Braga registou um aumento significativo do turismo durante o terceiro trimestre deste ano.

O Dia Mundial do Turismo foi celebrado esta segunda-feira, com um foco no crescimento inclusivo. O ComUM entrevistou Altino Bessa, vereador da Câmara Municipal de Braga, com o intuito de perceber o balanço do setor turístico este verão e a forma como a pandemia condicionou o turismo.

 

ComUM – Que balanço faz da situação turística da cidade nestes meses de verão? 

Altino Bessa – “No verão de 2021, aquilo que sentimos foi uma retoma significativa. O verão deste ano esteve, em algumas unidades hoteleiras, ao nível do verão de 2019, que tinha sido o melhor ano de sempre do turismo em Braga. Contextualizando um pouco, em 2013, quando este executivo assumiu funções, Braga tinha cerca de 250 mil dormidas por ano. Nós viemos num crescendo. Em 2017, tivemos 520 mil dormidas. Em 2018, tivemos 580 mil dormidas e em 2019 registamos 640 mil dormidas. 

Nos primeiros meses de 2020, quando ainda não havia pandemia, estávamos com um crescimento de cerca de 15% em comparação com os meses de janeiro e fevereiro de 2019. Ou seja, tudo indicava que íamos ter um 2020 a bater todos os recordes. Fruto daquilo que aconteceu, o turismo estagnou e fechou, durante alguns períodos, em Braga e no país. Em 2021, começamos a sentir, na época de verão, uma retoma efetiva. O mercado respondeu bastante bem e a taxa de ocupação (em alguns hotéis) atingiu cerca de 75%. O alojamento local também obteve uma taxa de ocupação bastante boa, a rondar os 80% em alguns casos. Houve também uma recuperação bastante grande no setor da restauração e do comércio. Por isso, o terceiro trimestre de 2021 foi uma época positiva para o setor, com bons indícios daquilo que vamos ter para o futuro. 

O posicionamento de Braga, ao nível do turismo, a sua marca distintiva e o facto de ser o Melhor Destino Europeu de 2021 é demonstrativo do trabalho que tem vindo a ser realizado. Braga foi uma das cidades, a nível nacional, que melhor recuperou em termos turísticos nesta fase. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), no mês de julho de 2021 comparativamente com o mês de julho de 2020, o Porto e Norte teve um crescimento de 140% e Braga cresceu 206%. Isto significa que o concelho, em termos de retoma, conseguiu ter uma expressão maior e mais significativa”.

ComUM – Como decorreu o processo de adaptação à nova realidade pandémica? 

Altino Bessa – “Não foi fácil. Isto foi uma novidade para toda a gente, para as entidades públicas, para nós – uma novidade para todo o setor. Foram colocadas muitas restrições à atividade turística que dificultaram a própria atividade. Houve muitas adaptações, por exemplo, no número de lugares nos restaurantes, na questão da testagem, no alargamento de esplanadas para que houvesse mais lugares disponíveis, a realização de testes e, principalmente, as restrições à circulação.

O setor é muito resiliente, tem uma grande capacidade de adaptação e rapidamente reuniu as condições necessárias para continuar a laborar, dentro das restrições existentes. E foi também importante continuar a ter os apoios do estado para ajudar a colmatar a perda significativa de receitas. Como eu costumo dizer, sem dinheiro na caixa registadora é impossível as empresas fazerem face às suas necessidades de tesouraria. A grande vontade de trabalhar e a capacidade de adaptação dos profissionais da área foram notórias, para além da ajuda financeira do Estado e das camarárias. Por esta razão, temos de valorizar os nossos empresários e os nossos trabalhadores do setor – não foi por causa deles que o setor parou. O setor parou porque, efetivamente, houve alturas em que tudo estava fechado e, por isso, não adiantava fazer nada”.

ComUM – O tipo de turista que o concelho recebeu durante o verão foi o mesmo que antes da pandemia? Houve maior afluência de turistas estrangeiros ou nacionais? 

Altino Bessa – “Neste momento, os trabalhadores têm experiência e formação para receber os turistas. Por isso, que venham eles. Todos nós esperamos, e rapidamente, que tudo possa voltar à normalidade – é esse o grande objetivo. E diria que já estamos numa situação mais ou menos normalizada a nível do funcionamento da atividade turística. Resta apenas que as pessoas, principalmente os estrangeiros, venham. O turista internacional é o que tem feito mais falta. Tem sido colmatado um pouco, ou bastante diria eu, pelo turismo interno. O turista nacional tem feito férias cá dentro, tem circulado pelo país e tem vindo muito a Braga. Eu digo sempre que Braga está por descobrir para muitos portugueses e por isso lanço sempre o desafio para que eles possam cá vir. O mercado espanhol é muito importante para nós, tal como o francês. Mas definitivamente, a nível de turista estrangeiro, ainda estamos num período de crescimento e num processo de retoma para voltar aos valores de 2019”.

ComUM – Que atividades e iniciativas foram ou vão ser realizadas no futuro para melhorar a atividade turística?

Altino Bessa – “Tivemos ontem o Dia Mundial do Turismo, dia 27 de setembro, e fizemos algumas iniciativas. Uma das atividades consistiu em reunir, através de um projeto que temos a nível internacional, um grupo de residentes de Braga e alunos da Universidade Católica num dia dedicado a uma iniciativa que se chama “Seja Turista por um dia na sua Cidade”. Basicamente, queríamos que os bracarenses fossem turistas chegados a Portugal e Braga, a uma cidade que supostamente desconheciam, e percorressem a cidade com uma explicação histórica e referências. Muitas vezes vivemos na cidade e não a conhecemos tão bem quanto isso nem os seus espaços, a sua história e a dos seus monumentos. 

Tivemos ainda a terceira Gala do Turismo, no auditório Vita, que teve como objetivo principal a valorização da atividade turística. Atribuímos prémios quer ao nível da restauração tradicional, quer em novos conceitos da restauração. Premiamos também o melhor alojamento local e o melhor hotel. Na gala, foram ainda reconhecidas pessoas ou entidades que têm feito um trabalho em prol do turismo e atribuídos diplomas aos melhores alunos do setor do turismo, tanto do ensino profissional como do ensino superior. Esta gala é o momento de uma grande valorização do trabalho que é desenvolvido por todos os que estão de forma direta ou indireta ligados ao setor do turismo. Continuamos a participar em feiras internacionais – este ano tivemos novamente na FITUR, que é uma feira de turismo em Madrid e uma das maiores do mundo. 

Por isso, a cidade está pronta para receber turistas. Tem infraestrutura, ao nível da hotelaria e alojamento local, ao nível da restauração, tem uma gastronomia fantástica. Tem uma oferta diversificada dos vários setores do turismo, sendo a área com mais peso em termos de atratividade da cidade o turismo de património e o turismo religioso. Aqui temos uma marca distintiva que é o facto de sermos uma cidade com património da UNESCO. Neste caso, o Bom Jesus que foi classificado em 2019 e é uma marca distintiva que fazia falta à cidade. 

Hoje, vir à cidade e interagir com ela não se faz apenas num dia nem numa manhã e é essa ideia que queremos passar. Temos feito isso com a criação de roteiros e com a valorização de vários espaços, mas também com a criação de novos conceitos turísticos que não existiam em Braga. Neste momento, temos já o processo fechado da qualificação do bacalhau à Braga, que é uma marca distintiva ao nível da gastronomia e que serve como motor de tração para toda a gastronomia. Mas também temos vindo a apostar noutras áreas, como o turismo de natureza. Temos apostado muito nas praias fluviais e, neste momento, já temos três praias fluviais infraestruturadas e com classificação de águas balneares e para o ano teremos cinco. Esta aposta tem sido muito interessante do ponto de vista da valorização desse património natural que em Braga existe, mas estava subaproveitado”.

Artigo escrito por: Joana Oliveira e Maria Carvalho