O filme esquecido da Fox Animation Studios, Anastasia (1997), apesar de retratar uma história na sua base fictícia, também patenteia um pouco da realidade russa em 1918. Esta animação veio materializar o mito da princesa Anastasia Romanov, segunda filha mais nova do Czar Nicolau II, que quando a sua família foi executada surgiram rumores que a jovem princesa teria sobrevivido.

Anastasia relata a jornada da grã-duquesa da Rússia, que viu a sua família ser amaldiçoada pelo feiticeiro Rasputin, que por odio inimaginável à família Romanov leva à morte da mesma. Assim, acabando com uma dinastia de três seculos de existência. Desta horrenda situação sobreviveram apenas a princesa Anastasia e a sua avó que socorridas por um pequeno servente do palácio conseguiram escapar. Infelizmente, no meio desta algazarra as duas sobreviventes são separadas, destinadas a nunca mais se encontrarem, deixando para trás apenas uma pequena caixa de música e um colar com a frase “Together in Paris”, um segredo das duas.

10 anos se passaram e correm pelas ruas de São Petersburgo rumores que a princesa, teria sobrevivido ao atentado e vivia agora sem identidade e família nas ruas frias da cidade russa. Estes rumores abriram portas a caloteiros, que procuravam raparigas para se passarem pela princesa desaparecida e obterem a recompensa da avó em luto que procurava pela sua neta. Desta forma, é neste contexto que somos apresentados a dois novos personagens, Dimitri e Vladimir, que viram nisto uma oportunidade de ganhar a vida e entrarem para a história da Rússia através de uma mentira bem-feita.

Com o desenrolar do enredo descobrimos que a princesa foi acolhida, durante estes 10 anos, num orfanato, onde lhe deram o nome de Anya, e agora com 18 anos foi obrigada a deixar este lugar. Com uma memoria muito limitada do passado, Anya quer descobrir quem realmente é e reencontrar-se com a família, tendo como única pista o colar que lhe provocava um fascínio pela capital francesa.

A partir deste momento a aventura começa e o encontro dos diferentes personagens é feito de uma forma lógica e conjugado com os relacionamentos que se vão desenvolvendo com o decorrer do longa entre eles muito contribui para o entretenimento daqueles que estão a ver. As diferentes peripécias prendem-nos ao ecrã, conseguindo provocar o riso de forma original e para toda a família, ao mesmo tempo que nos apresenta cenas de choque e luto de uma forma igualmente leve.

Sendo obviamente um musical, apresenta-nos músicas divertidas, mas que podem se tornar um pouco repetitivas e cansativas principalmente para quem não é muito apreciador deste tipo de filmes. A apesar disso, dá-se um enorme destaque a música “Once upon a December” que muito liga as duas sobreviventes da Família Romanov, sendo extremamente comovente.

Para quem assiste este clássico esquecido de 1997, em 2021, a longa-metragem provoca uma nostalgia enorme relembrando as antigas histórias da Disney e aquele traço 2D que parece raro nos nossos dias. A animação é lindíssima e a semelhança com a realidade da altura tanto nos icónicos cenários de Paris e da Rússia como nos detalhes como o vestuário e as joias da coroa russa do tempo do Czar Nicolau II é de se destacar.

Apesar de ser uma história que retrata uma princesa perdida e abandonada, pronta para ser salva pelo seu príncipe encantado, a maneira como Anastasia é retratada em tudo contraria este cliché tradicional. A personagem principal demostra uma atitude indomável, desajeitada e de teimosia, e que apesar das parecenças com as princesas icónicas da nossa infância, nada tem de submissa, escolhendo o seu próprio final feliz.

Em jeito de conclusão, a obra Anastasia é uma ótima escolha para ver com toda a família neste tempo frio de Natal que se avizinha. Nesta aventura da desaparecida grã-duquesa da Rússia são garantidos momentos de entretenimento e várias rizadas no decorrer de todo o filme, recheado de personalidade e garra que é transmitido pelos personagens principais que os tornam tão identificáveis.