Desde música, literatura e bordado, estes são os artistas que se escondem (ou não) por detrás da Universidade do Minho.

O Dia Mundial do Artista assinala-se esta terça-feira, dia 24 de agosto. Neste dia tem-se 24 horas em honra de todos aqueles que, através da sua criatividade, entregam ao mundo um pouco de si. Nesta data em que celebramos a arte e os seus criadores, o ComUM reuniu três jovens artistas de distintas áreas da Universidade do Minho. As jovens falaram abertamente sobre as suas paixões, a conciliação com os estudos e o impacto da pandemia no seu engenho.

A tradicional prática de bordar não adormeceu. Também a literatura ainda está viva e floresce dentro dos mais jovens escritores. Tal como a música também faz parte do quotidiano dos alunos minhotos. São estas as três formas de arte que o ComUM vem apresentar, contidos nos rostos de Beatriz Teixeira, Carla Eiras e Ana Rita Alves.

Há quem se inicie cedo neste fascínio pela arte. Carla Eiras é exemplo disso. A literatura surgiu muito cedo na sua vida e, desde então, não pareceu abandoná-la. “Já no terceiro ano andava a tentar desvendar Fernando Pessoa, e de algum modo sentia que a poesia ia ser a maneira de me expressar”, referiu a artista. Não estava errada. A estudante de Direito já lançou o seu primeiro livro, intitulado “Simplesmente”. Embalada por Sophia de Mello Breyner, viajando entre Eça de Queirós, Virgílio Ferreira, Saramago e apaixonando-se por Valter Hugo Mãe, Carla foi bebendo influências durante todo o seu percurso de leitora.

“Acho que a cada obra que leio surge uma nova paixão por literatura, nomeadamente a portuguesa”.

Segundo a artista, “a inspiração não escolhe hora nem lugar” e, por isso, carrega sempre cadernos atrás de si. Declara ser até “prático” “responder a golpes de inspiração”, pelo que é capaz de conciliar os estudos com a sua arte. “Tirar tempo para escrever” é sinónimo de tempo para si mesma. As palavras no papel são uma forma de “recarregar energias do dia a dia de um estudante”.

“Cuidar de nós é essencial, e na verdade, sempre que escrevo estou a cuidar de mim”.

A pandemia veio ainda impulsionar a sua paixão por poesia. Uma quarentena no campo veio “renovar” o seu “estilo de escrita” e “redirecionar” a sua inspiração para “elementos mais naturais como campos, flores, ou o céu”. Tornou-se algo mais introspetivo, “voltado para os meus sentimentos e para a maneira como passava os dias”, declarou Carla Eiras. O tédio, o desespero e a ansiedade passaram a ser temas presentes na sua poesia. E, tal como os efeitos negativos que portou, também o tempo foi oferecido pela pandemia. Tempo para divulgar a sua arte.

 

Muitos artistas começam a desenvolver os seus talentos e paixões acidentalmente e de forma inesperada. É o caso da Beatriz Teixeira, que descobriu a sua paixão pelos bordados quando encontrou, por acaso, uma caixa de linhas e agulhas que guardava desde a infância. A atual aluna do segundo ano de Ciências de Comunicação estava, na altura, a terminar o ensino secundário. No interior da caixa, havia uma mala “que nunca tinha acabado”. Então, decidiu “comprar o material apropriado e começar aquele pequeno projeto”. Esta foi a decisão que acabou por marcar a sua vida.

No entanto, a transição do secundário para a universidade tornou-se um entrave à organização do tempo da jovem artista. Beatriz Teixeira teve dificuldades em conciliar a produção dos bordados com a adaptação à universidade. Contudo, o amor pela arte levaram-na a adotar “técnicas de organização e definição de prioridades.” A existência de uma agenda, por exemplo, com um número limitado de vagas para encomendas, é o método mais eficaz para a gestão do tempo.

Durante a pandemia, Beatriz Teixeira refugiou-se nos bordados para se “abstrair do mundo” e dos impactos negativos, a nível psicológico, causados pela mesma. Todavia, nem tudo foram pesadelos e, graças à situação pandémica, a artista percebeu “o poder do digital”. Deste modo, “lançou-se” para um novo projeto nas redes sociais. Assim, o mero gosto pelo bordado transformou-se num pequeno negócio e a universitária pôde conciliar paixão com trabalho.

À semelhança de Carla Eiras, Ana Rita Alves sempre se sentiu ligada às artes e principalmente à música. A cantora lembra-se de “vídeos de quando era pequena”, onde aparece “sempre a cantarolar”. Com o passar dos anos a paixão por esta arte não mirrou, muito pelo contrário. Ana Rita Alves está agora no terceiro ano da licenciatura em Ciências da Comunicação e “não tem sido fácil” conciliar a vida académica com a sua expressão artística. Segundo a estudante, se anteriormente tentava “fazer uma espécie de 50/50” entre os estudos e o canto, Ana Rita Alves quer agora dedicar uma percentagem ainda maior ao microfone.

“Já não é só paixão é também uma necessidade de expressão”.

O ambiente pandémico veio reforçar esta paixão, já que lhe deu tempo para “estruturar o que quero fazer enquanto artista”, disse a estudante. Num ano onde a vontade de fazer música a tempo inteiro se tornou ainda mais evidente, a jovem bracarense sente que “sem música simplesmente não faz sentido”. No entanto, apesar de querer seguir este ramo, aponta para as faltas de apoio para a cultura. “Vemos artistas de grande escala insatisfeitos e concordo com essa insatisfação”, declara, “há muita coisa valorizada em Portugal, mas nem sempre a cultura é uma delas”, expõe a artista. Numa indústria onde os artistas mais pequenos são passados à frente, Ana Rita Alves pretende continuar a lutar para “estar nisto a 100% ”.

Artigo por: Ilda Lima e João Ângelo.