Após um grande alarido por parte da população brasileira em consequência de se tratar de um drama realista de um mundo longínquo para nós, expetativas foram criadas. Lançado em setembro, 7 Prisioneiros faz jus à elevada fasquia que o espetador deposita, expondo o circuito cru do quadro capitalista moderno.
À procura de uma oportunidade para melhorar a sua qualidade de vida, Mateus aceita uma oferta de emprego para trabalhar no “ferro-velho”. Chegados a São Paulo, ele e outros conhecidos, deparam-se com um sistema de escravidão chefiado por Luca. Com um dilema em mãos, Mateus encontra-se na corda bamba entre o ser cúmplice num esquema de tráfico e corrupção ou arrisca-se a perder a vida e a sua família.
Impactante e Inquietante são os vocábulos que mais se sonorizam ao tentar transpor esta obra cinematográfica para palavras. Após toda uma evolução da sociedade é chocante ver que condições análogas de trabalho escravo são realidades ainda bastante presentes, ao contrário do que se possa pensar. Há aqui uma grande preocupação, por parte do realizador, em mostrar que o esquema de escravidão e corrupção moderno não é uma variável isolada, mas sim cíclica, que se alimenta através da disparidade de riqueza ligada às elites económicas.
O retrato feito do Brasil, nesta longa metragem, poderia ser a imagem de qualquer outro país. Não devemos cingir um problema tão abrangente a uma única localização geográfica. Isso seria errado. No entanto, trata-se de um tema duro que envolve pessoas humanas e denuncia relatos reais, abordando uma teia complexa de tráfico humano e revelando o como é difícil alguém sair de um esquema tão grande e perigoso.
Existe esta cultura em que se naturaliza o facto de acreditarmos que participar no sistema é o único meio viável para chegar onde se quer, mesmo que isso nos corrompa interiormente. O filme transborda este problema envolvendo agentes públicos, cujo trabalho é proteger a população. Ao invés, tornam-se facilitadores, contribuindo para que esta questão perdure.
No meio de tanta tragédia, há grandes atuações. Rodrigo Santoro com o seu vasto experiencial, faz um brilharete ao interpretar um papel que vai contra tudo aquilo o que defende. Tudo é sentido ao minuto quando Santoro “sobe ao palco”. Christian Malheiros não fica atrás. No início, caracteriza um jovem deslumbrado com a possibilidade de ter a vida que sempre quis. Com o decorrer da narrativa vê tudo aquilo em que acredita virar-se contra si, notando-se um equilíbrio em gerir o conflito interior que possivelmente enfrenta.
7 Prisioneiros levanta questões éticas de factos conflituantes, que nos levam ao cerne do problema, as tais decisões políticas não satisfatórias que normalizam e facilitam comportamentos animalescos. Não acompanhamos a história das outras vítimas e o drama fecha-se na história de Luca e Mateus, o que torna a obra um pouco pobre. Não obstante, o assunto foi um grande desafio para o roteirista, mas acabou por se cumprir as diretrizes que marcava – abrir os olhos ao mundo.
Título Original: 7 Prisioneiros
Realização: Alexandre Moratto
Argumento: Alexandre Moratto
Elenco: Rodrigo Santoro; Christian Malheiros; Vitor Julian
Brasil
2021