Squid Game estreou dia 17 de setembro na Netflix. A obra sul-coreana tornou-se na série mais vista de sempre da plataforma de streaming com 142 milhões de visualizações nas primeiras quatro semanas após a estreia.

A série acompanha a participação de pessoas endividas numa macabra competição de jogos infantis sul-coreanos. O objetivo é eliminar todos os 455 adversários e assim ganhar um prémio total de 45,6 bilhões de wons. No entanto, os participantes eliminados são assassinados, despertando assim nos jogadores um inesperado instinto de sobrevivência.

Um dos aspetos mais marcantes da série é a sua estética e cinematografia. As cores são meticulosamente escolhidas para transmitir um falso conforto e inocência a tudo o que se passa nos episódios. Também os cenários são associados à infância e a espaços infantis, como por exemplo o corredor de cor pastéis e formas geométricas. No geral, todo este cuidado a nível estético torna a série mais apelativa para os espetadores e faz nos tolerar com mais facilidade as situações horríveis em que os personagens se encontram.

Para nos guiar nesta traumática aventura foram indispensáveis as incríveis atuações por parte de todo o elenco. Para que o enredo resultasse na totalidade era importante criar empatia com as personagens, visto que estas são a peça central da ação. Só assim estaríamos investidos o suficiente na história, desejando que conseguissem sobreviver aos vários desafios. Destaco particularmente as performances dos atores no episódio seis.

O ponto principal de Squid Game é a sua crítica ao sistema capitalista. Neste esquema macabro percebemos o quão longe os humanos estão dispostos a ir para terem dinheiro. Além disso, vemos também o quão longe pessoas ricas estão dispostas a ir para se divertirem à custa de pessoas menos privilegiadas. Esta dimensão de crítica social está cada vez mais presente nas séries atuais, ao contrário de tempos passados em que os conteúdos audiovisuais eram vistos como “pão sem sal”.

No entanto, o aspeto que mais falhou em Squid Game foi o argumento. Houve muitos plot twists que eram bastante previsíveis e vários acontecimentos questionáveis que não fizeram muito sentido e que parece só terem sido inseridos para facilitar o desenvolvimento do enredo. Por exemplo, que garantia tinham os criadores dos jogos de que haveria sobreviventes após o quinto jogo? Ou que não morreriam todos logo no primeiro?

A primeira temporada deixou também muitas perguntas essenciais por responder. Continuamos a saber muito pouco sobre o funcionamento da competição, nomeadamente quem são os guardas e como é que morrem centenas de pessoas várias vezes por ano e ninguém ainda investigou o sucedido.

Concluindo, Squid Game traz uma discussão importante sobre o sistema capitalista na nossa sociedade. Porém, existem algumas falhas no que toca ao argumento. Contudo, apesar das dimensões hiperbólicas representadas na série, a luta constante dos pobres no mundo capitalista está longe de ser uma distopia distante. É só olharmos para o lado para percebermos que muita gente já joga Squid Game, mesmo sem o saber.