A Classic Horror Story estreou a 14 de julho na Netflix. Apesar do nome original ser em inglês, a verdade é que este filme não passa de uma produção cinematográfica italiana. O seu título é sugestivo. No entanto, não deixa de surpreender. Por entre uma banda sonora dramática, personagens arrepiantes e um enredo aterrorizador, há espaço para a comédia e para uma reviravolta distante do convencional.

O filme, produzido por Maurizio Totti, Alessandro Usai e Iginio Straffi, não tem (pelo menos, nos primeiros minutos) tempo a perder. Rapidamente, nos deparamos com a cabeça de um veado pendurado na parede. De seguida, vemos uma mulher presa numa mesa, claramente ferida e com medo. Como não poderia deixar de ser, somos presenteados com uma música calma, no caso concreto “Il Cielo In Una Stanza”, de Gino Paoli.

A quietude transmitida pela composição sonora não se adequa com a realidade que estamos prestes a presenciar. Uma personagem, com um andar pesado e um martelo, aproxima-se. Tal como a pessoa que observa do outro lado da porta, assistimos ao primeiro ato de violência de todo o filme. Violência como quem diz, porque, na realidade, A Classic Horror Story decidiu afastar-se das cenas gráficas.

De um momento para o outro, os olhos dos espectadores vêem-se compelidos a seguir o percurso de uma caravana. De uma paisagem vazia, bruscamente, nos deparamos com a apresentação da primeira personagem. Através de uma conversa com a sua mãe, percebemos que Elisa está grávida e irá ser submetida a um aborto. Já conhecendo o enredo de tantos outros filmes de terror, uma dúvida salta ao de cima: serão os nossos protagonistas capturados por uma entidade maligna devido a decisões entendidas pela mesma como atos errados?

Seguidamente, percebemos que Elisa irá embarcar numa aventura de carpooling. Mais uma vez, como é já típico, percebemos que esta se verá obrigada a lidar com um conjunto de desconhecidos. Sem mais demoras, segue-se uma reduzida, mas criativa apresentação. O condutor é Fabrizio, que, além de motorista, procura singrar no mundo dos blogues de viagens. Os restantes membros são Sofia e Mark, que vão à procura de uma escapadela romântica, e Riccardo, um doutor que vai visitar a família.

O destino fica, desde logo, conhecido. Durante as suas gravações, Fabrizio coloca uma adivinha, à qual dá a resposta de imediato – “Tenho uma adivinha: para onde vamos se estou a cantar isto? O céu é sempre azul”. A referência à música remete-nos para Calábria. A viagem continua.

A certa altura, além da introdução de uma música sinistra e, aparentemente, despropositada, vão-nos sendo dados alguns sinais de que a trajetória tomará um rumo diferente em breve – uma publicidade, onde os olhos e boca das pessoas presentes foram riscados, e uma notícia, na qual se pode ler “Mãe e filha desaparecidas, a sombra da ‘Ndrangheta”. Para quem não conhece, fica aqui uma breve explicação: a ‘Ndrangheta ou Famiglia Montalbano, Onorata società e Picciotteria, corresponde a uma associação mafiosa da região de Itália para onde partem.

Durante o percurso, Elisa e os seus companheiros de viagem passam por um sinal de perigo. Nesse momento, percebemos, instantaneamente, que algo está errado: o veado representado no sinal de perigo está ao contrário e Fabrizio sente uma interferência no seu aparelho auditivo. Os presságios tornam-se reais e acabam por ter um acidente. Sendo assim, como dá para perceber, ao longo deste filme, as mensagens subliminares são uma constante.

Depois, magicamente, mudam de localização. Sem perceberem como é que isso foi possível, começam as acusações e as extrapolações divinas. De qualquer das formas, permanecem sem resposta, tal como o público. Sem rede e sem indicações à vista, deparam-se com uma casa com um aspeto assombrador. Como nos filmes de terror ninguém conhece o provérbio de que “a curiosidade matou o gato”. Assim, sem medos, as personagens decidem investigar o lugar.

Fabrizio e Riccardo deparam-se com um altar, onde se pode ler “Os Três Cavaleiros da Honra”. Seguindo um caminho traçado por velas no chão, Elisa depara-se com desenhos, que introduzem o horror desta produção. As ilustrações representam três irmãos vindos de outro mundo, da Lenda de Osso, Mastrosso e Carcagnosso.

Segundo Fabrizio, o primeiro irmão “não tem olhos, mas no escuro não lhe escapa ninguém. O segundo não tem ouvidos, mas apanha-te com os outros sentidos. O terceiro não pode falar, mas, se o vires, não te atrevas a gritar”. Em tempos de pobreza, estes prometiam salvar as pessoas em sofrimento. Contudo, como nada é dado sem algo em retorno, um sacrifício era exigido – “Escolheram a vítima e prepararam-se para o ritual. Cortaram-lhe a língua, as orelhas e os olhos. Com o sangue, saciaram a fome, mas tudo tem um preço. Desde então, os famintos tornaram-se um rebanho. O seu rebanho”.

Após um enredo lento, iniciam-se as peripécias. A primeira faz-se acompanhar por uma música infantil, “La Casa” de Sergio Endrigo. Como toda a gente sabe, a aproximação de uma composição sonora para crianças não é um bom sinal. Todavia, longe de querer contar mais do que é preciso, a descrição das próximas cenas será censurada.

Por vezes, os filmes de terror não possuem as melhores prestações de representação. Todavia, A Classic Horror Story aparenta fugir à regra. Desta forma, a produção cinematográfica conta com a presença de atores como Matilda Anna Ingrid Lutz (Elisa), Francesco Russo (Fabrizio), Peppino Mazzotta (Riccardo), Will Merrick (Mark) e Yuliia Sobol (Sofia).

A Classic Horror Story segue, com algumas pitadas de originalidade, as principais características típicas de um filme de terror. No entanto, a produção consegue manter a diferença e surpreender os espectadores. Graças a não ser abalroada com cenas de gore, corresponde a uma composição destinada até para as pessoas mais sensíveis. Todavia, a sua proximidade com uma realidade plausível poderá deixar alguns com pesadelos.