A Língua Gestual Portuguesa é considerada, desde 1997, uma das três línguas oficiais de Portugal.

No dia a dia, são várias as (in)verdades sobre os surdos que surgem, muitas vezes, em conversa. Desde a famosa expressão “linguagem gestual portuguesa” à ideia de que existem surdos-mudos, existem vários mitos que, por desconhecimento, insistimos em assumir como verdades absolutas. Para comemorar o dia nacional da Língua Gestual Portuguesa (LGP), aprovada em 1997 pela Constituição Portuguesa, o ComUM desconstrói os principais mitos, confusões e polémicas sobre o assunto.

Não é linguagem gestual. É língua gestual.

Meu dito, meu feito. Quem nunca ouviu alguém referir-se à LGP como “linguagem” gestual que atire a primeira pedra. Segundo um artigo do Público da jornalista Mariana Correia Pinto, “não  existem linguagens gestuais”. Existem, sim, línguas gestuais. Uma linguagem entende-se como qualquer sistema de símbolos ou objeto constituído como signos, como a linguagem das cores ou a linguagem corporal. Por sua vez, uma língua é um sistema de signos arbitrários e convencionais, com uma gramática, estrutura e dinâmicas próprias.

A língua gestual é universal.

Não é assim. Cada país tem a sua língua, com características próprias. Rafaela Teixeira, formadora de LGP, explica, no manual de Ação de Formação de Língua Gestual Portuguesa de 2015, que “assim como as línguas orais, as línguas gestuais desenvolveram-se de forma natural, possibilitando a diversidade de línguas gestuais”. Deste modo, em Portugal subsistem, inclusivamente, diversos regionalismos, como na linguagem oral, notáveis através da diversidade de gestos. De resto, em todo o mundo existem diversas línguas gestuais: a ASL (American Sign Language), a BSL (British Sign Language) ou a LIBRAS (Língua de Sinais Brasileira).

A LGP fala-se da mesma maneira que a linguagem oral.

Não é verdade. O manual de Rafaela Teixeira esclarece que a origem dos gestos tende a cumprir os cinco queremas da língua gestual: movimento das mãos, orientação das mãos, ponto de articulação, expressão facial/corporal e configuração das mãos. Indo além da componente física, os gestos podem ser icónicos (gesto que representa a forma ou ação de um elemento existente) ou arbitrários (convencionados por especialistas e posteriormente validados).

Tendo características próprias como qualquer outra língua, segue regras gramaticais específicas. Assim, a estrutura frásica faz-se através da lógica SOV (sujeito-objeto-verbo), OSV (objeto-sujeito-verbo). O artigo do Público dá como exemplo a expressão: “eu vou para casa”,  que em LGP seria algo como “eu casa vou/casa eu vou”. As frases interrogativas e exclamativas identificam-se com elementos faciais (arquear de sobrancelhas, abano dos ombros).

Os surdos são todos mudos.

As pessoas surdas não são mudas, pois apesar de terem perda auditiva, as suas cordas vocais funcionam normalmente. Por vezes, pode acontecer que algumas pessoas surdas tenham mais dificuldade em falar que outros, devido à incapacidade auditiva, mas conseguem, muitas vezes, falar.

Aprender LGP é muito difícil.

Segundo Mariana Pinto, os especialistas defendem que aprender LGP é como aprender outra língua. Apesar de não ser algo comummente ensinado, existem projetos que querem facilitar esta aprendizagem. Deste modo, a Associação de Surdos do Porto criou a Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa, que consiste num projeto que ambiciona eliminar barreiras comunicativas entre surdos e ouvintes. Depois de efetuarem o registo, os alunos terão acesso a aulas teóricas, acompanhadas de pequenos testes onde poderão verificar e avaliar a aprendizagem. Por outro lado, vão poder, também, aprender alguns gestos.