A marcar a transição de princesa da Disney para a rainha dos géneros musicais, Miley Cryrus lançou o seu primeiro EP, The Time Of Our Lives, a 31 de agosto de 2009. A composição teve uma receção controversa, o que não impediu a sua escalada nas tabelas musicais e posicionou-se entre os dez melhores lugares em nove países.
Apesar do percurso extremamente conturbado, Miley Cyrus foi considerada pela revista American Time uma das 100 famosas mais bem pagas do mundo. A sua carreira disparou após aparecer na série Hannah Montana (2006), da Disney. No entanto, a fama precoce e pressão para manter uma imagem perfeita levaram Miley a ter problemas relacionados com a saúde mental e a perda de identidade. Este “mini-álbum” reflete uma nova fase musical da cantora, atriz e compositora norte-americana. Mais madura, aqui aproveita para se afastar completamente da imagem imaculada que os meios de comunicação criaram para ela.
A abrir este projeto temos “Kicking and Screaming”, um tema de puro rock eletrónico que vem passar uma mensagem a quem esperava a mesma persona do pop adolescente. Esta faixa serve-nos com uma batida extremamente energética e acelerada, uma instrumentalização rica em acordes de guitarra e vocais estrondosos que nos fazem querer rebentar a pista de dança. É de destacar, também, a mensagem empoderadora, perfeita para arrasar com os ex-namorados, realçando a toxicidade dos relacionamentos atuais e a importância do amor próprio.
De seguida, temos um dos maiores hits musicais de todos os tempos e o single mais vendido da cantora, “Party in the USA”. Miley aproveita aqui para relatar um pouco os momentos arrebatadores da fama e da mudança para L.A que, por vezes podem parecer demasiado. Porém, a sua sonoridade cadenciada e o seu tom revigorador tornam este single num verdadeiro porta-voz do público mais jovem, que procura esquecer as preocupações e seguranças do quotidiano e que, por momentos, só quer pensar em divertir-se. Este tema ganhou proporções gigantescas e, hoje em dia, ainda é comum ouvi-lo em festas e discotecas.
Com um som envolvente, “When I look at you” mostra a versatilidade deste álbum que se move em estilos musicais. Para além de letras emotivas que fluem entre o piano e a guitarra electrónica, criando uma unificação brilhante entre os gêneros pop e country, esta balada presenteia-nos com uma surpreendente interpretação de Miley que através da sua voz poderosa e rouca nos hipnotiza. O country sempre foi uma grande parte da vida da artista nascida no Tenessee. Aliás, Billy Ray Cyrus, o seu pai, foi um fenómeno mundial do género. Posto isto, é normal ouvirmos influências country ao longo de toda a discografia de Miley.
Nesta fase do álbum, esperava um deslumbre musical, dada a execução das faixas anteriores. Este pensamento foi-se desvanecendo a partir da faixa “Obsessed” que, não só não encantou, como se mostrou um tanto monocórdica, seguindo a mesmo tom ao longo de toda a composição. O mesmo acontece com outras composições como, por exemplo, “Talk is Cheap” e o dueto musical com os Jonas Brothers, “Before the Storm”. Estas últimas, para além duma sonoridade letárgica, acabam por ter uma estrutura e instrumentalização muito semelhantes às anteriores, mas com menos qualidade, acabando por cair na redundância.
Depois de uma jornada turbulenta, fechamos em grande com uma obra altamente inspiradora- “The Climb”. O que mais me impressionou nesta composição, não foram os aspetos técnicos, como a voz polida e refinada da cantora ou a sua naturalidade melódica, mas sim a sua capacidade de apelar ao que há de mais intrínseco em nós, os nossos sentimentos. É um hino de superação que nos consciencializa que o nosso maior obstáculo somos nós mesmos e que as quedas tornam as vitórias mais doces. Esta faixa, que também acabou por se tornar um enorme hit, ganha outra dimensão se a associarmos à fase que a cantora está a viver na tentativa de dissociação à imagem criada pela Disney. Afinal, acabou por se tornar a música-marco do final da fase Hannah Montana.
Tendo em conta aspetos como a alta qualidade de algumas faixas e a pluralidade em termos de géneros musicais, The Time Of Our Lives é um álbum que nos enriquece a nível musical e espiritual. Apesar da carência de criatividade e versatilidade em algumas faixas, no geral mantêm um nível de qualidade bastante coeso. Por tudo isto, vale a pena ser ouvido, nem que seja para perceber melhor o que Miley Cyrus é hoje.
Artista: Miley Cyrus
Álbum: The Time Of Our Lives
Editora: Hollywood Records
Data de lançamento: 31 de agosto de 2009