro ano de Engenharia de Gestão Industrial, que clarificou a proposta e a visão da Lista B.
ComUM – O que motivou esta candidatura?
Joana Fraga – Quando entrei para o núcleo [Núcleo de estudantes de MIEGI], comecei a deparar-me com problemas que até então não tinha sentido. De repente, sou eleita para representar todos os alunos do curso, o que potenciou reuniões com a comissão de curso, o diretor de curso, a direção do departamento, a associação académica e até a Câmara. Efetivamente, tive de lidar com problemas sobre os quais nunca me tinha debruçado. Isto cresceu exponencialmente no momento em que estive envolvida numa campanha para o conselho de escola a que pertenço [Escola de Engenharia]. Isto alargou o meu círculo – deixei de não só falar com os estudantes de MIEGI, como comecei a falar com todos os estudantes da Escola de Engenharia. Recentemente, fui ainda mandatária da Lista A para o Conselho Geral e aí fiquei a par de conteúdos com os quais nunca me tinha cruzado, tendo ficado bastante sensibilizada para várias situações.
Por outro lado, é costume dizer-se que “Deus dá nozes a quem não tem dentes”, mas também dá nozes a quem tem dentes. E a oportunidade de colocar seis estudantes a representar outros estudantes, fazendo ouvir a sua voz e levando os assuntos que são necessárias levar lá [para o Senado Académico] é algo que me motiva. Eu acredito, portanto, que tenho “dentes para nozes” e tive que aproveitar a oportunidade neste sentido.
ComUM – A campanha eleitoral para o Senado Académico da Universidade do Minho iniciou-se esta terça-feira, dia 20 de julho. Quais foram as campanhas desenvolvidas até agora e quais as que se irão realizar nos próximos dias?
Joana Fraga – O objetivo foi dar a conhecer a lista e os seus princípios, sobre os quais assentamos a nossa campanha. Temos tentado explicar o que é o senado, porque eu acho que o principal problema do senado atualmente é a falta de transparência. É muito difícil encontrar informação sobre o que acontece lá dentro. Existe um despacho no email institucional, mas não uma ata pública. Não funciona da mesma forma que o Conselho Geral, por exemplo, em que algumas reuniões são gravadas e transmitidas. Queremos então explicar, portanto, qual é o potencial do senado, porque muita gente não sabe. Queremos ainda apresentar a equipa de trabalho e vamos partilhar o manifesto, na sua íntegra.
Tenho de admitir que a altura em que estas eleições acontecem não é propriamente a melhor para a adesão dos alunos. As pessoas estão de férias e mais desligadas, o que é normal. Assim, procuramos ter um extra cuidado com as eleições, de modo a sensibilizarmos a comunidade académica para o que está a acontecer.
ComUM – De que forma pretendem implementar, caso sejam eleitos, os princípios enunciados na Carta de Princípios da lista?
Joana Fraga – Os princípios são a base do nosso trabalho – são os nossos valores que temos enquanto pessoas e enquanto lista para efetivamente conseguirmos chegar a algum lado. Há duas grandes prioridades na nossa lista, nas quais vamos focar a nossa atenção imediata, caso sejamos eleitos para o Senado Académico. Tem a ver, em primeiro lugar, com a saúde mental, um tema que continua a ser tabu. Ainda não é comum ou confortável dizer “vou ali a uma consulta com a psicóloga”. Há pessoas que não vão por terem medo de serem estigmatizadas.
A entrada no ensino superior é caracterizada por vários momentos e fatores que aumentam os níveis de stress, como por exemplo a saída de casa e o trabalho que temos de fazer para corresponder às expectativas dos familiares ou às próprias expectativas. Estamos num ambiente de muita competitividade, aliado ainda a um método de ensino que não é o melhor. Todos estes fatores comprometem a saúde mental e podem constituir o primeiro passo para o abandono escolar, o que nos preocupa não só pelo mau estar das pessoas, mas também porque pode influenciar direta ou indiretamente o futuro dos estudantes.
Em segundo lugar, queremos trabalhar com a ação social e com as bolsas de estudo. Tem de parar de existir uma barreira socioeconómica na entrada para a universidade. Temos uma posição que é a favor da redução generalizada dos custos do ensino superior e que diz respeito não só às propinas, mas também ao alojamento e ao transporte, entre outros. Queremos também que a bolsa seja processada mais cedo. É normal que seja necessária uma avaliação cuidadosa e burocrática, porque estamos a atribuir dinheiro que é de todos a uma pessoa. No entanto, este processo precisa de ser acelerado.
Quanto ao método, pretendemos, no final de cada reunião do senado, fazer um breve resumo sobre o que foi discutido e tornar isso público, por exemplo nas nossas redes sociais que foram criadas durante a campanha. Se conseguirmos que o senado seja mais transparente, então vai ser mais fácil e não teremos de fazer tudo sozinhos. De qualquer das maneiras, queremos garantir que as informações que dizem respeito aos estudantes chegam aos estudantes.
Uma outra característica da nossa lista tem a ver com a constituição da mesma – cerca 90% da nossa lista são presidentes de núcleos. Foi uma decisão estratégica na medida em que são pessoas que já foram eleitas por estudantes do mesmo curso para as representar. Isto permite uma maior capacidade de auscultação junto dos alunos.
ComUM – Quais são os problemas da comunidade académica que a lista B considera serem prioritários a resolver?
Joana Fraga – O senado académico é um órgão consultivo, por isso tem algumas limitações. Assim, o que pretendemos é levar os assuntos para a discussão, de modo a que seja feita alguma coisa nesse sentido. Queremos perceber quais são as necessidades dos alunos. Por exemplo, as residências universitárias precisam de ser urgentemente renovadas e é preciso a construção de mais, porque não existem quartos suficientes para os alunos. Por outro lado, os quartos que existem não têm as condições necessárias – são quartos pequenos, duplos e têm um grande problema de conexão à Internet. Esta questão torna-se ainda mais relevante em contexto pandémico.
A relação entre os campi e o contacto com o mundo empresarial também precisam de ser analisados. Só conseguimos ganhar experiência se estivermos de facto no terreno, numa empresa ou numa fábrica. Assim, se houver uma relação com o mundo empresarial, nós conseguimos consolidar melhor os conhecimentos, transformando os conteúdos teóricos em algo prático. Temos ainda de continuar uma boa rede com os Alumni, que eu considero serem uma marca da universidade.
Relativamente às propinas, acredito que descer o valor das mesmas é algo muito positivo. No entanto, apenas desceram as propinas do primeiro ciclo e agora com o terminar dos mestrados integrados, muitos alunos vão ver-se obrigados a pagar propinas com valores muito mais elevados de modo a continuar com os estudos. Houve ainda uma consequência ao nível das bolsas – o valor das bolsas do segundo ciclo é ditado pelo valor das propinas do primeiro ciclo. Assim, temos uma bolsa que responde aos problemas do primeiro ciclo, mas que não responde às necessidades do segundo ciclo. Assim, ou se muda o valor das propinas do segundo ciclo ou se muda o valor das bolsas.
ComUM – O que distingue a lista B das restantes?
Joana Fraga – Em primeiro lugar, a questão de existirem vários presidentes dos núcleos a integrar a lista. Não tem a ver com elitismo, mas com uma capacidade de auscultação mais próxima. Isto permite que eu consiga estar a par da realidade de cada curso. Uma das formas mais fáceis de chegar aos alunos é lançar no núcleo iniciativas que permitam aos alunos expor os seus problemas.
Outra questão tem a ver com a nossa representatividade e com a diversidade da equipa. Nós fizemos questão de selecionar e colocar na lista alunos de todos os campi logo nos primeiros seis lugares, que são precisamente os lugares que efetivam como representantes dos alunos no Senado Académico. Assim, essas quatro pessoas de cada campi permitem que seja mais fácil perceber o que está a acontecer em cada um deles. As pessoas podem ver a representatividade feita pelos presidentes dos núcleos chegar mais longe – chegar diretamente ao Senado Académico.
Temos ainda alunos internacionais, sendo o principal objetivo conhecer a maior parte das realidades para conseguirmos efetivamente levar a voz da academia ao senado. Isto consegue-se com pessoas que estão efetivamente mais próximas, que conseguem encontrar esse momento de partilha de informações.
ComUM – A abstenção, bastante presente em atos eleitorais passados, poderá constituir um entrave nestas eleições?
Joana Fraga – Eu acho que mais do que prejudicar uma lista em concreto, vai prejudicar as três listas. Nós temos de perceber que somos candidatos aos representantes dos alunos no Senado Académico. Quer sejamos da lista B ou da A ou da C, somos todos estudantes e são aqueles lugares que queremos aproveitar para fazer ouvir a voz dos estudantes.
Nesse sentido, haver abstenção ou pouca importância em relação a este ato eleitoral faz com que a decisão para eleger quem nos vai representar seja colocada na mão de outros. Vai efetivamente prejudicar todos os alunos da universidade, porque todos os alunos da universidade vão ser representados por esses seis alunos no senado. Depois, o que pode acontecer é que os alunos estão distraídos e desligados e, por isso, podem não ter a informação necessária para tomar uma decisão ponderada. As pessoas, por estarem desligadas, não leem o manifesto ou a carta de princípios e assim não sabem bem o que as pessoas em quem estão a votar vão, de facto, fazer.
Artigo escrito por: Catarina Roque e Joana Oliveira