Na semana em que a seleção nacional de futsal se sagrou campeã do mundo, partilhou-se exaustivamente a notícia de que Bebé era o único atleta não-profissional dos 17 jogadores presentes. Apesar de o investimento no futsal ter vindo a aumentar, as modalidades de pavilhão sempre viveram a “contar os trocos” e a situação pandémica veio confirmar, e agravar, esse cenário.

A falta de investimento e de planos de desenvolvimento a longo prazo das modalidades e infraestruturas desportivas é cada vez mais preocupante em Portugal. Apesar do Programa de Reabilitação de Infraestruturas Desportivas (PRID) prever a renovação de 94 infraestruturas, ainda há um longo caminho a percorrer para elevar o desporto português ao mais alto nível. No entanto, as políticas públicas portuguesas de financiamento do Desporto são, quando comparadas com as médias europeias, 40% inferiores.

Além das reclamações recorrentes feitas ao PRID, o Comité Olímpico de Portugal (COP) lamentou, em maio deste ano, o esquecimento político com o desporto, depois de ver reduzido o financiamento do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Com este panorama, fica difícil fazer evoluir um setor que contava, em 2019, em Portugal, com cerca de 688 mil pessoas. Torna-se assim urgente haver uma intervenção e um apoio sustentado do Estado nas modalidades desportivas, para os atletas elevarem os níveis de competitividade dos seus campeonatos.

As quatro medalhas arrecadadas em Tóquio2020 marcaram o melhor resultado português de sempre nos Jogos Olímpicos, mas também trouxeram à agenda os problemas inerentes às modalidades e às elites da alta competição. Excetuando o futebol, o desinvestimento do Estado reflete-se acentuadamente na dificuldade de garantir um futuro financeiro para os atletas profissionais portugueses.

Não obstante, as condições dadas aos atletas de alta competição não permitem trabalhar exclusivamente no desporto. Os subsídios são escassos (um campeão olímpico recebe 1.300 euros mensais durante dois anos e uma bolsa de 28 mil euros para preparação) e limitados por diversos critérios. A todos estes indicadores acresce ainda o envelhecimento da população portuguesa e a desvalorização da prática desportiva, o que cria dificuldades à sustentabilidade do modelo desportivo. A solução para revitalizar as modalidades desportivas não passa por um caminho curto e simples, mas há várias medidas que devem ser tomadas o mais rapidamente possível.

Entre a aposta no desporto escolar, o alargamento do leque de modalidades ensinadas nas escolas e o aumento das equipas e competições da formação, o Estado tem larga margem para explorar o desporto e a sua prática, começando pelos mais jovens. Isto porque o desporto escolar, note-se, teve um papel fundamental na promoção da atividade física, bem como no desenvolvimento das competências de cada aluno e na formação de muitos outros enquanto atletas profissionais.

O apoio do Estado aos clubes e às respetivas modalidades restringe-se à esfera local. O investimento em pavilhões e locais desportivos é, frequentemente, condicionado pelas preferências da população ou é fruto de bons desempenhos de um residente. Ou seja, em Portugal, é quase inexistente uma política desportiva com impacto positivo na área.

É por tudo isto que a prática de desporto devia ser encarada com seriedade para que os nossos atletas possam competir nas diferentes modalidades ao mais alto nível e com dignidade. Não se enganem, um país com políticas desportivas mais dinâmicas e desenvolvidas é um país mais rico.