A obra cinematográfica Oxigénio, um filme de ficção científica acompanhado por terror psicológico, estreou na Netflix a 12 de maio de 2021. Desta forma, trata-se de uma obra de quase duas horas dentro de uma cápsula, com apenas uma personagem, Liz (Mélanie Laurent), o que poderia ter sido um erro. No entanto, não foi isso que aconteceu. A longa-metragem revela-se dinâmica, cheia de suspense e com uma imagem excecional.

A produção tem início com uma coloração interessante e misteriosa ao observar-se frações a preto e frações daquilo que está realmente a acontecer: visualiza-se um corpo a tentar escapar de um local indecifrável. Assim, acaba por se prender o público nos primeiros minutos. A narrativa decorre dentro de uma cápsula, onde uma mulher, Liz, não tem memória de quem é, e nem sabe onde está. Liz tem apenas consigo a inteligência artificial MILO, com a qual tenta negociar, obtendo informações. Através disso, vai desbloqueando algumas memórias.

Para aumentar toda a ansiedade já existente, os níveis de oxigénio da personagem vão baixando gradualmente, diminuindo as esperanças de sobrevivência. Deste modo, o suspense tende a aumentar com o decorrer do filme, e a intensidade da história cresce de forma exponencial.

Há um dinamismo entre a angústia e o stress acusados pela clausura, as memórias que vão surgindo à protagonista e a tentativa de acalmar e de arranjar soluções para escapar. Após os primeiros segundos de pânico ao acordar, Liz começa a tentar manter a calma, e convence-se de que está a salvo, começando a tentar encontrar formas para escapar.

Com isto, soluciona pequenos problemas, através de MILO. No entanto, a obra cinematográfica desilude um pouco na medida em que há vários problemas resolvidos de forma simplificada, quando a intensidade dos mesmos pedia soluções grandiosas. Isto é, como a intensidade do filme e a tensão aumentam tão amplamente, a maneira simples como alguns momentos são ultrapassados quebra um pouco essa mesma intensidade.

O espaço acompanhado da respiração ofegante traz ao espectador a sensação de prisão corporal e de espaço cada vez mais pequeno e desconfortável. Faz-nos faz viver o próprio filme e é possível vivenciar a situação com a atriz. O realizador consegue brincar bem com o espaço pequeno que tem, evidenciando tanto a falta angustiante de espaço, como a solidão da pessoa. A imagem muito específica e bastante perturbadora confere também o realismo necessário à obra.

A banda sonora contribui imenso para todo o contexto de tensão. Não há músicas com letra, aquilo que existe é a criação de um ambiente sonoro com sequências musicais, que acompanham cada momento de forma pormenorizada. Aliam-se a isso momentos de silêncio por parte do ambiente sonoro, que criam uma ansiedade ainda maior ao relacionarem-se com os restantes momentos de sequência musical.

A atriz Melánie Laurent faz um papel absolutamente brilhante, atingindo um realismo de realçar. Laurent consegue criar um equilíbrio evidente entre o desespero, o choro e a necessidade de se manter tranquila para solucionar o problema. Há um intercalar perfeitamente natural, face à situação, entre a sanidade mental da pessoa e as alucinações aliadas a memórias que vão surgindo.

Em suma, o balanço é positivo: é de realçar o terror corporal e psicológico, que é muito perturbador durante quase todo o filme. As sensações corporais que o espectador tem durante o filme afetam diretamente o psicológico, mexendo com qualquer pessoa. A obra ganha pelos plot twists, que fazem a história ir-se encaixando aos poucos, atingindo um desfecho totalmente inesperado, mas brilhante.