O medicamento liberta, de forma controlada, uma substância ativa nas articulações inflamadas.
O projeto está a ser desenvolvido por uma equipa de investigadores da Universidade do Minho, em parceria com Centro de Engenharia Biológica (CEB) e da Solfarcos. As empresas BlueClinical e Bluepharma apoiaram o projeto. A equipa da UMinho espera reduzir a toma da atual injeção de semanal para mensal e com menos efeitos secundários para os pacientes.
A inovação resultou da investigação iniciada há mais de dez anos pela equipa de Artur Cavaco-Paulo no CEB, em Braga. O diretor científico da Solfarcos e professor da Escola de Engenharia da UMinho declarou que a sua ambição é que “seja a opção de primeira linha na artrite reumatoide”, isto porque “aumenta o tempo de uso do metotrexato, mas apenas num período limitado devido aos efeitos adversos que se tornam intoleráveis em doentes crónicos.”
A Solfarcos realizou em setembro o primeiro ensaio clínico de segurança e tolerabilidade, com 32 voluntários saudáveis, sendo 16 homens e 16 mulheres. A BlueClinical obteve o aval do Infarmed e da Comissão de Ética para a investigação clínica, para conduzir o ensaio nas suas instalações de fase 1. A Bluepharma fabricou, caracterizou e controlou a qualidade do medicamento proposto
O novo medicamento baseia-se na molécula de metotrexato, o fármaco de referência no tratamento da artrite reumatoide e de várias doenças autoimunes e cancerígenas. Os investigadores da UMinho encapsularam o metotrexato num lipossoma (nanopartícula de gordura) que tem uma molécula sinalizadora à sua superfície para direcionar a libertação da substância ativa nos locais de inflamação, ou seja, as articulações afetadas pela artrite reumatoide.
Eugénia Nogueira, investigadora corresponsável pela tecnologia e diretora geral da Solfarcos, esclarece que o medicamento “atua especificamente nas células doentes e as caraterísticas dos lipossomas aumentam o tempo em circulação do metotrexato, exigindo assim uma dose muito mais baixa para se produzir um efeito similar ao do medicamento que está no mercado e, por isso, gerando menos efeitos secundários.
Os cientistas preveem que o metotrexato lipossomal permita um maior espaçamento entre doses, passando de uma injeção por semana na posologia atual para uma a cada duas ou quatro semanas. Contudo, só podem confirmar quando realizarem o ensaio de prova de conceito em doentes com artrite reumatoide. A equipa da UMinho acredita que a sua inovação “pode ter um grande impacto” nas diretrizes de tratamento da doença e nos custos associados suportados pelos sistemas de saúde.