Lançado a 13 de julho de 2001, Legalmente Loira é considerado um dos filmes mais icónicos dos anos 2000. A longa é reconhecida pela sua abordagem única em relação a diferentes assuntos feministas.

O filme conta a história de Ellen Woods, uma jovem mulher que pretende casar com o amor da sua vida, Warner Huntington III. No entanto, o seu namoro termina, pois Warner alega procurar uma parceira mais séria e menos “loira” (no sentido de inteligência). Deste modo, Ellen decide ingressar no curso de Direito em Harvard de modo a reconquistar o seu ex-namorado.

Inicialmente, a premissa de Legalmente Loira aparenta ser machista e retrógrada. No entanto, o filme possui uma base sólida que é utilizada para desconstruir várias ideias dentro dos conceitos de feminismo, identidade feminina e machismo institucional.

Porém, antes de discutir estes temas, é importante referir que Ellen Woods é uma mulher branca, heterossexual, cisgénero e rica. Ou seja, todos estes assuntos são abordados numa perspetiva privilegiada, que não engloba as experiências de todas as mulheres. A falta de diversidade neste filme é sem dúvida um dos seus pontos fracos, sendo que só vemos mulheres de diferentes raças e etnias nas cenas que acontecem nos salões de beleza, onde estas mulheres têm poucas ou nenhumas falas.

No entanto, apesar do privilégio da personagem principal, o filme consegue com que sintamos empatia por Ellen. O principal conflito desta jovem é o facto de que a sociedade não a levar a sério por ela ser atraente e ter interesses considerados “femininos”. Por muito absurdo que possa parecer à primeira vista, este preconceito faz com que as pessoas à sua volta a vejam como menos inteligente e como menos merecedora de respeito.

Esta rejeição da hiperfeminidade de Ellen está diretamente conectada com princípios sexistas, ou seja, uma forte oposição a tudo que o esteja minimamente relacionado com a mulher. Assim, por muito que seja o conhecimento que Ellen possui sobre moda, este é desvalorizado e considerado inútil aos olhos da sociedade patriarcal.

Um ponto interessante deste filme é a forma como mostra que o próprio movimento feminista, muitas vezes, se submete a princípios machistas para empoderar a mulher. Ao rejeitar o olhar masculino da mulher para lhe aplicar um novo olhar que se opõe à hiperfeminidade e que se submete a padrões masculinos, o próprio movimento torna-se anti feminino. No fundo, a personagem de Ellen mostra-nos que a rejeição de tudo o que é feminino não é, nem deve ser, sinónimo de empoderamento feminino. Forçar a mulher a odiar hiperfeminidade é o resultado de um sistema opressor sexista.

Outro aspeto menos abordado, mas que está relacionado com feminismo é a rivalidade feminina. No seu primeiro dia de aulas em Harvard, Ellen descobre que Warner está noivo de Vivian Kensington, uma colega dos dois que melhor preenche os requisitos de “melhor partido”. Assim, é estabelecida uma rivalidade entre as duas, baseada sobretudo no facto de Vivian se sentir ameaçada pela presença de Ellen na Escola de Direito. Porém, no final do filme ambas percebem que Warner é um falhado machista que só vê mulheres como objetos pessoais e acabam por se tornar melhores amigas, deixando Warner sem namorada. Esta reviravolta parece lógica, mas ainda são poucas as obras audiovisuais, em pleno 2021, que permitam a duas mulheres serem amigas e que não lutem por homens.

Um assunto que foi arrumado um pouco para canto e que poderia ter sido mais explorado foi o abuso de poder que o professor Callahan pretendia exercer sobre Ellen. Teria sido bastante interessante ver a forma como o filme abordaria esta temática, especialmente dado a sua atual relevância dentro do movimento feminista.

Um dos pontos mais fracos do enredo é, sem dúvida, as várias coincidências que vão acontecendo, especialmente no final do filme. Por exemplo, o empregado de Brooke ter falado com Ellen sobre os seus sapatos ou a professora estar no salão de beleza ao mesmo que Ellen se despede de Paulette. Este conjunto de coincidências irrealistas são bastante essenciais para o mover da narrativa, o que torna o argumento bastante preguiçoso.

Porém, para compensar as falhas no enredo, todo o elenco oferece performances memoráveis e que dão vida aos vários personagens. Principalmente, é necessário destacar a importância da atuação de Reese Whitherspoon para tornar Ellen Woods, uma personagem empática, multidimensional e icónica.

Concluindo, Legalmente Loira traz uma perspetiva diferente de empoderamento feminino e dá visibilidade a mulheres que muitas vezes se sentem excluídas do movimento feminista. Além disso, a constante quebra de estereótipos ao longo do filme torna-o uma obra cinematográfica de referência, mesmo para os dias de hoje. Sem dúvida, o projeto assume-se como um filme icónico que estava muito à frente do seu tempo.