Aventurando-se por novos ritmos e melodias, Jão veste uma nova roupagem sonora no seu mais recente projeto, PIRATA. Nesta obra dedicada a todos os meninos e meninas que já amou, o artista brasileiro apresenta-se cada vez mais honesto, em nome da liberdade de poder mostrar quem verdadeiramente é.
Jão, artista de 26 anos estreou-se no mundo da música em 2016, depois dos covers no canal de YouTube terem chamado a atenção de alguns produtores brasileiros. Nos últimos anos, consolidou-se como um dos artistas pop sul-americanos mais promissores e estabeleceu uma relação de muita empatia com o público. Depois de uma espera de dois anos, PIRATA foi lançado a 19 de outubro.
“Vocês têm alguns dias pra terminar com alguém, porque meu novo álbum tá chegando”. Foi desta forma que, através do Twitter, Jão decidiu anunciar o lançamento do terceiro álbum de estúdio. Conhecido pelas baladas monumentais, instrumentais acústicos e letras de cortar a respiração, estava claro que teríamos mais um álbum dedicado aos corações partidos. Mas não foi bem assim! Numa carta publicada no Instagram, na qual também anuncia o lançamento do projeto, o artista paulistano avisa: “se você espera um álbum de superação, talvez eu te decepcione”. Ao contrário do antecessor ANTI-HERÓI (2019), PIRATA dá-nos a conhecer uma versão mais otimista do músico, que encontrou uma forma mais leve e extrovertida de falar de (des)amor.
Neste caso, o segredo para o sucesso parece ser simples: a verdade. Qualquer um consegue facilmente identificar-se com as conturbadas odisseias amorosas sobre as quais o artista brasileiro canta. Melhor (ou pior) que isso, é fácil identificarmo-nos com as consequências que elas podem trazer. Porém, o grande destaque do projeto é, sem dúvida, a produção musical assinada por Zebu, Paul Ralphes e pelo próprio Jão. Habituados a instrumentais mais melancólicos e aveludados, é muito interessante ouvir a sua doce voz a movimentar-se entre beats mais marcados e ritmos mais acelerados. O single “Não Te Amo” é o caso mais flagrante desta combinação, colocando-o entre os melhores temas da discografia do jovem artista.
A menção honrosa do álbum pertence, contudo, a “Coringa”, o primeiro single desta nova era. De narrativa e melodia atrevidas, é tudo o que uma faixa pop/R&B deve ser. A abertura combina os vocais sensuais do cantor sobre um riff de guitarra acústica em loop. À medida que a canção avança vão surgindo outros instrumentos que, além de construírem a faixa em termos melódicos, acompanham a evolução da história que se pretende contar. A história de um relacionamento que não estava nos planos, tão intenso e aceso que quase parece errado.
No que à performance vocal diz respeito, em PIRATA vemos Jão a explorar mais o registo grave. Durante um concerto ao vivo no YouTube, em abril do ano passado, admitiu que as suas próximas composições seriam uns tons abaixo, dada a exigência vocal de alguns dos seus temas. Essa mudança é bastante audível no novo projeto e dá-nos a conhecer uma nova parte da sua voz, igualmente suave e musicalmente interessante. Esta mudança permitiu também a exploração de novas dinâmicas musicais, nomeadamente, as harmonias.
Destaque, também, para “Idiota” e “Santo”. As faixas aparecem-nos seguidas uma da outra, mas possuem narrativas muito antagónicas. Na primeira, “ama como uma idiota ama”, mesmo não recebendo esse amor de volta. Em Santo, por sua vez, é quem não assume o compromisso, celebrando as paixões momentâneas de verão. “Não me ponha no altar / Que eu sou meio desonesto / Eu te juro amor eterno / Mas no fundo eu não presto, ai”. Numa primeira audição, esta dualidade pode parecer incoerente, mas é produto de uma honestidade ímpar. Não somos unidimensionais, umas vezes heróis, outras vezes vilões. Esta é uma mensagem permanente na discografia do cantor.
O álbum termina com “Olhos Vermelhos”. Além de ser a faixa mais longa do álbum, é também a mais sentimental. Traz de volta o sentimento de solidão e necessidade de liberdade bem marcantes nos álbuns anteriores. A instrumentação é, provavelmente, a mais completa do álbum, combinando as habituais cordas e percussão a um solo de saxofone simplesmente fenomenal.
PIRATA é, no fundo, uma agradável surpresa. Um álbum que celebra a liberdade de podermos ser quem somos sem restrições. A liberdade de viver o amor nas suas infinitas facetas. Dá-nos a conhecer um novo Jão, mais alegre, mais destemido e menos melancólico. O Jão dos corações partidos é também o Jão dos corações livres.
Artista: Jão
Álbum: PIRATA
Editora: Universal Music
Data de lançamento: 19 de outubro de 2021