Com sete álbuns lançados, os lendários do sludge, Mastodon, apresentam agora o seu oitavo projeto, Hushed and Grim. Este que é o primeiro álbum duplo da carreira da banda, conta com 15 músicas e quase hora e meia de sonoridade a presenciar.
Os Mastodon andam há mais de duas décadas a influenciar o metal moderno. Contendo as suas origens no sludge e heavy metal, apresentam projetos pilares como Leviathan (2004) e Once More ‘Round the Sun (2014). Mais recentemente, a banda tem alterado o seu som, divergindo para o prog. The Hunter de 2011 e Emperor of the Sandde 2017 são bons exemplos disso.
Por falar neste último álbum, é importante expressar a minha preocupação ao aperceber-me da absoluta unidade de tempo que Hushed and Grim é. Emperor of the Sand, em termos de composição e instrumentalização geral, foi, a meu ver, aborrecido e previsível. A banda destilou demasiado o seu estilo sludgy e progressivo com toques de alt metal/rock. Em adição, os vocais de Brent Hinds, que são quase o trademark da banda, revelaram-se como os mais inferiores da discografia até este ponto. Tudo isto criou certas reservas ao abordar este novo projeto da banda.
Hushed and Grim não é uma diferença de noite e dia, comparativamente ao antecessor. Aqui a banda continua a experimentar algumas ideias novas e, felizmente, os riscos que Mastodon tomam revelam ser, maioritariamente, mais coesos e justificados. Muitas das faixas trazem um sentimento nostálgico para o som clássico do grupo, mas com um tom mais melancólico.
Como exemplo do tom referido temos, por exemplo, a faixa de abertura “Pain With an Anchor” que apresenta leadsde guitarra sinistros, em junção com sons de baixo e de bateria pesados, bem como dramáticos cleans (vocais usuais no estilo post-core). Estas escolhas artísticas contrastam excecionalmente com as passagens poderosas da música em geral. “The Crux”, por sua vez, é uma faixa ainda mais pesada, com refrões esmagadores que são implementados perfeitamente com os vocais “fora do planeta” de Brent Hills. Este som é um clássico de Mastodon – grosso, firme e corpulento.
Com duas excelentes faixas iniciais, depois do primeiro terço do LP, a banda começa a experienciar com a instrumentalização, o que cai tanto para o bom como para o mau. Em “Skeleton of Splendor” há mais uma tentativa do grupo criar uma balada de metal sinfónico quase como uma abordagem mais misteriosa. Um som que não é horrível e não foram os piores cinco minutos da minha vida, contudo o mixing e a produção geral da faixa distraem demasiado da performance delicada. Um momento ainda mais atrapalhado foi “The Beast”, com uma mistura bizarra de country, prog e sludge, que simplesmente não funcionam, de todo.
Em contraste, temos a “Teardrinker”. Uma das músicas mais cativantes e emblemáticas da carreira de Mastodon, com leads de guitarra sinistros e melódicos, a faixa tem uma aparência quase gótica. Algo que até resulta bem. A banda faz um bom trabalho ao combinar estes elementos de forma coesa no seu som. A fusão, não usual para a banda, assemelha-se até com o estilo campy da banda sueca Ghost.
“Pushing the Tides” é a primeira faixa verdadeiramente violenta do álbum. Totalmente sem mercê, com uma excelente performance de todos os membros. O único ponto negativo seria o mixing. O som da bateria está colocado agressivamente sob tudo o resto, o que afoga os restantes instrumentos e vocais. Fora isso, os riffs são absolutamente grotescos – no bom sentido – e a forma como a banda incorpora elementos de synth é uma excelente adição.
“Peace and Tranquility” é mais um número melódico do projeto, com uma série de boas mudanças de grooves e de riffs a meio. “Dagger” também tem esta mesma estética e variação de ritmo e das melhores performances vocais de Hills. Contudo, o final deixou mais a desejar. Apesar do fim abrupto entrar no tema lírico da música, esperava algo com mais adrenalina, de certa forma.
Com os melhores riffs de Hushed and Grim, “Savage Lands” proporciona um monstro musical que reacende a chama que se estava lentamente a apagar no decorrer do álbum. Uma atuação monstruosa do vocalista, com especial foco para os vocais de fundo que perseguem os principais, mas em forma de grito. A bridge a meio da faixa transporta-nos para o final de um minuto completamente dominado pela guitarra de Brent.
Após este momento fantástico temos a maior faixa do projeto, “Gobblers Of Dregs”, com mais de oito minutos de duração. Este é um dos pontos mais prolongados, no pior dos sentidos, o que é estranho porque, para os standardsde prog, este tempo não é muito longo ou fora do comum. A banda já compôs músicas mais longas e que conseguiram ser mais cativantes de todas as formas. A intro estonteante camufla-se numa balada lenta de metal com vocais muito aquém dos que recebemos até agora. A segunda parte apresenta, também, uma mudança de ritmo enfadonha.
“Gobblers Of Dregs” não é a única faixa longa que desaponta. Temos a “Sickle and Peace”, que possui os versos mais aborrecidos do projeto inteiro e que se refletem no groove geral da música – rígidos e não inspirados. A penúltima, “Eyes Of Serpents”, tem algumas influências de folk que, infelizmente, são afogadas pela instrumentalização estridente. O final, “Gigantium” foi um highlight (graças a Deus), um final justo para um projeto desta dimensão.
De forma geral, a grande extensão de “Hushed and Grim” acaba por ser o que trai o projeto de Mastodon. Estas faixas de cinco, seis, sete minutos e as suas narrativas não se fundem numa experiência épica e grandiosa, que provavelmente era o objetivo. O LP tem muito conteúdo com pouca substância. É verdade que a banda toma alguns riscos, alguns deles, de facto, foram perfeitamente interiorizados na instrumentalização. Porém, com os 90 minutos de duração, podiam ter levantado mais a fasquia. No final, temos um projeto maioritariamente sólido mas, se não forem já fãs de Mastodon, este não será o álbum que vos cativará, apesar de muito mais consistente, robusto e impressionante que o seu antecessor.
Álbum: Hushed and Grim
Artista: Mastodon
Editora: Reprise
Data de lançamento: 29 de outubro de 2021
Julho 11, 2022
Parei de ler no título.