Ansiado pelos fãs mais fervorosos há cerca de um ano, Trip At Knight é um disco insano, tumultuoso e sublimemente tonificado por melodias futurísticas trap. Lançado a 20 de agosto de 2021, Trippie Redd convida a orbitar no novo mundo mitológico e espirituoso do seu quinto álbum de estúdio. Este novo projeto musical reúne colaborações com dez prestigiados artistas, como Lil Uzi Vert, Playboi Carti, Ski Mask The Slump God, Juice WRLD e XXXTENTACION.

De raízes humildes de uma vila de Ohio, Michael Lamar White II constrói, com apenas 22 anos, um legado precioso na indústria musical. De talento inigualável, a sonoridade do cantor e compositor norte-americano transcende numa mescla de influências multiculturais, que afloram do Hip-Hop, Punk e Rock alternativo ao Pop e R&B. Desde o upload da música “Love Scars” em 2016 no SoundCloud, cada lançamento arrecadou, de imediato, múltiplos recordes de ouro e platina. Hits imortais como “Dark Knight Dummo”, “Bust Down”, “Wish”, “Taking A Walk”, “Topanga”, “Who Needs Love”, “Death” e “Love Me More” são alguns exemplos da ascensão incontestável de Trippie Redd.

Com uma prestação divinal, o artista já ocupou, por cinco vezes consecutivas, o pódio dos gráficos Billboard – inclusive com A Love Letter To You 4, de 2019, a liderar no topo das tabelas. Mais precisamente, esta plenitude intergaláctica começou com o memorável primeiro álbum de estúdio de 2018, Life’s A Trip. Este último cumpre a sequência do seu complexo processo criativo neste projeto discográfico Trip At Knight. Da autoria do artista plástico Stephen Gibb, a própria estética da capa explora, de novo, uma linguagem visual do surrealismo Pop, embelezada por uma composição cromática vibrante entre o caótico enredo fantasioso.

“Molly Hearts” é uma introdução eletrizante que leva o ouvinte a sobrevoar, vertiginosamente, na infinidade do universo imaginário e psicadélico do rapper, que se materializou num imersivo short-film aliado a um jogo promocional. Popular pela terminologia ecstasy, molly é uma substância alucinogénia dissolúvel, que é, metaforicamente, sugerida como dependência tanto no refrão, como nos ad-libs harmonizados. Com um bass intenso e enraivecido por sintetizadores – um clássico deste projeto sempre acompanhado pela sagacidade lírica de Trippie Redd –, “MP5” é a primeira colaboração com o rapper SoFaygo de 19 anos (recém-contratado pela gravadora Cactus Jack Records de Travis Scott). Este tema celebra o crescimento na indústria e também a oportunidade única de SoFaygo ter o seu primeiro brilho nas tabelas de Billboard Hot 100. Emoções delirantes estas que se transportam para o videoclipe apocalíptico rodeado de zombies.

Segue-se “Finish Line” que dá continuidade à narrativa leviana em nuances agradavelmente agudas. Envolto de detalhes libidinosos, o título desta terceira faixa provém da analogia ao auge de intimidade com a parceira amorosa. Aliás, o artista compôs, de modo astucioso, um trocadilho voluptuoso que se personifica, foneticamente (segundo a sonoridade do abecedário inglês, “R-U-N”), no seguinte segmento versado: “She stick her tongue out, look back and spell R-U-N/She just wanna have fun, she’s so sick and tired of love”. Graças ao coautor de músicas intemporais da discografia de Redd, como “Love Sick”, “Under Enemy Arms” e a recente “Love Scars 4”, o produtor canadiano Hammad Beats potenciou, mais uma vez, o nível de qualidade genial deste projeto.

Há muito desejada, “Holy Smokes” é a colaboração de estreia com Lil Uzi Vert, um grande nome da indústria musicalHip-Hop. Apesar deste segundo single glorificar todo o império multimilionário de ambos, Trippie Redd lamenta o infortúnio de que o dinheiro não compra, porém, amor genuíno: “All this cash on me, but I still can’t buy love”. Este registo lírico ondulante encaminha o ouvinte, de novo, para um estado de espírito emotivo tão característico nos quatro icónicos projetos musicais A Love Letter To You, nos quais o artista relata memórias de cada relacionamento passado marcante. Todavia, a energia de Uzi desperta um cariz frívolo tanto nos ad-libs magnéticos do seu verso, como na forma surpreendente que entrelaça com a voz de Trippie Redd.

Na constelação quase analógica de Trip At Knight, o quinto tema abraça um sentimento de nostalgia, especialmente para quem cresceu com a épica série anime japonesa Dragon Ball. Inundada de jogos de palavras, a faixa “Super Cell” intitula o maior antagonista da história. Destaca-se a ideia de superioridade artística ao aludir que a concorrência vê Trippie Redd como um ser celestial lendário (“They can’t comprehend now, it’s real/They don’t understand it, Planet Namek like I’m Goku”). Até a própria musicalidade imbuída nos videojogos, enquadra-se na textura excêntrica do disco.

Altamente antecipado desde a popular antevisão em dezembro de 2020 no Instagram do artista, o principal hit singlede Trip At Knight, “Miss The Rage”, com Playboi Carti estreou a 7 de maio e triunfou na posição #11 nos gráficos Billboard Hot 100. Aprimorado com um bass sólido ruidoso capaz de desafiar a gravidade dos palcos, esta música iniciou uma nova era. Com um instrumental proveniente de uma versão sample incluída num pack gratuito EDM de produção musical Cymatics.fm, mas criativamente invertida pelo trabalho infalível do jovem produtor Loesoe. O rapper Playboi Carti completa esta magnitude estridente com versos ríspidos e impudicos num ambiente noturno.

Sem demora, “Supernatural” é segmentado em duas partes. Numa atmosfera obscura e de pura rebeldia, Trippie Redd manifesta uma mudança radical em menos de um minuto para um freestyle tempestuoso e visionário. Com uma inesperada reviravolta, a produção é sentida em chamas em virtude de Nadddot, produtor também no tema precedente (“Super Cell”). Ao reutilizar um dos versos da faixa anterior, Trippie Redd faz uma entrada implacável e prepara palco para o rapper Ski Mask The Slump God no oitavo tema, “Demon Time”. Cúmplice à imagem de crepúsculo, a lírica Trap é profundamente tingida por uma ilícita aura demoníaca. Numa transição harmonizada com ironia, o timbre rouco singular de Ski Mask conflui em rimas audaciosas, velozes e intransigentes. Esta reunião reside no videoclipe rebeldemente sinistro e arrojado.

Com enorme êxito, “Matt Hardy 999” faz renascer, por instantes, uma das melhores duplas freestylers de sempre. Trippie Redd e Juice WRLD ostentam uma interação próxima ao alternar o microfone de modo eterno na nona faixa – definitivamente, simbolismo à ode infinita de positividade “999” do cantor Juice WRLD, que perdeu a vida após uma overdose trágica a 8 de dezembro de 2019. Entre quatro colaborações oficiais e múltiplas inéditas, os sete versos vangloriam o estilo de vida monumental e prestígio na comunidade Hip-Hop, tal como no único “1400/999 Freestyle”de 2018. Resultado de uma nova versão do instrumental original para a tornar uníssona com o projeto Trip At Knight, é de salientar que a melodia transfigura, gradualmente, o encanto nos segundos finais para tons litúrgicos fúnebres e nostálgicos para homenagear o talento perene do artista de Chicago.

Em sequência, a décima faixa, “Vibes”, reverbera o brilho das conquistas do momento presente num instrumental hipnotizante. Já “New Money” exibe a capacidade vocal do artista em partilhas vulneráveis e traumatizantes no limiar do nível emocional. Com uma percussão texturada irregular, o ouvinte é absorvido num estilo Future Bass808 kick produzido pelo grupo holandês GOONTEX, incorporando a abordagem sónica de um dos maiores hits da discografia de Lil Uzi Vert, “Erase Your Social”.

Nome do alter ego fantasmagórico do herói de uma série infantil, “Danny Phantom” é a quarta colaboração de Trippie Redd com um dos rappers mais irreverentes deste milénio, XXXTENTACION, que faleceu de forma cruel a 18 de junho de 2018. Num estilo remix, esta fusão multidimensional reporta o génio criativo numa brutalidade rítmica que cessa de modo reminiscente. Criadores do sucesso multiplatinado “Fuck Love” de 2017, a faixa 12 é introduzida por um excerto de uma reportagem televisiva, na qual é noticiado o ato de vandalismo de um jovem adolescente a quatro veículos de luxo ao esculturar com uma pedra “TRIPPIE”, “14” e “1400”, simbolismos angélicos de Trippie Reddemblemados pelo seu corpo. Também submerso no universo utópico de Life’s A Trip, a ocorrência é personificada por desenhos animados do duo mágico num tributo emocional.

As três faixas seguintes perpetuam um nível de similaridade. Após alucinante “Space Time”, o tema 14, “Baki”, irradia um ritmo borbulhante, colorido por um segmento da série manga e anime japonesa de artes marciais, Grappler Baki, que, recentemente, foi subtraída de todas as plataformas de streaming. Logo depois, “iPhone” é preenchido por curtos ad-libs e distingue-se por um loop Hyperpop genérico divertido. Refletindo no iminente estrelato, admite que a sua presença pode ser demoníaca para a concorrência (“Man, they wanna send me to the heavens gates, but I’m chillin’ like a devil/ (…) This the real me, not no ego, man, I’m on a whole ‘nother level”).

Com um ritmo old school temperamental proporcionado pelos sinos percussivos enigmáticos, os aclamados rappers Polo G e Lil Durk unem-se a Trippie Redd em “Rich MF” com um desempenho ímpar tão clássico de ambos. Munido de debates sobre criminalidades, este tema palaciano é fruto, inclusive, do talento de mais de cinco entre os 30 produtores de excelência deste álbum.

Por ironia, a primeira música antevista de Trip At Knight nas redes sociais do artista norte-americano, a finais de julho de 2020, acaba por descortinar o seu desenlance com a última faixa “Captain Crunch”. É o tema mais longo, mas também conta com a colaboração de três artistas impopulares do estado de Detroit. Um clássico generoso de Trippie Redd, protagonizando num estilo inspirado no registo Posse Cut, isto é, uma forma popular de música Hip-Hop que envolve sucessivos versos com quatro ou mais rappers numa só faixa.

Há muito desejada por Trippie Redd, “Betrayal” eclode da união com o rapper canadiano Drake, que estreou na terceira faixa um dia após o lançamento oficial do projeto, completando 18 faixas no total. Envolvendo Drake numa excelente transição, o tema prova, sobretudo, o crescente prodígio da carreira de Trippie. Não obstante, este tema adicional encerrou uma adversidade polémica com a sua gravadora. Ao ser incluído de modo não-intencional pelo artista em duas novas versões do álbum “Complete Expanded Edition” das plataformas de streaming, Trip At Knightfoi impedido de atingir a primeira posição, dado o insólito de coexistirem três versões do mesmo projeto a preencher o top 10 das tabelas.

Mesmo após dissabores e contratempos, o disco revitaliza uma entrada, indiscutivelmente, auspiciosa, ousada e consistente. Com o primeiro lugar no Top R&B/Hip-Hop Billboard e segunda posição nos gráficos Billboard 200, o rapper avança, em exclusivo, para um nível inovador no seu amplo espólio musical. Repleto de produções musicais únicas, Trippie Redd testemunha ser um artista sem limites com um reportório estilístico versátil e sempre virtuoso, tal como Trip At Knight.