Estreada a 20 de agosto, Sweet Girl  é uma obra cinematográfica distribuída pela Netflix que, ao contrário do que se espera, maravilha e deixa o espetador de queixo caído com a abundância de talento e criatividade. No entanto, o suspense não cessa em revelar a triste realidade de um mundo corroído pelo capitalismo.

Retratando uma moldura de família feliz, o filme mostra o quão devastador pode ser a descoberta de uma doença e o quão difícil é a batalha. Ray Cooper, um homem dedicado à família e à luta contra o cancro da mulher, promete fazer justiça contra aqueles responsáveis por tirar do mercado a possível cura para a doença da esposa. Quando a busca pela verdade conduz Ray a uma rede de conveniências políticas e subornos, o protagonista vê-se obrigado a proteger a única pessoa importante que lhe resta: a filha.

Como já era expectável, o elenco prometeu e cumpriu. Com um talento inexplicável para o mundo do cinema, Jason Momoa dá vida a Ray, que vive constantemente com os sentimentos à flor da pele. Mas isso não o impediu de fazer um bom trabalho, visto que Momoa se entrega tanto ao papel, que acaba por envolver o espetador. Cada movimento, cada palavra do ator transporta-nos para a tela, criando em nós uma forte ligação com a sua personagem. Isabela Merced não fica aquém e simboliza o potencial dos jovens para serem protagonistas.

Em termos de aspetos mais técnicos assiná-lo as analepses que se apresentam como fulcrais para o decorrer da obra. Assim, é usada uma no início, que vai apresentar tudo o que contribuiu para determinar aquele desfecho, e outra em forma de flashback, que vai em busca de memórias vividas num passado isento de tanto sofrimento. A narrativa em si também carrega mensagens bastante fortes e impactantes – “Não somos mais do que aquilo que passamos”. O plot twist é o que mais nos deixa em êxtase, porque ninguém está à espera de uma reviravolta tão surpreendente e inusitada.

Ainda assim, o que mais admiro nesta longa metragem é o levantamento de várias questões. Neste caso, questões que envolvem a corrupção e as intenções das grandes empresas farmacêuticas. Mostra-nos como funciona a lei do mercado e, como as grandes empresas têm o poder de subornar a concorrência para que ambas façam mais dinheiro. O mote de todas elas é assegurar o direito humano básico a uma medicação segura e barata, em prol de se salvarem vidas. No entanto, isso não acontece. A nua e crua realidade é que tudo está orientado para o simples papel a que chamamos dinheiro, que por si só tem bastante valor.

Apesar das controvérsias geradas por um plot twist genial, o filme Sweet Girl alerta-nos para os defeitos de um sistema conduzido pela avareza. Com esse sistema corrupto surgem aqueles que detêm o poder e ao qual nós estamos subjugados.