A necessidade e a importância da implementação das máquinas de higiene íntima ficaram explícita no questionário, onde 94% das pessoas considerou relevante a adoção destas máquinas.
A atual direção do HeforShe UMinho tem como enfoque um projeto de implementação de máquinas de higiene íntima nos campi da universidade. Para que este objetivo seja alcançado, elaborou um questionário junto da comunidade académica de forma a perceber as necessidades da mesma relativamente à temática.
Após a obtenção e análise dos resultados, o movimento entregou o estudo feito à reitoria da UMinho de forma que exista a possibilidade de implementação das máquinas de higiene íntima. O ComUM conversou com Sara Manuela, Joana Fernandes e Taynã Noschese, membros do HeforShe Uminho e responsáveis pelo documento em questão, para esclarecer e perceber o impacto do questionário realizado e em que medida é que a aprovação do projeto seria um veículo para o combate a tabus.
“Se for aceite significa que a Universidade do Minho está realmente preocupada com este assunto da saúde feminina e que está a promover a igualdade de género”
Sara Manuela
No que toca ao sentimento de dever cumprido, Sara Manuela explica que o sucedido é de grande relevância. Na eventualidade de a implementação das máquinas de higiene íntima ser aceite, será uma forma de lutar pela igualdade de género e fará com que a Universidade do Minho se torne pioneira em ações como esta. “Se for aceite significa que a universidade do Minho realmente está preocupada com este assunto da saúde feminina e que está a promover a igualdade de género”, explica.
A mesma revela ainda que a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) já se encontra a tentar pôr o projeto em causa, mas que este será no espaço Recurso. Segundo Sara Manuela, “não sei se vai ter muita adesão, porque o espaço recurso não é um espaço exatamente resguardado onde as pessoas se sintam à vontade para ir buscar esse tipo de produtos”.
Para Taynã Noschese, este “seria o sinal de que a reitoria está apta, como um órgão social que tem responsabilidades sociais, de afirmar o seu compromisso naquilo que é tanto a luta do HeforShe”. “Aquela principalmente que é a luta de uma universidade no seio de uma sociedade”, sublinha.
De acordo com as respostas do inquérito, um grande número de participantes revelou que era preferível que as máquinas estivessem num sítio resguardado. Sara Manuela admite que “estes tabus vão sendo combatidos a pouco e pouco”. “Não podemos de um momento para o outro querer revolucionar completamente a universidade”, explica.
Aos olhos da mesma, a AAUM faz bem em implementar as máquinas num espaço que é seu, mas “o espaço Recurso é muito visível”. “É importante para já estar num sítio resguardado onde as pessoas se sintam à vontade, se sintam confortáveis para ir buscar os produtos”, visto que ainda existe preconceito com a higiene íntima, o que acaba por originar uma inibição por parte de quem vai utilizar as máquinas.
Joana Fernandes salienta os pilares desta causa: “no fundo isto [a implementação das máquinas] tem dois objetivos: facilitar o acesso a estes produtos, que, muitas vezes, são inacessíveis por causa dos preços, porque infelizmente nem toda a gente tem acesso a este tipo de produtos, mas também para contribuir um pouco para quebrar esse estigma”. Na sua perspetiva, a aquisição de produtos de higiene íntima é algo natural, do qual ninguém deveria sentir vergonha.
Taynã Noschese reforça os objetivos, explicando que há ainda um terceiro, o de que temas como este “se torne um centro de discussão” nas associações e a própria universidade.
Este era “um problema que estava adormecido, ninguém tocava no assunto e, felizmente, este foi um dos grandes objetivos deste mandato: trabalhar neste projeto”, garante Joana. Explicita que seria muito positivo que a causa fosse aprovada para que a academia minhota fosse pioneira num projeto destes. Segundo os dados, Joana Fernandes sublinha que esta é “uma amostra muito significativa que revela que é necessário, e que é urgente a implementação destas máquinas”.
Para além dos produtos de higiene íntima, no questionário existiu um número considerável de inquiridos que sublinhou a importância da disponibilização de outros produtos, tais como preservativos.
Sara Manuela enfatiza que “estas respostas mostram que a universidade não fala suficientemente sobre sexualidade”. Refere igualmente que “as pessoas vêm da escola secundária onde a sexualidade não é abordada, chegam à universidade têm outra abertura e estas respostas mostram que não se sentem apoiados”. Se os assuntos não forem explicados e não existir um fácil acesso à contraceção podem acontecer situações de gravidez indesejada ou mesmo o risco de doenças sexualmente transmissíveis.
Quanto ao caminho para a discussão de outros temas, Taynã Noschese garante que “estas iniciativas acabam por levantar outras questões, e que se acaba por perceber que são pertinentes e que estão ligadas entre si”. E reforça: “são necessárias de serem discutidas para serem tomadas decisões”.
“Se conseguirmos a aprovação, ou mesmo que eventualmente não se consiga, só o facto de termos a ousadia de tentar a implementação destas máquinas pode levar a que outros grupos, outras universidades considerem uma ideia boa e que seja útil”
Joana Fernandes
A implementação das máquinas seria “uma pequena revolução”, refere Sara Manuela. Contudo, vai haver quem seja contra, quem se recuse a usar os produtos. Só através de diálogo é que quem é contra temas como o feminismo vão abrir horizontes. “Isto começa aqui mas pode servir de exemplo para outros universidade no país e até no mundo”, atira.
No que toca aos timings do processo de (eventual) aprovação, setembro seria o mês ideal, para que se percebesse a reação dos novos alunos. Para Joana Fernandes, o tempo de espera até haver um veredito “é um bocado incerto, porque não depende de nós”.
“Acho que é um momento determinante [setembro], pois é quando a pandemia vai estar um pouco mais controlada, é quando vamos voltar para a nossa vida, é quando a universidade vai voltar também para a “vida”. É talvez um momento determinante para quando a universidade acolher os novos alunos”, remata Taynã.