Nesta época natalícia, o Evolution Circus aquece a cidade de Braga com o espetáculo Oceanika, o Tesouro de Poseidon.

Pela quinta vez a animar o Natal dos bracarenses, o Evolution Circus retorna à cidade minhota depois de um ano atípico. Até ao próximo dia 2 de janeiro de 2022, a companhia de circo apresenta diariamente o seu espetáculo, pelas 17h30, no parque exterior do Altice Forum Braga. Segundo Pedro Santos, cómico do circo, “é uma tradição poder voltar a Braga e mostrar que o circo está vivo”.

A companhia tem como desafio anual trazer um “espetáculo completamente renovado, com uma história diferente”, declara Pedro Santos. Desta forma, o tema deste ano focou-se na preservação dos oceanos. A ideia, surgida em 2019, estava “guardada dentro de uma caixinha”. O objetivo do Evolution Circus foi transpor o tema “que tem sido bastante falado” num espetáculo de circo, “parecendo uma excelente ideia para tentar apelar as pessoas para a conservação dos oceanos”, explicou o cómico.

Assim surgiu Oceanika, o Tesouro de Poseidon, que conta a história do Pirata Tragaldabas e do seu companheiro, grumete Pedrito, que partem em busca do Tesouro de Poseidon. Contudo, ao longo do caminho deparam-se com situações desagradáveis e tentam desenvolver soluções para as contrariar. Pedro Santos descreveu Oceanika como “um espetáculo educativo, com uma vertente pedagógica fortíssima, mas que continua a ter bons números de circo”.

Com este espetáculo, o Evolution Circus engloba 17 artistas a trabalhar em palco, mais o pessoal de staff que está por detrás dos acontecimentos. A companhia abrange cinco nacionalidades diferentes, desde portugueses, italianos, franceses, ucranianos e um angolano.

A rotina dos integrantes passa por acordarem cedo e realizarem as suas tarefas “com muita antecedência” para começarem o espetáculo a horas. Limpar o circo, preparar o cenário, ensaiar, tratar do guarda-roupa e da maquilhagem são alguns dos afazeres diários. No tempo livre, os elementos da companhia circense aproveitam para passear pela cidade. Um aspeto diferenciador do trabalho é terem de andar “com a casa às costas”. Diogo Amaral descreveu a experiência como “difícil, no início”, por ser “estranho” mover as suas coisas. Por vezes “abre-se a porta” e “não sabemos onde estamos, já não nos lembramos”, acrescentou o cómico.

Relativamente às datas festivas que se aproximam, a maioria da companhia “junta-se toda a celebrar o Natal e o Ano Novo”. Para os integrantes do circo é uma “festa em família”. Para aqueles cuja  cidade natal é próxima de Braga, vão passar o Natal a casa.

Francisco Alves / ComUM

A presente exibição é a segunda desde a pandemia. O Evolution Circus esteve um ano e sete meses parado e só reabriu as portas em outubro deste ano. Em março 2020, a companhia estava em Vigo quando o primeiro confinamento ocorreu e foram “obrigados a parar”. Pedro Santos contou que todos foram obrigados a “ficar lá retidos durante dois meses e meio”. Após esse período, os integrantes conseguiram regressar a Portugal, mas tiveram de dedicar-se a “setores completamente diferentes”. Enquanto alguns conseguiram arranjar trabalhos na mesma área, mas que rapidamente “fracassaram porque não era possível”, outros dedicaram-se a trabalhar em supermercados ou em transportadoras. “Foram tempos obviamente muito difíceis”, concluiu.

Além disso, “os apoios para a arte circense foram praticamente nulos”, o que complicou a situação, acrescentou o cómico. Segundo Pedro Santos, “até este ano, o circo não era considerado cultura”, então não estavam enquadrados nos apoios. “Estamos a falar de centenas de artistas, cerca de 20 companhias a trabalhar em Portugal que, de repente, olharam para as suas mãos e seguravam o dinheiro que tinha entrado no último espetáculo que fizeram”, expressou.

Todo o processo de retoma do circo foi devidamente pensado e analisado, uma vez que era um “risco movimentar uma companhia com 17 artistas e 10 camiões”, afirmou Pedro Santos. Apesar do medo e da incerteza, em outubro deste ano, “quando pareceu que a pandemia estava a estabilizar”, o Evolution Circus decidiu retomar com os espetáculos em Espanha. Se tudo correr bem, a companhia terá o mês de janeiro de descanso e em fevereiro retomará a atividade no país vizinho.

Pedro Santos analisou a adesão do público como “bastante interessante”. Se por um lado é visível “algum medo da parte das pessoas”, por outro, esse receio “dura dois, três dias”. Tal ocorre porque as pessoas “têm muita sede de cultura” e apercebem-se que a mesma é “complemente segura”. O cómico reforçou que o circo mantém “todos os cuidados” e “todas as normas em vigor estão a ser aplicadas”.

Percurso dos artistas 

Diogo Amaral é uma das personagens cómicas do espetáculo. Estudou no Chapitô e depois de ter realizado o estágio no Evolution Circus, acabou por ficar. Antes disso, Diogo realizava animações em eventos, mas decidiu lançar a sua carreira como cómico e conta já com seis anos ao lado desta companhia. Ao interpretar o Pirata Tragaldabas, admitiu ter uma grande “responsabilidade”, uma vez que é um dos fios condutores do espetáculo. As suas intervenções “não são só artísticas”, têm também o intuito de passarem a mensagem de preservação dos oceanos.

Francisco Alves / ComUM

Outro integrante da companhia circense é Gildo Gomes, que interpreta um ouriço-do-mar. Gildo é contorcionista autodidata e o Evolution Circus é o primeiro circo com que trabalha. Após vê-lo no programa Got Talent Portugal, a companhia contactou-o para fazer parte da mesma. O contorcionista aceitou, mas logo de seguida surgiu a pandemia e teve de voltar para Angola. Em julho deste ano, Gildo regressou a Portugal, novamente para o concurso televisivo, e de seguida ingressou no Evolution Circus. O jovem salientou que foi no circo que aprendeu a maquilhar-se.

Francisco Alves / ComUM

O ComUm conheceu ainda os irmãos ucranianos, Roman e Philip Lypchak, de 20 e 13 anos, respetivamente. Os irmãos, que desde de novos realizam acrobacias, atualmente executam números de forças combinadas no Evolution Circus. Na Ucrânia, Roman e Philip já tinham realizado espetáculos, mas este é o primeiro espetáculo num país diferente. Sozinhos em Portugal, os irmãos  foram contactados pelo circo e integraram a companhia circense há um mês.

Francisco Alves / ComUM