O novo filme de Wes Anderson, Crónicas de França, é a obra cinematográfica mais peculiar e excêntrica do ano. Possivelmente, é a produção mais característica da filmografia de Anderson, que se revela uma bonita carta de amor ao jornalismo.
A sinopse do filme é, à primeira vista, muito simples. Situado na cidade imaginária de Ennui-sur-Blasé, o jornal The French Dispatch, decide terminar a publicação da sua revista, aquando da morte do seu diretor, interpretado por Bill Murray. No decorrer da longa-metragem, e em formato antológico, acompanhamos as quatro histórias que irão figurar a última edição daquela revista.
A primeira história é protagonizada por Owen Wilson, que num monólogo descreve a cidade francesa onde se situa o jornal, tudo aliado aos visuais fantasiosos e semelhantes a uma casa de bonecas tão característicos de Wes Anderson.
Na segunda história e, na minha opinião, a melhor das quatro, Benicio Del Toro interpreta Moses, um artista atormentado. A personagem, condenado por triplo homicídio, encontra em Simone, uma guarda prisional, a sua musa inspiradora. Digo que esta é a melhor das quatro, pelo simples motivo de que contém tudo o que fez Wes Anderson se tornar um dos mais criativos e conceituados realizadores atualmente. Possui o seu humor surreal, por vezes, bizarro e sombrio, a alternância entre o preto e branco (a vida na prisão) e a cor (quando as obras do artista são reveladas) demonstra uma sensibilidade tocante na visão do realizador e como transmite emoções. Por sua vez, quando falamos dos atores e personagens que preenchem esta antologia, temos que referir Adrien Brody, um corrupto que pretende fazer fortuna à custa do “falso” patrocínio e interesse pela arte e Tilda Swinton que narra a história com o seu sentido de humor peculiar. Léa Seydoux como a musa inspiradora também consegue roubar a cena.
Frances McDormand e Timothée Chalamet são os protagonistas do terceiro artigo, que conta a história de uma revolta estudantil que acaba em tragédia. Destaco a personagem de Frances McDormand, a jornalista responsável em relatar os feitos destes jovens estudantes que decidem se revoltar contra o governo da sua cidade através de um jogo de xadrez.
A quarta e última história tem como mote: um jornalista irá entrevistar um chefe de cozinha promissor e pelo meio temos uma trama digna de um filme de suspense, uma sequência de animação de tirar o folego e um final de levar às lágrimas.
A trilha sonora transporta-nos para aquela cidade francesa e faz-nos viajar pelas angústias vividas pelos nossos personagens. Complementa o que é mostrado no ecrã de forma perfeita.
Crónicas de França é uma autêntica carta de amor ao jornalismo, mostra que na maior parte das vezes, a vida um jornalista não é fácil. Objetividade jornalística é um tema bastante discutido ao longo do filme, quando devemos ser objetivos e quando devemos dar um cunho pessoal ao que escrevemos. Tudo questões importantes que o filme faz questão de salientar. Tudo isto aliado ao que poderá ser o filme mais bonito e visualmente impressionante do realizador.
Apesar da inconsistência na qualidade das histórias, Wes Anderson volta a encantar com um elenco de luxo e um guião que mistura sentimento e afeto com humor negro e surreal. A par disso, somo apresentados a um visual que nos deixa maravilhado e uma trilha sonora incrível. Definitivamente, uma das melhores longas-metragens do ano.
Título Original: The French Dispatch
Realização: Wes Anderson
Argumento: Wes Anderson
Elenco: Benicio Del Toro, Timothée Chalamet, Frances McDormand
EUA
2021