A constante procura pelo que imaginamos ser a vida perfeita é uma busca quase intrínseca no ADN do ser humano. A longa-metragem The Man With The Answers é um retrato perfeito do quão imperfeita é a vida, em particular, a vida de Victoras.

Dia após dia, num loop de aborrecimento e esforço contínuo, o jovem vive uma vida solitária e sem grandes luxos. Preso às Ilhas Gregas a tomar conta da sua avó, Victoras, um mergulhador profissional, treina constantemente para um desporto que já não tem lugar na sua vida. Com a morte do único membro da família que estava ao seu lado, o homem grego caí numa espiral de desespero para conseguir honrar a avó.

Financeiramente instável e liberto do que o prendia ao país de origem, o homem embarca numa jornada para encontrar a única pessoa que tem: a mãe. Victoras (Vasilis Magouliotis), repleto de incertezas, encontra-se a bordo de um barco que mudará a sua vida. Em circunstâncias “perigosas”, nas palavras do mesmo, conhece Mathias (Anton Weil), um homem alemão extrovertido, inspirado na vida e que tenta vivê-la ao máximo.

Com os seus destinos cruzados, as duas personagens iniciam assim uma viagem juntas. Uma viagem simples e sem um simbolismo profundamente complexo, em que na sua progressão, questões aparecem na nossa cabeça. Questões sobre o que queremos, o que fazemos e como fazemos. De forma sucinta, questões sobre o sentido da vida. São essas mesmas questões que Mathias coloca a Victoras, que parece ter esquecido como se vive. Assim, este dois homens, tão diferentes, tentam ganhar a confiança um de outro lentamente, acabando por ganhar o coração um do outro.

Apesar de catalogado como um romance, The Man With The Answers não se focaliza excessivamente na paixão e ignora as peripécias na vidas das personagens. Pelo contrário, são os acontecimentos que circundam Victoras e Mathias que contribuem para o nascer da paixão.

Embora, seja apresentada uma história simples, realista e agradável, a cinematografia da obra é o aspeto em que mais se salienta. Ao contrário do que vemos a acontecer no cinema atual, a longa-metragem não está repleta de tonalidades fortes, sofisticadas e visualmente prazerosas. Por conseguinte, o esquema de cores do filme segue uma paleta sóbria, fria e, acima de tudo, profundamente naturalista. Aliás, o naturalismo é recorrente nesta obra cinematográfica. Seja pela narrativa que não explora situações dramaticamente pouco prováveis de acontecer ou pelos visuais que se assemelham ao que é visto pelo olho humano.

Para além disso, os diálogos apresentados não concentram palavras complexas e filosofias subentendidas. Desta forma, o que é dito pelas personagens é “preto no branco”, sem ser necessário o espectador questionar-se sobre o que foi dito.  Para cinéfilos, pode ser algo extremamente monótono, porém a longa-metragem não precisa de diálogos rebuscados, que nunca aconteceriam na vida real, para se demonstrar genial. Em oposição, é a simplicidade que torna todo o enredo brilhante.

O som é um elemento que passa, muitas vezes, despercebido em grandes produções cinematográficas. A representação da natureza tem que incluir os sons que nos rodeiam e nos encaixam no mundo. The Man With The Answers não seria a obra-prima que é sem termos em conta o excelente trabalho sonoro realizado. Somos transpostos para o universo do filme através de cada barulho, por mínimo que seja. O sugar do cigarro, um chinelo a tocar o chão, a passagem de uma ambulância são exemplos de detalhes que constituem a “serenata” fantástica, presente nesta obra cinematográfica. Para além disso, a utilização de uma banda sonora constituída por apenas três músicas pode tornar-se aborrecido, mas não é o caso aqui. As três canções apresentadas ao longo da longa-metragem criam uma aura de unicidade e concretizam uma sensação sentida ao longo do filme: a sensação de viver.

Realizado por Stelios Kammitsis, The Man With The Answers leva-nos a viajar por uma vida imperfeita, que não é a nossa, mas faz-nos sentir como se fosse. O naturalismo presente e a simplicidade que constroem a obra cinematográfica não representam somente as vidas de Victoras e de Mathias, mas a vida de qualquer ser humano. Uma vida constituída por diferentes fases, desejos e sentimentos, que pode sempre ser melhorada através da mudança. Seja pela extraordinária performance dos atores ou pela imagem curada meticulosamente, a longa-metragem é uma obra de arte do início ao fim.