Chegou na passada quinta-feira, dia 8 de julho, aos grandes ecrãs o filme: Viúva Negra. A produção, pertencente ao fantástico Universo Cinematográfico da Marvel, não desiludiu o público. Com críticas divididas entre os fãs, a obra cinematográfica aparenta ter já imensa adesão nas bilheteiras.

Primeiramente, é fundamental situar a longa-metragem no tempo. Segundo os dados fornecidos ao longo do filme é possível perceber que os eventos remetem ao pós-Guerra Civil (retratada no filme Capitão América: Guerra Civil (2016)). No final da Guerra Civil, Natasha teve de se manter em fuga tendo em conta que esta, juntamente com o Capitão América e a sua equipa de super-heróis apoiantes, tinha desrespeitado os Acordos de Sokovia. Estes acordos ditavam que todas as missões d’Os Vingadores tinham de ser comandadas pelo governo americano, o que fazia com que o grupo não pudesse agir por vontade própria.

Inicialmente, Natasha apoiou os acordos mantendo-se do lado do Homem de Ferro, que tinha convocado a reunião para informar o grupo. Porém, acabou por se render ao lado de Steve e virar-se contra Tony. Assim, vista como uma inimiga dos EUA e perseguida por Thunderbolt, antigo general do exército americano e responsável pelo incidente que levou a que Bruce Banner se tornasse no Hulk, Romanoff viu-se forçada a manter-se longe dos radares.

A obra começa por mostrar alguns dos bons momentos da infância de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) que em poucos minutos são contrapostos com momentos traumáticos. Após a cena inicial, em que Natasha é separada à força da sua irmã Yelena (Florence Pugh), é possível observar o seu crescimento e educação.

Através do uso de imagens turvas, respetivos desfoques, cortes brutos das cenas e ruídos incomodativos é transmitida a forma severa e insensível como Romanoff foi criada. Desta forma, a educação de Natasha reflete-se na forma como a personagem lida com certas situações ao longo da sua vida. Assim, a super heroína torna-se numa pessoa fria, insensível e cheia de foco. Contudo, nenhum dos acontecimentos passados a torna num ser humano sem sentimentos. Pelo contrário, Romanoff mostra-se uma mulher capaz de sentir amor, remorso e criar ligações sentimentais.

Na produção é possível acompanhar o reencontro entre Natasha e Yelena, que tinham sido separadas há vinte anos. O reencontro leva a uma reaproximação das duas irmãs e coloca-as numa simples missão: acabar com a sala vermelha e matar o seu chefe. A sala vermelha era o local onde Yelena tinha sido educada e de onde Natasha tinha conseguido fugir enquanto criança. O local era dirigido por Dreykov, antigo oficial das Forças Armadas Soviéticas, que controlava raparigas, compradas às suas mães à nascença. Através de um programa de lavagem cerebral, Dreykov treinava-as de forma a criar assassinas em série. Com o objetivo de matar Dreykov e libertar todas as meninas, Romanoff e Yelena partem numa missão perigosa.

Relativamente à parte visual da obra, pode dizer-se que é bastante monocromática. As cores vermelha, preta e branca tomaram conta de todo o momento fílmico. Consequentemente, todas as cores aludem a luto, remorso, sangue, violência, insensibilidade e principalmente à Viúva Negra. Tanto os fatos utilizados pelas personagens como a própria sala vermelha acabaram por ir de encontro à monocromia cinematográfica do filme. De certo modo, todo este círculo de cores pesadas dá enfase ao assunto e sentimento da longa-metragem.

Tal como as cores, a discografia e o som acabam por ser também eles pesados. Temas como Smells Like Teen Spirit, cover de Malia J. e We are Gods, de Audiomachine contribuem para acentuar o clima de tensão e drama que se vive. Para além disso, os cortes repentinos no som e os momentos de silêncio seguidos de um enorme estrondo ou ruído intensificam o suspense e criam o fator surpresa que o público tanto gosta. No entanto, apesar de ser considerado um filme monotemático a nível cromático e auditivo, Viúva Negra tem também a sua parte cómica transmitida, principalmente, pelas intervenções da personagem do ator David Harbour. Através da sua personalidade meia idiota e carinhosa, Alexei consegue dar o seu ar de graça e pôr não só o público, mas também as próprias personagens a sorrir.

O primeiro filme da quarta fase do Universo Cinematográfico da Marvel deu assim, um fecho à história da vingadora. Após um fim trágico no filme Vingadores: Endgame (2019), a longa-metragem permitiu que o percurso da famosa Viúva Negra fosse selado de forma honrosa.