Dois anos depois de Songs for You(2019) – o primeiro projeto de Tinashe enquanto artista independente – a cantora e compositora norte-americana está de volta com o seu muito esperado álbum, 333. Refletindo a versatilidade do R&B, o quinto LP de Tinashe serve de abrigo a narrativas contemporâneas de liberdade, corações partidos e verões quentes.

Apesar de todas as dificuldades a que as grandes gravadoras submetem os artistas R&B – os constantes atrasos nos álbuns, reformulações e singles forçados -, a vida após cessar contrato com uma gravadora está longe de ser um mar de rosas. Sem os recursos financeiros e logísticos, muitos artistas acabam por cair no esquecimento, deixando para trás alguns dos seus melhores trabalhos. Tinashe, de 29 anos, parece ter sido a exceção. Depois de sete longos e difíceis anos com a RCA Records, a artista aproveitou a independência e liberdade criativas para entregar agora o álbum mais eclético da sua carreira.

billboard.com

Em declarações à MTV News, Tinashe conta que, para além da evolução na sonoridade, em termos conceptuais, este novo projeto permitiu que se debruçasse sobre temas que havia explorado no passado. “Tenho questionado a natureza da realidade desde 2012, quando lancei o meu segundo projeto, Reverie. Este fala sobre potencialmente vivermos num sonho. Como seria se tudo isto fosse um sonho? Como é que conseguimos navegar nestes diferentes estados alterados de consciência? Para mim, acho que essa ideia continuou a progredir e evoluir – é aqui que 333 se movimenta, conceptualmente”, explica a artista.

A faixa de abertura, “Let Go”, não deixa que nos preparemos para a montanha-russa de emoções – e géneros musicais – que constitui o álbum. A produção musical aveludada de influência neo-soul não é nada como o que se segue. “I Can See The Future” resulta da junção de um beat característico do R&B e uma performance vocal de inspiração trap, ritmada e bem marcada. Aqui, Tinashe dá-nos a conhecer um lado mais ousado, franco e direto, “I can see the future/ And it looks like you and I”.

Segue-se “X”, uma colaboração com Jeremih. Com Drew Love entre os compositores e Hitmaka como produtor principal, a lírica sensual e atrevida só poderia estar acompanhada de um beat de ritmo acelerado de influência rock. O interlúdio “SHY GUY” combinada a delicadeza do teclado com percussão agitada. A produção musical é, sem dúvida, o destaque de 333. “SHY GUY” flui diretamente para “Bouncin”, sabiamente selecionado como um dos singles do álbum. O refrão é dos que fica na cabeça ao ponto de já se saber de cor a meio da canção e, além disso, é o tema perfeito para um videoclipe divertido e memorável. Para além de cantora e compositora, “Boucin” apresenta-nos Tinashe como uma excelente bailarina.

Igualmente bem escolhido como single é o tema “Pasadena”, contagiosamente otimista e ritmicamente complexo. É diferente daquilo a que Tinashe nos tem habituado, mas nem isso é razão de desagrado. A performance vocal da artista é (mais uma vez) extraordinária e complementa na perfeição a batida frenética do produtor Oliver Malcolm, “Feelin’ right, feelin’ right, feelin’ right (Woo!)/Livin’ life, it’s the life (Hey, hеy, hey)”. É a banda sonora perfeita para uma tarde de verão.

Especial destaque para “Small Reminders”. Com quatro minutos e meio, a faixa mais longa do álbum apresenta desde tendências inspiradas no jazz a elementos coordenados pelo funk sem qualquer esforço, construindo uma canção extremamente diversificada, mas continuamente homogénica. A linha de baixo do segundo verso é dos grandes tesouros do projeto. Já o último tema, “It’s a Wrap”, estará certamente entre os mais pessoais de 333. Tinashe junta-se aos dois irmãos mais novos, os também vocalistas Quiet Child e Kudzai. A voz suave e aveludada da artista mistura-se com os vocais nasalados de Kudzai e o barítono grave de Quiet Child, criando uma atmosfera semelhante à de um coro.

Em suma, 333 é uma clara tentativa de se opor à imagem de princesa pop à qual Tinashe foi associada pela RCA Records. A jovem artista apresenta-se agora livre e independente, numa jornada que começou com aquele quarto álbum [Songs for You (2019)] que agitou águas e desafiou os limites entre géneros musicais. Para aqui, encontramos uma artista que está sempre disposta a reinventar o que é pop e a desafiar o que o R&B pode ser.