O fenómeno atual do Afeganistão demonstra a necessidade de uma sociedade multicultural.
O atual conflito no Afeganistão tem relembrado a crise de refugiados sírios no ano 2015, o que leva à preocupação geral com a acentuada mobilidade de milhares de afegãos que ambicionam fugir à ocupação talibã. José Palmeira, diretor da Licenciatura em Relações Internacionais da Universidade do Minho, referiu ao ComUM que, naquele período, “não houve uma atitude coerente entre os estados membros”, no que diz respeito à receção dos migrantes. Contudo, explicou que, como não existiu uma oposição do governo sírio para a extradição dos locais, a ajuda externa foi facilitada.
No caso dos talibãs, o professor reforça que estes não apresentam “a mesma abertura”, pelo que “a onda de refugiados do Afeganistão pode não ser tão grande”. No entanto, pode ter um impacto “mais significativo” nas estruturas que fazem parte do sistema das Nações Unidas. A organização internacional para as migrações, dirigida por António Vitorino, foi um exemplo realçado pelo “papel importante na coordenação, quer com os países que podem acolher os refugiados, quer com organizações não governamentais que, no terreno, apoiam os mesmos”.
Em contrapartida, José Palmeira reforçou que estas pessoas apresentam direitos preservados na Convenção de Genebra desde 1951 e, desse modo, “o primeiro objetivo é fazer com que esses sejam respeitados”. A par disto, o entrevistado acentua que “não basta receber e acolher, é preciso procurar a sua integração”. Ainda assim, sublinhou que “são processos que podem ser algo complexos” e que dependem da vontade política que cada estado manifesta.
“Os governos tendem a agir em função do posicionamento da opinião pública, isto é, se há mais abertura da opinião pública para a situação dos refugiados, as regências tendem a ser mais abertas”, afirmou José Palmeira. Aliado a este equilíbrio, acrescentou também a preocupação de evitar “movimentos ditos nacionalistas e extremistas”, pois o vínculo nacional “não deve ser impeditivo para que haja uma maior circulação de pessoas”.
No entanto, aceitar a realidade xenófoba é um facto para muitos indivíduos acolhidos e, devido a isso, torna-se fundamental existir “um esforço mútuo”, com o objetivo de alertar para uma “sociedade multicultural”. O diretor de Relações Internacionais reiterou que “o país de acolhimento deve ter alguma compreensão com essas pessoas, mas as mesmas têm de ter alguma perceção dos valores da sociedade onde se pretendem integrar, no sentido de procurar facilitar a integração”.
No que toca ao impacto destas crises migratórias nas gerações mais novas, salienta-se a abertura para um mundo baseado na mobilidade, na criação de oportunidades e, ao contrário de outras gerações, na maior aceitação de fenómenos como este. Para apoiar este pensamento, disse que é importante que “o estado dê o exemplo, bem como o sistema educativo”, com o propósito de sensibilizar os jovens para estas questões. A plataforma global para os estudantes sírios, presidida por Jorge Sampaio, que procurava integrar estudantes sírios no sistema educativo português, foi um dos projetos sobressaídos pelo professor da Universidade do Minho.
Atualmente, a globalização é um bem adquirido, pois “cada vez mais é comum ver as pessoas se deslocarem de país para país”. As principais causas do avanço migratório dos últimos anos são a crise climática, a fome e a guerra. “Só iremos viver numa sociedade pacificada, se não houver conflitos, se não existirem pessoas que passam extremas necessidades e, por isso, o melhor é ajudar esses países e esses povos”, rematou.
José Palmeira acredita que “uma consciência social forte” é a chave para enfrentar estes desafios. “O ideal é perceber que para o nosso bem-estar, também é necessário o bem-estar dos outros, mas temos, provavelmente, a geração mais sensibilizada para isso”, concluiu.
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