Após o êxito com o filme O Caçador e a Rainha do Gelo (2016), Cedric Nicolas-Troyan volta com a longa-metragem Kate a 10 de setembro de 2021. A longa-metragem demonstra-se um exemplar Netflix que em muito lembra um John Wick e nos faz sentir estar dentro de um anime pela enorme abundância de luzes neon nos cenários.
Kate conta a história de uma assassina implacável, interpretada por Mary Elizabeth Winstead, que já perto de se reformar de uma vida embebida de homicídios é envenenada no Japão, sendo-lhe diagnosticado apenas um dia de vida. A partir daí, a narrativa obtém um novo rumo e segue-se a ideia central do roteiro, razão em função da qual realiza todos os seguintes atos em que se foca o filme: a sua vingança.
Nesta obra cinematográfica, a protagonista obtém um papel não só central, como vital para prender e fascinar o espetador. Consegue, da melhor maneira, desempenhar o papel sem utilizar a sua sensualidade ou recorrer ao estilo de uma femme fatale, mas sim, encarando todos os desafios de frente sem nunca recuar ou mostrar receio e arrependimento. Este carisma de força e brutalidade prende-nos à sua capacidade de dominar perfeitamente todos os momentos da ação. Através da sua força de vontade de cumprir os seus objetivos e pela sua técnica em artes marciais, características que não estão ligadas à força, a personagem afasta-se de um rótulo masculinizado presente em muitos protagonistas de filmes de ação.
Em todas as lutas e momentos de mais tensão, a câmara e os movimentos de câmara adquirem um papel fulcral. O cameraman parece acompanhar perfeitamente todas as deslocações das personagens, que se revestem em lutas bastante ambiciosas. Aqui entra o enorme talento de Cedric para os efeitos visuais. Realizando inúmeros travellings e rotações, proporcionando-nos uma luta filmada de todos os ângulos possíveis, vemo-nos hipnotizados pela espécie de dança que os atores envolvidos parecem realizar. Para além disso, a música também tem um papel de destaque, sendo maioritariamente japonesa e acompanhando todas as alturas de maior emoção. No entanto não é de todo discreta, o que por vezes pode desviar o nosso foco para a banda sonora distraindo-nos da cena.
Apesar da imagem estar bastante bem conseguida, o roteiro deixa um pouco mais a desejar. Os diálogos são muitas vezes previsíveis e um pouco soltos, sem grande continuidade. Tanto a história e as motivações das personagens que envolvem a protagonista, como a da própria, estão pouco aprofundadas. Isto impede-nos de criar uma ligação de maior empatia e de captarmos melhor o seu progresso e desenvolvimento, como seria esperado com o desenrolar da narrativa. Sem embargo, ao interagir com Ani (Miku Martineau), filha de um homem que ela havia matado no passado, Kate revela um lado bastante humano e carinhoso que até aí não conhecíamos.
Um dos pontos fortes do filme é sem dúvida a evolução do estado físico de Kate, perfeitamente retratado. Existe uma ironia patente, pois há medida que ela perde forças e o seu corpo sente cada vez mais os efeitos fatais do veneno, também os desafios e obstáculos que Kate tem de ultrapassar se vão tornando maiores. Desta forma, este facto provoca uma certa aflição ao espetador, mas também uma enorme admiração, pois parece que a protagonista ganha cada vez mais motivação e nunca desiste.
Apesar de ter um argumento medíocre, Kate é um filme que sem dúvida prende toda a nossa atenção, onde Mary Elizabeth Winstead tem um papel formidável, fazendo-nos ansiar pelo desfecho e questioná-lo. Os momentos de mais ação estão bastante bem conseguidos e à parte de uma cena de carros, onde os efeitos visuais estão muito carregados e exagerados, estes parecem estar bastante bem encaixados no desenrolar da longa-metragem.
Título original: Kate
Realização: Cedric Nicolas-Troyan
Argumento: Umair Aleem
Elenco: Mary Elizabeth Winstead, Woody Harrelson, Miku Patricia Martineau
EUA
2021