O ano de 2021 deu-nos muitas lições mais diversos campos da nossa vida e incentivou-nos a viver a vida ao máxima, pois nunca saberemos quando será o último dia. Desta forma, agora numa pandemia que não parece ter fim, viramo-nos mais que nunca para conteúdos que nos consigam entreter. Contudo, não é por termos estado fechados em confinamento que qualquer produção é boa o suficiente para nos saciar.

Assim, o ComUM reuniu diversas produções que falharam redondamente em apresentar conteúdos de qualidade ou que precisam de bastantes retoques para que em 2022 não tenhas que perder tempo com estes projetos.

 

Cinema

Cena do Crime ‑ Mistério e Morte no Hotel Cecil (2021) – A série documental Cena do Crime ‑ Mistério e Morte no Hotel Cecil estreou a 10 de fevereiro. Através de uma saga dividida em quatro partes, a produção explora o misterioso desaparecimento de Elisa Lam, uma estudante universitária canadense que desapareceu numa viagem a Los Angeles, em 2013. A verdade é que, nos dias de hoje, o mistério, que assolou a internet, já foi parcialmente resolvido. Sendo assim, a série nada vem acrescentar ao já conhecido. Apesar da excelente recolha e combinação de entrevistas, imagens de vigilância e recriações, a produção é demasiado demorada e repete informação constantemente. No fundo, tenta deixar a augar por mais, sem possibilidade de saciar as curiosidades. (Título Original: Crime Scene: The Vanishing at the Cecil Hotel)

 

Ele É Demais (2021) – a crescente tendência de colocar influencers no lugar de atores com talento levou Addison Rae ao lugar de protagonista e Kourtney Kardashian a um dos piores desempenhos do ano. Tal como todos os filmes escritos por alguém com mais de 50 anos que tentam retratar a Geração Z, é mais uma produção da Netflix carregada de frases que nunca ninguém diria na vida real. Em termos visuais, é como ter comichão naquela zona da garganta que não dá para coçar – nem sempre sabemos apontar a causa, mas há um desconforto constante. O remake de Ela É Demais (1999) não chega sequer a ser “tão mau que se torna bom”, mas garante 90 minutos de entretenimento para quem se quiser rir do filme e não com ele. (Título Original: He´s All That)

 

Gossip Girl (2021) – Quase dez anos depois do lançamento original, os adolescentes ricos e poderosos estão de volta a Constance Billard. A série lançada no serviço HBO Max conquistou o coração de muitos e despedaçou o de outros. Para todos os efeitos, é uma produção promissora com uma cinematografia de tirar o fôlego, um guarda-roupa invejável e algumas frases memoráveis. Todavia, a produção falhou mais do que uma vez em termos de roteiro. Para além de colocar duas irmãs em luta por causa de um rapaz, os produtores prometeram oito protagonistas, quando na realidade foram apresentadas duas protagonistas, quatro atores secundários e duas figurantes. Ao longo dos episódios, o espectador vê o holofote sempre nas mesmas personagens (para não falar que são as mais interessantes). A segunda parte da primeira temporada apresenta temáticas mais interessantes e abre novos espaços. Não obstante, a segunda temporada, que chega em 2022, ainda tem “muito que dar à perna”.

 

Monstros: Ao Trabalho (2021) – Monstros: Ao Trabalho inicia-se um dia após a maior fábrica de monstros do mundo mudar o seu método de geração de energia – colher o riso das crianças ao invés dos seus gritos. Com Mike e Sulley ao comando, seguimos a história do jovem monstro, Tylor Tuskmon. O sonho de Tuskmon era tornar-se num “assustador”. A desilusão chegou quando descobriu a mudança envolta na companhia. A falta de habilidade para fazer uma criança sorrir fez com que fosse transferido para uma outra equipa, onde conhece um bando de mecânicos desajustados. Apesar da interessante premissa por parte da Disney, existem muitas oportunidades perdidas. Ninguém esperaria que o humor da série fosse particularmente pesado. No entanto, a certas alturas, torna-se demasiado leve e fácil. Além disso, demora demasiado tempo a desenrolar o seu enredo. Depois do sucesso de produções, como Monstros e Companhia, as empresas deviam aprender a saboreá-lo e a parar. O que é demais é erro (Título Original: Monsters at Work).

 

Presos no Tempo (2021) – As obras de M. Night são conhecidas por deixarem a plateia divida. Contudo, se alguém considerou “Presos no tempo” um bom filme, não viu o mesmo que eu. Personagens sem características realistas, o mote explicado e explorado de forma preguiçosa, trabalhos de câmara que pretendem criar tensão, mas apenas criam enjoo. Toda esta conjuntura péssima podia ser salva pelos atores, pois há nomes bastante relevantes da indústria, mas com um argumento tão péssimo não há milagres. A evitar, a menos que seja para ver uma comédia e não um thriller.

 

 

Literatura

Editora: Record

O Martelo das Feiticeiras (1487) – Publicada no ano de 1487 num período de enorme agitação religiosa, a obra de Heinrich Kraemer e James Sprenger é um epítome de crueldade. Autodeclarando-se como um “manual de caça-às-bruxas”, o livro descreve as mais estúpidas formas de identificar um praticante de heresia e promove o ódio, a tortura e a morte sumária. A obra não é de todo um romance, mas as mentiras e barbaridades que apresenta são o suficiente para constar nesta lista (Título Original: Malleus Maleficarum).

 

Editora: Lua de Papel

As Cinquentas Sombras de Grey (2011) – Amada por muitos, odiada por outros, As Cinquentas Sombras de Grey foi um sucesso a nível mundial, resultando na adaptação ao cinema. Contudo, popularidade nem sempre significa qualidade, e neste caso, isso aplica-se. E.L. James tentou naturalizar práticas BDSM entre casais e propagar a ideia de que onde há amor também pode haver sadomasoquismo. No entanto, a relação entre as personagens principais vai mais além do que práticas BDSM, acabando mesmo por se tornar uma relação abusiva. Em que a personagem feminina sofre de violência. A glamorização feita pelo livro e continuada no cinema pode “fechar os olhos” a muitas pessoas, porém os sinais de violência contra a mulher estão lá (Título Original: Fifty Shades of Grey).

 

Editora: Sand Dollar Press INC

Save the Pearls: Revealing Eden (2012) – Victoria Foyt achou a ideia de escrever sobre uma “rapariga branca que vive num ambiente pós-apocalíptico” excelente, especialmente quando decidiu batizar as diferentes etnias representadas no livro com nomes como “Pearls” e “Coals”.  Não só o livro apresenta uma “tonalidade” racista como a construção da história é pobre e mal elaborada. Sem qualquer coesão, a obra desenvolve-se em torno da repetição e do aborrecimento (Título Original: Save the Pearls: Revealing Eden).

 

Editora: Outro Planeta

Traços (2016) – Após acompanhar Beatriz numa festa do colégio, Matheus acaba a participar num ritual “místico”. O ritual leva a Beatriz a crer que deve fugir da terra natal e dirigir-se a São Paulo. Repentinamente, Matheus vê-se envolvido neste “plano de fuga” sem nenhum desejo de pertencer ao mesmo. O romance é carregado de clichés, premissas deixadas em aberta e completamente despropositadas. A obra é imensamente ridícula, o que se comprova pelo facto do clímax ser o resgaste de um YouTuber que é obrigado a fazer vídeos enquanto está desaparecido. Neste livro, todos os elementos deste livro são tão insensatos que até ler a sinopse é agonizante.  (Título Original: Traços)

 

Editora: Record

A Biblioteca de Paris (2021) – A obra de Janet Skeslien Charles é baseada em factos reais e conhecemos Odile que habita em Paris e tem a “vida perfeita”. A outra parte da história sucede-se em Montana no ano de 1983, onde o leitor acompanha a vida solitária e a necessitar de aventura de Lily. O que é que as duas personagens têm em comum? Aparentemente nada, e com o decorrer do livro Odile ganha muito mais destaque do que Lily. Dessa forma, ao conhecermos Odile, a perplexidade toma conta de nós quando tomamos consciência de quão mal a personagem é construída. O ridículo em que Odile caí, arrasta a narrativa consigo. (Título Original: The Paris Library).

 

 

Música

“Boyz”, Jesy Nelson ft. Nicki Minaj – O single de estreia de Jesy Nelson após ter saído da banda Little Mix parece não ter agradado à maioria do público. A música recebeu diversas críticas pelos internautas (e com razão). Mas, o que faz esta música ser tão má? Todo o seu conceito parece ser feito propositadamente para ser um hit, mas sem sucesso. Desde a batida genérica à letra com pouquíssimo conteúdo contrastando, assim, com as músicas produzidas pela sua ex-banda, Little Mix. Já o verso de Nicki Minaj parece ser a única parte boa do tema.

 

Butter”, BTS (2021) – BTS alcançou grandes resultados com o lançamento de “Dynamite” em 2020, então a publicação de uma “cópia reciclada” pareceu uma boa ideia. Melodicamente, é uma composição básica e repetitiva que se baseia no disco-pop e retro-pop, quanta às vozes dos membros não se encaixam de todo com o instrumental. Por sua vez, o rap apresentado na bridge da faixa aparenta estar só a preencher espaço vazio. No que toca à letra, esta é tão desprovida de conteúdo e interpretações credíveis que fica difícil entender qual a história por detrás da canção.

 

“Jail Pt. 2”, Ye – O tema “Jail Pt. 2” faz parte do projeto Donda (2021) de Ye, outrora conhecido como Kanye West. O problema deste não-hit começa logo com as escolhas de colaboração. Para além de Ye, podemos ouvir Marilyn Manson e Da Baby. Estas duas figuras da indústria musical estão atualmente em várias controvérsias devido a acusações de abuso e violência sexual e comentários homofóbicos, respetivamente. Ademais, ao nível da letra, os artistas parecem tentar justificar o injustificável ou que, pelo menos, os ouvintes sintam mais compaixão face a eles.

 

Lalisa”, Lisa (2021) – Depois das estreias individuais bem-sucedidas e de excelente qualidade de Jennie e Rosé das BLACKPINK, esperava-se que Lisa segue-se o mesmo caminho. Porém, tudo “foi água abaixo” quando “Lalisa” foi lançada. O single não só peca pela produção fraca, extremamente repetitiva e com elementos sonoros de certa forma irritantes, como também mistura diferentes sonoridades que em nada se interligam. Para além disso, a letra na sua maioria não tem qualquer lógica, porém o refrão despe-se de qualquer coerência. Definitivamente, é uma música desnecessária na playlist de 2022.

 

“Obsessed”, Addison Rae – Em 2021, Addison Rae entrou para a lista de TikTokers que tentam uma carreira musical, o que parece ser a nova moda desde as carreiras musicais instantâneas de atrizes da Disney. Como seria de esperar de alguém que lança uma música, não por paixão, mas por não ter falta de oportunidades e por ser mais uma forma de ganhar dinheiro, “Obsessed” não é, de todo, uma obra-prima. Com uma quantidade monstruosa de auto-tune, que deixa a voz da influencer irreconhecível, alicerçado a um beat simples e a uma letra nada complexa e bastante vaga, o tema não deixa muito a ansiar.

 

Artigo por Bruna Sousa, Diogo Braga, Francisco Alves, João da Silva e Leonor Alhinho