Há quem diga que “de pequenino é que se torce o pepino”. Apesar de refutável, a verdade é que a cantora e atriz portuguesa Lúcia Moniz é fruto do relacionamento de dois artistas. Ligada ao mundo das artes desde cedo, até então, participou em mais de cinco dezenas de projetos de representação, deu voz a inúmeras personagens, lançou cinco discos e ainda dois livros. Esta quinta-feira, dia 9 de setembro, celebra 45 primaveras.

Lúcia Moniz nasceu a 9 de setembro de 1976, em Lisboa. Filha do artista Carlos Alberto Moniz e da cantora Maria do Amparo, desde cedo esteve ligada ao mundo artístico. Com seis anos de idade, ingressou na Academia de Música de Santa Cecília. Aos 14 anos, iniciou os estudos de piano e violino. No entanto, o seu percurso na televisão portuguesa havia começado muito antes.

Sara Matos | Global Imagens

Com apenas cinco anos de idade, participou no programa de humor da RTP Sabadabadu (1981). Acompanhada pelos seus pais ao piano, Lúcia Moniz deu voz a “Miau Fufu”. Longe das interpretações atuais da artista, como é expectável, não deixou de deliciar todos aqueles que assistiram à sua performance – “Os três gatinhos / Perderam os chapelinhos / Puseram-se a chorar / Ó mãe, mãezinha / Os nossos chapelinhos / Não os pudemos achar”…

Aos nove anos, na mesma emissora, teve aparições no projeto televisivo infantil Zarabadim (1985). Da autoria de Dulce e José Fanha, o programa contou com a direção musical do seu pai, Carlos Alberto Moniz. Do Zarabadim resultou o álbum Arca de Noé (1996), ao qual a cantora emprestou a sua voz. No entanto, já em 1990, a pequena artista havia participado no álbum Pirilampo Mágico, juntamente com o seu progenitor, Carlos Cunha, Marina Mota e Nucha.

Em 1996, com apenas 19 anos de idade, venceu o Festival da Canção, com o tema “O meu coração não tem cor”. A quarta música da noite contou com um coro robusto, composto por Fernanda Lopes, Laura Ferreira, Manuel Lourenço e Telmo Miranda. Do compositor Pedro Osório e do letrista José Fanha, a composição corresponde a um elogio à música portuguesa – “Andamos todos a rodar na roda antiga cantando nesta língua que é de mel e de sal / O que está longe fica perto nas cantigas que fazem uma festa tricontinental”. No Festival Eurovisão da Canção, Lúcia Moniz acabou por ficar no 6º lugar.

No ano seguinte, participou em duas telenovelas e ainda se aventurou pelo mundo das dobragens. Na RTP, protagonizou as gémeas Bárbara e Susana Gomes, em A Grande Aposta (1997) e Ana, em Terra Mãe (1997-98). As irmãs de A Grande Aposta viviam no circo. Bárbara era uma trapezista determinada e egocêntrica, que não gostava da sua gémea por esta receber mais atenção por ser cega.

Por sua vez, Ana era uma jovem alegre e com a vida (aparentemente) mais do que planeada. No entanto, uma telenovela não teria interesse se não tivesse um pouco de conflito e Ana, já noiva, acabou por se apaixonar por outro homem. Além destas personagens, 1997 marcou a sua participação no filme de animação infantil Anastasia, interpretando os seguintes temas: “Regresso ao Passado“, “Uma Vez em Dezembro” e “Tu Vais Aprender“.

Possivelmente apaixonada pelas dobragens, em 1998, deu voz a mais três personagens – a Zípora, em O Príncipe do Egipto; a Pocahontas, em Pocahontas II: Viagem a um Mundo Novo, e Kiara, em O Rei Leão II: O Reino de Simba. Ainda no mesmo ano, experimentou o universo da apresentação. Lado a lado de Carlos Ribeiro, apresentou o Festival RTP da Canção de 1988.

O último ano do século XX ficou marcado pelo lançamento do primeiro álbum de Lúcia Moniz, Magnólia. Produzido por Nuno Bettencourt, assume-se como um disco jovem, ingénuo e repleto de emoções. Dos nove temas que compõem a obra discográfica, o destaque vai para a composição em português “Perdida Por Ti” –  “Os anjos têm asas e abriste-as para mim / Levaste-me ao céu e eu fiquei assim / Voando por aí / Completamente perdida por ti” – e a composição em inglês “Try Again” – “Passion, you constantly move me / Further and further / Reaching my soul / Next time around / Try again”.

Em 2000, regressou à representação. Primeiro na TVI, fez parte do elenco da telenovela Todo o Tempo do Mundo, com a sua Ana Carlota. De seguida, retomou à RTP, onde deu vida a Joana, em Ajuste de Contas, e Henriqueta, em Alves dos Reis.

Até 2010, Lúcia Moniz teve inúmeras participações em produções nacionais. Nos intermédios, a artista estreou-se no cinema e no teatro. Em 2003, ganha o seu primeiro papel internacional, em Love Actually (O Amor Acontece). Na comédia romântica, Lúcia Moniz interpreta uma empregada doméstica portuguesa, por quem uma das personagens principais se apaixona. No filme a atriz teve a oportunidade de trabalhar ao lado de atores como Alan Rickman, Emma Thompson, Hugh Grant, Keira Knightley e Colin Firth.

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Seguiram-se as produções cinematográficas História de Papel (2005), A Escritora Italiana (2007), Second Life (2009), Encontro (2009) e Um Beijo na Testa (2010). Integrou o elenco das peças de teatro ABC da Mulher (2005), Música no Coração (2007), West Side Story (2008-09) e Um Elétrico Chamado Desejo (2010). Para além disso, deu a sua voz à composição “Um Amigo é Um Dom”, do filme Sininho e o Tesouro Perdido, e interpretou Isabel Green, do filme Nanny McPhee e o Toque de Magia.

Por fim, lançou o seu primeiro livro, Taberna 2780 (2009). Segundo avançado, a obra, enquadrada na categoria literária de culinária, “elimina as preocupações com escolhas e decisões e o cliente apenas tem de divertir-se e saborear os pratos que foram elaborados a pensar na combinação com vinhos existentes nessa semana, também servidos a copo”.

Sem tempo a perder, lança ainda dois discos, 67 (2002) e Leva-me para casa (2005). Numa versão mais madura da artista, somos presenteados com composições como “Asas na Mão”, “Carta (Nua e Crua)”, “Tudo em Comum” e “Wait”. Ademais, o ano 2010 marca o seu primeiro trabalho internacional no mundo das séries, com Living In Your Car da HBO.

Depois de tantos projetos, poderíamos esperar uma paragem por parte de Lúcia Moniz. Contudo, a artista prova-nos o contrário. De 2010 a 2019, participou em mais de 10 projetos televisivos, em sete filmes, em cinco peças de teatro e, ainda, lançou mais dois álbuns – Fio de Luz (2011) e Calendário (2015) e um livro – Vou Tentar Falar Sem Dizer Nada (2013).

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Mais recentemente, fez parte dos projetos A Espia, os Quarenteens, O Atentado e A Crónica dos Bons Malandros e nos filmes Fátima e Listen (2020). Em 2021, podemos vê-la nas longa-metragens Sombra e na minissérie Operación Marea Negra. Neste momento, resta-nos esperar pelos projetos Falta Injustificada, Amadeo e Os Armários Vazios, que ainda se encontram em pós-produção. Até lá, desejamos um feliz aniversário a Lúcia Moniz.