Fome chegou a Portugal no dia 4 de dezembro de 2008. O filme do realizador Steve McQueen é baseado na história de um membro do Exército Republicano Irlandês, Bobby Sands. Michael Fassbender é o ator que protagoniza a longa-metragem.

A obra cinematográfica acompanha a vida de Bobby Sands (Michael Fassbender), um preso político. Sands inicia uma greve de fome em forma de protesto contra a medida do governo de retirar o estatuto de “preso político” aos paramilitares presos.

O filme tem imagens extremamente fortes e cenas muito intensas. A falta de condições, que os prisioneiros acabavam por proporcionar a eles próprios era terrível, a alimentação era deplorável e a própria caracterização estética das personagens era impressionante. A nível da construção cinematográfica, este projeto destaca-se em termos de personagens e som.

Reparamos logo de inicio em Bobby Sands, um homem determinado para com a sua causa, orgulhoso, demonstra afeto pela sua família e era religioso, sendo visível através dos seus conhecimentos bíblicos em conversas com o padre Dominic Moran. Por sua vez, atentamos em Raymond Lohan (Stuart Graham) um guarda prisional, parcialmente perturbado, assustado, com comportamentos obsessivos e paranoicos, frustrado e acima de tudo triste.

Existe, também, Davey Gillen (Brian Miligan), que é um paramilitar recém-chegado à prisão. Denota-se, primeiramente, a sua coragem, determinação, mas muito obediente para com os guardas. Porém a certa altura, vêmo-lo resistente aos guardas, detentor dos seus valores e princípios e frágil a nível emocional.

Por último, debrucemo-nos em Riot Prison (Ben Peel), um agente da força especial. Riot tem um período de ecrã curto e em nenhuma das cenas em que aparece tem qualquer tipo de fala. Todavia, é a personagem que mais é representado pelas expressões faciais e atitudes, sendo toda a sua personalidade construída em volta disso. A personagem estava sempre com ar sério e assustado comparativamente aos restantes colegas de profissão. Apresenta uma postura demasiado tensa, demonstrando desconforto, nervosismo, stress e inquietação para com a situação à qual tinha sido sujeito na prisão de onde estava Bobby.

Todo o desenvolvimento e construção pessoal das personagens ocorre de forma parecida para todas no filme. Apesar de nem todas terem o mesmo tempo de antena, todas elas têm atitudes e expressões faciais que demonstram a forma como se sentem. Toda a sua personalidade é construída através do que vemos e não do que ouvimos. O que nos leva a outro aspeto importante acerca do filme: o som.

Esta longa-metragem não possui banda sonora. As únicas músicas que o constituem são as melodias de um violino e de um piano, tocadas numa cena no meio do filme e na parte final, nos créditos, respetivamente. O facto de o filme não possuir qualquer tipo de música faz com que os momentos de silêncio sejam importantes e que os diálogos, movimentos ou até gestos das personagens tenham grande importância no contexto cinematográfico.

Os sons do filme são, então, quase todos produzidos pelas personagens, ou pelas ações das personagens ou por objetos (som diegético). Neste caso em concreto, os sons tem bastante impacto, conseguindo-se realmente entender o ambiente em que as personagens estão. É possível sentir o clima, a tensão no ar, consegue-se sentir o estremecer de uma parede quando uma cadeira embate nela. Todos os sentimentos das personagens transparecessem para o público de forma tão real que o faz sentir como se ele próprio fosse um prisioneiro naquela mesma prisão.

Num filme sem qualquer tipo de música, o silêncio torna-se uma fonte de concentração e de informação. Tudo é observado pelo público ao maior detalhe. A simplicidade sonora torna as cenas visuais bem mais complexas, onde tudo pode ser importante, tudo pode querer dizer algo, tudo pode ser uma pista para uma futura cena.

Mostrando a verdade nua e crua, Fome é uma longa-metragem onde o real, o visual e o auditivo têm impacto. Tudo isso fez a longa-metragem vencer imensos prémios e deixou o diretor com enorme reconhecimento no meio dos grandes do cinema.