Baseado no musical do mesmo nome, Os Homens Preferem as Loiras ficou registado na cultura pop como um dos filmes mais emblemáticos de sempre. Estreado em julho de 1953, o filme conta com uma dupla de atrizes poderosas que marcaram o cinema do século XX: Marilyn Monroe e Jane Russell.
Preparemos os aplausos e os assobios, pois as duas showgirls tipicamente americanas trazem-nos um espetáculo fabuloso de intriga, enamoro e muito, muito luxo. A obra cinematográfica pode não desenhar um esboço emaranhado em motes profundos e filosóficos. Contudo, agracia-nos com comédia, uma “visão distinta” de romance e gloriosos momentos musicais.
Após ficar noiva de Gus Edmond, um jovem abastado, Lorelei Lee (Marilyn Monroe) ambiciona que o casamento dos dois se realize em França. Todavia, considerando que a rapariga é uma má influência sobre o filho, o pai de Gus proíbe-o de viajar com Lee em direção à Europa. Decisão e egocentrismo fazem parte do seu caráter, assim, Lorelei embarca num navio com destino a França sem Gus. Os noivos combinam que Gus se juntaria mais tarde, mas adverte Lorelei para que se comporte. Obviamente, a jovem mulher não se aventura neste roteiro sozinha e leva consigo a melhor amiga, Dorothy Shaw (Jane Russell).
De facto, tal como diz a personagem Ernie Malone num ponto do filme, “como é que duas pessoas tão diferentes, podem ser tão boas amigas?”. Ao passo que Lorelei acredita que só pode ser feliz e amar alguém se o parceiro for rico e lhe garanta “tudo de bom e do melhor”, independentemente da idade, Dorohty não se importa com tais futilidades. Por extensão, Shaw preocupa-se em divertir-se com rapazes jovens, bonitos e musculados, para assim encontrar o verdadeiro amor.
Sem embargo, não é só nas visões amorosas que as moças divergem. Dorothy “joga com o barulho todo” e tem consciência das intenções dos outros em seu redor. Por sua vez, Lorelei, uma gold-digger assumida, surpreendeu-me excecionalmente. Nos princípios do filme, esperava que esta personagem fosse representar o estereótipo sexista de “loira burra”, porém em certo momento dá-se uma reviravolta. Lee não escapa de momentos pouco inteligentes, mas a personagem pasma o espectador. Desta forma, o assistente encontra-se perante uma parelha galhofeira e incrivelmente elegante.
Com personalidades tão diferentes, também os objetivos das personagens são distintos. Enquanto Dorothy fica responsável por zelar por Lorelei e aproveitar para se divertir, a amiga assume como principal missão nesta viagem encontrar um marido abonado para Shaw. Não obstante, os planos de ambas “vão por água baixo” quando diversas figuras se intrometem nas vidas das protagonistas.
O conflito está instalado e a longa-metragem desenrola-se excecionalmente, mas o que é que tiramos como conclusão no fim? Na minha convicção, este projeto cinematográfico presenteia-nos com mais do que uma narrativa. Desde o primeiro ao último minuto, somos maravilhados com uma produção fabulosa nos mais diversos setores da sétima arte.
Primeiramente, não há críticas negativas que possa fazer à performance das protagonistas. Tanto Monroe como Russell interpretaram as suas respetivas personagens perfeitamente, criando um dos duos mais inesquecíveis do cinema. A meu ver, é fantástica a química que as atrizes criaram entre personagens tão opostas. A propósito disto, um dos aspetos que mais me satisfez enquanto visiona esta longa-metragem foi a amizade entre Lorelei e Dorothy. A conexão das duas demonstrou-se genuína, estimulante e uma verdadeira representação do que é amor.
Em segundo lugar, não poderia faltar o guarda-roupa e a caracterização das personagens. Seja pelos vestidos de lantejoulas vermelhos iniciais ou o ilustre vestido rosa de Marilyn, a guarda-roupa enfeitiçou-me de início ao fim pela elegância, sensualidade e unicidade que o caracterizava. Da mesma forma, o cabelo e a maquilhagem integralizam o arquétipo de irresistibilidade feminina que as personagens representam.
Por fim, mas não menos importante, o formidável trabalho que foi realizado nos cenários é de aplaudir. Não só se adaptavam aos momentos da premissa, como também amplificavam a elegância e o carisma das protagonistas, fazendo com que estas se destacassem ainda mais.
Convém, não esquecer da parte musical deste filme. Não me considero o maior amante de musicais, mas vibrei ao ouvir cada momento de cantoria, incluindo “Diamonds are a Girl’s Bestfriend” e “Ain’t There Anyone Here For Love”.
Sucintamente, Os Homens Preferem as Loiras mistura, no mesmo ecrã, o desejo e a ambição com temas, aparentemente, nada a ver como a amizade e a proteção daqueles que amamos. Num primeiro olhar, pode parecer uma comédia romântica desprovida de qualquer filosofia, porém espanta-nos a cada segundo e deslumbra-nos com o melhor que o cinema nos pode dar: um retrato fictício da realidade. Definitivamente, um filme vanguardista que quebra, em certa parte, um paradigma sexista e amplifica a beleza de uma amizade entre duas fabulosas mulheres.
Título Original: Gentlemen Prefer Blondes
Realização: Howard Hawks
Argumento: Charles Lederer
Elenco: Jane Russell, Marilyn Monroe, Elliott Reid
EUA
1953