Não Olhem Para Cima saiu nas salas de cinema portuguesas dia 8 de dezembro e já está disponível na Netflix desde a véspera de natal. O trailer, a história, o elenco – tudo aponta para um filme fenomenal. E de facto, realmente é.

A longa-metragem conta a história de Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), estudante de astronomia, e de Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio), um astrónomo e professor universitário conceituado. Kate descobre um cometa e Dr. Mindy descobre a sua rota: o planeta Terra. Ao perceberem tal acontecimento entram em pânico e querem a todo o custo avisar a população mundial sobre a ameaça que enfrentam. Com menos de sete meses de vida na terra, vão à Casa Branca para falar com a presidente dos EUA, Janie Orlean (Meryl Streep), onde são completamente ignorados e, logo depois, à televisão. Aí ficam conhecidos como os astrónomos “malucos”, principalmente Kate, que é alvo de piadas e vira um meme.

Todo o filme de Adam McKay funciona com uma sátira à atual sociedade. A forma como as autoridades americanas reagem a toda a situação chega a ser tão ridícula que nos esquecemos que é um acontecimento muito próximo do real. Na verdade, o que lhes interessa é apenas o favorecimento dos ricos, ou seja, deles mesmos e alimentar um grupo de neutros e negacionistas de forma a manter o seu governo por mais uns “anitos”. A presidente Janie Orlean aproxima-se de um Donald Trump do sexo oposto, ou ainda pior.

O mesmo se pode dizer da imprensa. Abordam o tema de forma tão leviana que faz o público crer numa piada de mau gosto. Chocante, mas correspondente ao real, vemos a forma como as aparências ganham em situações que nem se deveria ter o aspeto em conta. “Keeping it funny” é o lema dos apresentadores na longa-metragem e, de certa forma, é o que acontece nas televisões atuais. Entreter é mais importante do que informar.

O objetivo da obra não é assustar os espectadores, mas sim abrir-lhes os olhos. Rimo-nos muitas vezes de assuntos de forma a que não nos assombrem, porém há problemas que interessam e nos quais devemos intervir. Podemos dizer que há referências às alterações climáticas. Somos confrontados com o fim do mundo, claro que de forma não real e demasiado exagerada, mas observamos um fenómeno que se fala que pode ser possível daqui a uns anos. Até agora só ativistas é que têm realmente mostrado preocupação e tomado ação, mas e os restantes? Rimo-nos da obra cinematográfica e da forma ridícula como todos reagem, mas não é isso que fazemos também quando estes temas são abordados no noticiário?

DR

Relativamente à produção, o realizador segue bastante os traços de antigos projetos. Os ângulos da câmara e o guião estão feitos de forma semelhantes a um documentário. Os cortes de imagem, som e contrastes de silêncio com som intenso ou vice-versa são introduzidos de forma a causar impacto. Como não é um filme de terror, o guião está escrito em tom de comédia e ironia. Contudo, sempre com cortes e diálogos que choquem e levem à reflexão.

Para além do tema, dos ângulos de câmara, do som, do guião e dos aspetos técnicos do grande cinema, temos de elogiar a performance de todos os atores. Desde de Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence, que estão nomeados para Globo de Ouro de melhor ator e atriz, respetivamente, há ainda a atuação de numerosas outras estrelas. Meryl Streep, Jonah Hill, Cate Blanchett, Tyler Perry, Timothée Chalamet, entre outros. Todos interpretaram de forma fantásticas personagens hilárias para a longa-metragem. A forma como se entregaram ao papel foi de tal forma excelente, que conjuntamente com a temática do filme, o tornou ainda mais real e autêntico. Destaque ainda para Ariana Grande, que para além de interpretar a sua personagem de um modo exímio, ajudou ainda na composição da música “Just Look Up, que consagrou uma das cenas mais irrealistas do filme, mas também das mais icónicas.

Não Olhem Para Cima dá asas à reflexão do público para que pense nos assuntos importantes que o rodeia e que tome ação em determinadas questões. Um “abre olhos” e uma excelente comédia são duas das características que tornam a longa-metragem uma razão plausível para ir às salas de cinema ou, para os mais preguiçosos, de reservar duas horinhas e abrir a Netflix.