Nos últimos tempos, as plataformas de streaming têm se arriscado a apresentar projetos cinematográficos mais ousados tanto em termos visuais como nas narrativas que exploram. No dia 29 de julho, o serviço HBO Max disponibilizou a produção televisiva The Prince. A série televisiva animada estende os limites do sitcom até uma sátira demasiado profunda da família real britânica. Durante 12 episódios de cerca de 12 minutos, acompanhamos a vida do príncipe George e a implicância das ações do rapaz no dia a dia da família real.
Em termos de premissa, tal como em produções como Friends (1994-2004) e Foi Assim Que Aconteceu (2005-2014), The Prince narra acontecimentos diferentes em cada episódio. Desta forma, a série segue o formato típico de outros sitcoms que através de aventuras distintas caminham para um desfecho que é pressagiado através de situações anteriores. Infelizmente, este desfecho é muito mal realizado e bagunçado, sem existir grande focalização num ponto que une todas as personagens.
De facto, muitas das peripécias e das estórias expostas são engraçadas e agradáveis de se visionar. Porém, em certo momento, a série deixa de provocar entusiasmo no espectador, uma vez que os eventos começam a demonstrar-se semelhantes e aborrecidos. Contudo, o ditado popular “o melhor fica para o fim” não é mentira de todo e a produção surpreende-nos com premissas intrigantes nos episódios finais.
Como já dito anteriormente, a série assume-se como uma sátira e, obviamente, esse aspeto é “claro como a água”. Assim, seja pelas situações estúpidas ou pela forma como as personagens são retratadas, os roteiristas não tiveram “papas na língua” em ridicularizar a família real. No desenrolar do projeto, George, o protagonista, é apresentado como uma criança arrogante, egocêntrica, presunçosa, bully e narcisista que apenas se preocupa com o seu bem-estar. Com isto, os produtores conseguiram com que qualquer um odia-se a personagem principal, já que esta é horrivelmente irritante.
Para além disso, a Rainha Elizabeth, o Princípe William, Kate Middleton, Meghan Markle e todos os nomes associados à família real tiveram direito a uma representação violentamente crítica na história e narrativas individuais. Enquanto, Megan e Harry tentam sobreviver em Los Angeles sem os benefícios da realeza, William e Kate vivem um casamento monótono. Por sua vez, Charles procura constantemente que a rainha se sinta agradada pela silenciosa Camilla, esta que é odiada pela monarca. Ainda, a pequena princesa Charlotte guarda segredos profundos, que provavelmente é o que mais intriga o espectador a descobrir o que vai acontecer a seguir.
Como seria de esperar, esta produção televisiva concentrou inúmeras controvérsias, porque afinal de contas, satiriza a família real mais prominente do mundo. Para além das acusações de “gozar publicamente com uma criança da realeza”, a série foi descrita como um retrato injusto e com falta de direção. Efetivamente, Janetti aventurou-se num “jardim de espinhos” ao criar uma produção tão violentamente explícita, mundana e insultuosa. No entanto, as sensibilidades e as opiniões de cada um diferem. A meu ver, ainda que demasiada pejorativa, a obra tocou “em feridas” que tinham que ser tocadas, abrindo espaço para certas reflexões.
Em síntese, The Prince ultrapassa as barreiras do arrojado para cair num vale de críticas extremamente negativas quanto às piadas infelizes que são feitas ao longo dos 12 episódios. Ao contrário do que a crítica especializada afirma, considero que o projeto se estraga a si mesmo pela falta de direção e de narrativas interessantes, não pela sátira controversa que exibe. Para o desagrado de alguns, uma segunda temporada será necessária para completar as lacunas deixadas em aberto.
Título Original: The Prince
Realização: Gary Janetti
Argumento: Gary Janetti, Alain Bala, Tom McDonald
Elenco: Gary Janetti, Alan Cumming, Frances de la Tour
EUA
2021