O protótipo já foi testado e nas próximas duas semanas vai ser disponibilizado gratuitamente.

Emanuel Ferreira, alumnus de Design do Produto da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) e CEO da DevelopKings, desenvolveu uma aplicação e um monóculo de realidade aumentada com o intuito de ajudar pessoas com deficiência auditiva a ver o mundo com legendas. Em conversa com o ComUM, Emanuel Ferreira explica melhor o que o motivou a desenvolver o projeto “Ouver”.

O projeto “Ouver” surgiu pois Emanuel Ferreira trabalha com uma pessoa com deficiência auditiva. “Entrava muitas vezes na sala e ela não se apercebia da minha presença e assustava-se sempre”, conta. “Eu falava com ela e ela entendia-me ao ler os lábios, só que depois, com a pandemia e o uso de máscara, notei que ela se isolou. Então, comecei a pensar que tinha que haver alguma forma de conseguir comunicar com ela e dar-lhe mesmo a hipótese de “ouvir””, relata Emanuel Ferreira.

Ao investigar as soluções baseadas na técnica usada nos óculos da Google e óculos de realidade virtual, o CEO da DevelopKings concluiu que teria que haver uma forma de conciliar estas tecnologias e resolver o problema. “A partir daí, peguei na capacidade que os telemóveis têm hoje de nos entender (quando falamos para a assistente virtual e vemos o texto a aparecer) e pensei que, se conseguisse transmitir esse texto para algo que ela pudesse ler, tinha a solução”, revela.

Após várias tentativas e análises, Emanuel Ferreira concluiu que o dispositivo teria que ser um híbrido entre os Google Glasses e os óculos de realidade virtual. O investigador descobriu que, com os óculos baseados no princípio da Google, o que se vê é um reflexo de um monitor numa película transparente. No entanto, se houver muita luz, por exemplo ao estar na rua em pleno dia, essa luz impede de ver a imagem, “tornando-os completamente inúteis”. Com os óculos de realidade virtual, não há qualquer tipo de problema com luminosidade, no entanto, “deixa-se de ver o mundo”. Assim, o híbrido desenvolvido por Emanuel permite ver o monitor numa parte reduzida do campo de visão, em qualquer tipo de luminosidade. “A solução completa passa por usar o telemóvel na captação do som e conversão da voz em texto, e depois esse texto aparece na parte de baixo do campo visual, como uma legenda de um filme”, explica o CEO da DevelopKings.

O criador pretende tornar o projeto acessível à população geral. “Eu consegui com que fosse ultra barato. Porque, na realidade, nada disto é complexo”, afirma Emanuel Ferreira. No total, é gasto cerca de 8,50€ para construir o dispositivo. “Como se pode ver é menos que ir ao cinema”, acrescenta. “Por mais que eu quisesse fazer dinheiro com isto tenho que deixar de ser egocêntrico e invejoso e pensar que, no mínimo, um dia morro e fiz alguma coisa pela sociedade”, confessa.

Emanuel Ferreira pretende lançar o projeto sobre a licença free for non comercial use. “Ou seja, eu vou preparar um tutorial de como se faz o dispositivo de raiz para pessoas que não tenham qualquer conhecimento prévio na área. Assim garanto que, quem necessitar, pode fazer sem me dar qualquer tipo de lucro. Porém, se alguém quiser fazer dinheiro com o projeto, terá de contribuir monetariamente para o seu desenvolvimento”, enuncia.

O protótipo já foi testado e comprovado e nas próximas duas semanas vai ser disponibilizado gratuitamente. Segue-se o contato com associações de apoio a pessoas com deficiência auditiva e instituições de ensino superior para continuar a aperfeiçoar o dispositivo.