Publicado em 2007, Mil Sóis Resplandecentes constitui uma das obras mais renomadas do  escritor afegão Khaled Hosseini. Reconhecido como um fenómeno literário, a obra foi recebida de forma arrebatadora na cena mundial, liderando o primeiro lugar como o livro mais vendido logo após o lançamento das primeiras cópias em várias zonas do globo.

Nesta obra, o leitor é transportado por uma viagem nua do que foram os últimos 30 anos da vida no Afeganistão e um dos períodos mais conturbados da sua história.  Definida por um caráter pluridimensional e completo, este livro conjuga as dimensões históricas, sociais e culturais. Isto é concretizado através de um relato incrível da vida de duas mulheres afegãs de diferentes gerações , Marian e Laila, cujas vidas se entrelaçam pela tragicidade dos eventos. Ao mesmo tempo que acompanhamos os acontecimentos cronológicos do país: a transição da monarquia para a república, o controle comunista, a invasão soviética, o reinado dos Talibã e, finalmente, a reconstrução pós-Talibã.

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Hosseini configurou o romance em quatro partes de modo a alternar a narrativa entre as duas personagens. Na primeira parte do livro conhecemos Marian,  uma menina que teve o infortúnio de nascer filha ilegítima  de um homem rico e três esposas num país decadente, dominado por um regime conservador e ditatorial. Como qualquer outra criança, Marian via o mundo sobre uma lente utópica e inocente cuja felicidade se revolvia sobre os encontros com o seu pai.  Visão que cedo se desvaneceu quando após a morte da mãe foi vendida pelo pai a um homem com 45 anos onde conhece o verdadeiro significado de ser mulher.

Na segunda parte do livro, é inserida uma realidade mais democrática do Afeganistão em que o poder feminino começa a adquirir direitos, e é nesse contexto que nos é apresentada Laila. Completamente diferente de Marian, Laila é uma menina extremamente culta e cujas aspirações são fortemente apoiadas pela família. No entanto, também esta conhece o inferno ao assistir à morte dos pais, ao mesmo tempo que Cabul, a sua cidade, caí sobre o domínio dos Talibã.

Deste modo, o caráter transversalmente humano e intemporal presente em toda a obra faz com que esta ultrapasse todas as diferenças e superficialidades existentes entre o ser humano. E, assim, cave fundo nos nossos modos de ver o mundo, mas sobretudo nas nossas emoções mais naturais. Isso é percecionado não só pelo realismo como Hosseini caracteriza o espaço como também a forma como expõe os defeitos e qualidades do ser humano através da complexidade das personagens. O autor viveu no Afeganistão, portanto, teve essa preocupação de desmistificar os papéis sociais e de expor essa realidade de forma mais objetiva possível.

O autor pretende criticar as contradições e sacrilégios existentes neste país fazendo com que público viva esta história e se envolva no que é uma denúncia exímia da luta das mulheres no Afeganistão. Essa mensagem é transmitida por Hosseini através de um vocabulário simples e sem artificialidades, tornando a sua transmissão clara.

Tendo tudo isto em consideração, a multiplicidade e dimensionalidade de Mil Sóis Resplandecentes tem a capacidade de transcender todas as barreiras que separam os indivíduos, unindo-os por uma causa maior, os direitos humanos. Por este motivo, marca-se como uma obra literária extremamente gratificante tanto a nível cultural como pessoal.