A Doença de Alzheimer constitui cerca de 50% a 70% de todos os casos de Demência.
Esta terça-feira, 21 de setembro, celebra-se o Dia Mundial da Doença de Alzheimer. A doença de Alzheimer é neurodegenerativa e caracteriza-se pela morte neuronal em determinadas partes do cérebro. Susana Dias, formada em sociologia pela UMinho e CEO da Oldcare Famalicão, esteve à conversa com o ComUM para falar sobre este problema e os seus desafios.
A doença de Alzheimer prejudica o cérebro de uma “forma progressiva”. “O cérebro fica afetado dada à anormal acumulação de proteínas que vai levando à morte progressiva dos neurónios”, explica Susana Dias. Esta doença, “começa na zona do cérebro responsável pela memória, daí os primeiros sintomas serem o esquecimento”, continua. No entanto, acaba também por afetar “outras funções cognitivas, como a linguagem, comportamento, visão e raciocínio”.
A doença de Alzheimer pode ser dividida em três fases. A fase inicial é uma fase que só é evidente através de uma análise retrospetiva. “O mais comum é a falta de apatia, interesse e posteriormente a perda de memória”, relata Susana Dias. Também pode surgir a depressão onde “o doente fica mais apático e com falta de interesse”, mas também pode haver “outras alterações de comportamento como agitação e agressividade”. A socióloga explica que “estas alterações de comportamento poderão ter a ver com a dificuldade de comunicação do doente. Muitas das vezes estes não sabem onde ou o que estão a fazer e por isso reagem com medo ou agressividade”.
Numa fase mais avançada da doença, os problemas são mais evidentes. Neste caso, surge a dependência onde “há a necessidade de apoio especialmente nas necessidades básicas”, declara Susana Dias. Para além disso, o “não reconhecimento dos familiares e a agitação” são também duas características desta segunda fase.
Numa última fase, a chamada fase terminal, o doente fica gravemente incapacitado e necessita de cuidado total. “O doente pode perder a capacidade de verbalizar” e há uma grande probabilidade de “ficar acamado”, afirma a CEO da Oldcare Famalicão.
Por um lado, viver com a doença de Alzheimer traz diversas complicações na vida do doente. “Não há nenhum medicamento que seja preventivo da doença. Há os medicamentos antidemenciais que não curam mas melhoram a memória e as funções cognitivas”, refere a socióloga. O próprio doente, também tem de tentar “preservar a sua parte cognitiva. Manter-se fisicamente e intelectualmente ativo e ter uma alimentação saudável”, relata Susana Dias. Também “os programas de estimulação cognitiva são essenciais e é importante controlar os sintomas que são incapacitantes para o doente para melhorar a sua qualidade de vida”.
Por outro lado, a doença de Alzheimer “muitas das vezes é mais uma doença de família do que do doente”. Quando é transmitido o diagnóstico a um doente, é a família que fica “com maior angústia” pois, “numa fase inicial, muitos doentes ainda não têm a perceção do que significa ter a doença de Alzheimer”, explica a socióloga.
“A taxa de ansiedade e de depressão nos familiares de doentes com demência é elevada”, afirma Susana Dias. “Há muitos cuidadores que sofrem não só pela exaustão física pelo acompanhamento destes doentes mas pela necessidade permanente de lhes dar apoio”, anuncia. A CEO da Oldcare Famalicão sublinha a importância de transmitir aos familiares aspetos psicológicos da doença. “É importante perceber que esta é uma doença crónica, tem uma evolução que pode ser lenta e que há também momentos bons e doentes que podem não ter grandes alterações de comportamentos”.
Susana Dias adverte também para determinados comportamentos que se tem perante o doente. “Por exemplo, temos tendência em dizer “acabei de te dizer, já te esqueces-te?”. Estas são palavras que podem gerar uma maior angústia no doente porque ele não tem perceção, não fez de propósito e não vai evitar que no futuro faça igual”. A socióloga afirma que “estas pequenas dicas e conselhos de como lidar e reagir com os doentes são muito importantes para a família”.
Deste modo, por um lado, para a socióloga é necessário “criar estruturas e condições para que os doentes possam ser cuidados da melhor forma”. Por outro lado, é também importante “ajudar as famílias para saberem como agir”.
Em Portugal, a Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social constituída há mais de 30 anos. Também conhecida como Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer (APFADA), visa fornecer apoio, informação, formação e aconselhamento para as pessoas afetadas pela Demência e para os seus familiares e cuidadores.
Linha de Apoio na Demência: 963 604 626
Artigo escrito por: Maria Francisca Barros e Clara Martins