Após trailers que causaram polémica nas redes sociais devido a personagens aparentemente unidimensionais e estereotipadas, Q-Force estreou na Netflix este setembro. A série de animação revela-se, contudo, uma agradável surpresa.

A nova aposta da Netflix foca-se na vida de Steve Marryweather (Sean Hayes), um espião homossexual que, devido à sua orientação sexual, acaba por ser enviado para o departamento em WeHo, conhecido pela população predominantemente LGBTQ+. Lá, forma uma forte equipa com outras personagens queer. A mecânica lésbica Deb (Wanda Sykes), a drag queen perita em disfarces Twink (Matt Rogers) e a hacker Stat (Patti Harrison).

Após 10 anos sem qualquer proposta de trabalho, a equipa finalmente encontra um caso que é capaz de chamar a atenção do chefe homofóbico, Dick Chunley (Gary Cole). Contudo, apesar de serem bem sucedidos, este acredita que devem ficar sob a supervisão de um super-espião “super-hétero”, Rick Buck (David Harbour).

Lutando pela aceitação e reconhecimento, o agente Marry (diminutivo usado pejorativamente por Dick para se referir a Marryweather) e os seus colegas embarcam em diversas missões. Estes trabalham, não só para parar os malfeitores, como também para provar o valor da sua comunidade.

Com uns primeiros episódios que parecem justificar as preocupações levantadas com os trailers, a série acaba por se desenrolar de forma agradável. As personagens são previsíveis? Um pouco, mas a série tem um bom ritmo e, mesmo que por vezes algo esperáveis, as piadas entretêm e fazem os 26 minutos de episódio valer a pena.

Tendo em conta que, apesar de ser sobre uma minoria, a série tem como pretensão aprazer as massas, há momentos que parecem exagerar as características mais estereotipadas. Contudo, as referências constantes à cultura pop e mesmo à própria história da comunidade LGBTQ+, certamente irão deleitar os espectadores que sejam membros da mesma. Além do mais, apesar de várias situações caricatas próprias de uma ficção sobre espionagem, existem instantes em que são apresentadas ocorrências comuns à vida de qualquer pessoa queer.

Com um elenco também composto, maioritariamente, por personalidades publicamente “fora do armário”, a série ganha um maior tom de autenticidade. Para além disso, todas as vozes encaixam quase perfeitamente com as personagens a que correspondem.

Com uma mensagem de inclusão e cheia de boas intenções, a série apresenta ainda muito comédia à mistura. Assim, Q-Force revela-se uma divertida opção para quem procura uma série para se distrair, mas sem muita profundidade.