Provavelmente um dos álbuns mais aguardados do ano, Red (Taylor’s Version) foi lançado a 12 de novembro, sendo, depois de Fearless, o segundo disco regravado da cantora norte-americana Taylor Swift. Com cerca de 30 faixas, o projeto reúne alguns dos maiores êxitos da carreira da artista e seis canções novas que não ficam atrás das anteriores.

Taylor Swift realmente deixou diversos fãs em êxtase após o anúncio nas redes sociais, em junho deste ano, com a data de lançamento da regravação de Red (2012). O motivo? Para além de se tratar de um dos melhores álbuns da cantora, chegando, até, a estar nomeado na categoria de álbum do ano nos Grammy Awards de 2014, contém seis canções completamente novas e a tão aguardada versão original de “All Too Well”.

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Para além de contar com as já conhecidas participações de Gary Lightbody, da banda Snow Patrol e Ed Sheeran, Red (Taylor’s Version) tem, ainda, o contributo de novos artistas, como Phoebe Bridgers e Chris Stapleton. Todas as canções são creditadas a Swift, com colaborações de Dan Wilson, Max Martin, Shellback, Liz Rose, Jacknife Lee, Maya Thompson, Patrick Monahan e Lori McKenna.

O disco original é particularmente interessante, uma vez que marcou a transição de Taylor Swift do country para o pop. Tal como Fearless (Taylor’s Version), os arranjos musicais e as harmonias deste trabalho continuam praticamente idênticos às versões lançadas originalmente. A diferença mais notória é que algumas das faixas que mais se aproximavam do estilo country, tal como “State Of Grace” e “Girl At Home”, tornaram-se, agora, verdadeiras composições pop.

Liricamente, os temas têm como inspiração as emoções intensas vividas pela artista na primeira pessoa, quase todas elas associadas a desilusões amorosas. Neste sentido, Red (Taylor’s Version) não é apenas o título deste sucesso de Swift, mas é também a cor que a cantora escolheu para representar as sensações de raiva, amor e paixão que dão vida ao disco.

É impossível falar em corações partidos e não mencionar a chave de ouro desta regravação. Sim, refiro-me à versão original de dez minutos daquela que é descrita por muitos críticos e fãs como “a melhor canção de Taylor Swift”. E, de facto, é. Por se tratar de uma faixa um tanto longa, não seria de admirar se muitas pessoas considerassem “All Too Well (10 minute version)” aborrecida e desnecessária. Contudo, este clássico de Swift, ao reinventar-se, superou todas as expectativas, sendo já visto como uma das melhores composições de 2021.

Não há dúvida de que o grande destaque deste tema recai sobre a carga dramática dos versos, o que vem provar, mais uma vez, a habilidade de Taylor Swift para criar toda uma narrativa envolvente ao redor de sentimentos com os quais as pessoas se identificam. “All Too Well (10 minute version)” é, sem dúvida, todas as sensações de Red numa só faixa. Se nos primeiros minutos os acordes melancólicos de guitarra conferem um tom infeliz e nostálgico aos versos, eis que os vocais de Swift se vão tornando cada vez mais fortes e carregados de raiva à medida que o instrumental se torna mais ruidoso, sobretudo em “And you call me up again just to break me like a promise/ So casually cruell in the name of being honest”. Vale ainda destacar novos versos como “You kept me like a secret but I kept you like an oath” e “I’ll get older, but your lovers stay my age”, que tornam esta versão ainda mais dramática.

Uma vez que as faixas já conhecidas pouco diferem das originais, direciono agora a minha atenção para as canções “From The Vault”. “Better Man” é um tema que a cantora compôs originalmente para a banda Little Big Town, o que lhes garantiu um Grammy na categoria de melhor duo de country em 2018. Tanto a letra como a melodia andam à volta, uma vez mais, da tristeza derivada do fim de um relacionamento. O “eu” lírico reconhece que provavelmente está melhor sem ninguém, mas, ainda assim, admite sentir saudades da pessoa em questão e expressa o desejo de que ela se torne “um homem melhor”.

A colaboração com a cantora Phoebe Bridgers, intitulada “Nothing New”, é uma balada vulnerável e nostálgica que aborda as mudanças pelas quais as pessoas passam ao longo das suas vidas. Consequentemente, à medida que vamos envelhecendo, deixamos de ser uma “novidade” para passarmos a ser nada de novo (“nothing new”). Os vocais maduros de Swift encaixam na perfeição com a voz doce, e quase abafada, de Bridgers. É como se estivéssemos a assistir a um diálogo entre duas velhas amigas que recordam o passado (“I know someday I’m gonna meet her, it’s a fever dream/The kind of radiance you only have at 17/She’ll know the way, and then she’ll say she got the map from me/I’ll say I’m happy for her, then I’ll cry myself to sleep”).

O que difere em “Babe” é o facto de não ter sido escrita tão recentemente como “Better Man”. A canção é cativante logo a partir dos primeiros versos, retratando uma traição por parte de um ex-par romântico. Contudo, esta versão perde qualidade em comparação com a que foi gravada por Sugarland, a dupla de cantores para a qual a artista escreveu o tema. Jennifer Nettles tem uma voz firme e inconfundível, sendo, aqui, o elemento em grande falta. Quanto ao instrumental, os elementos harmónicos relembram um pouco composições dos anos 90. “Message In A Bottle” remete igualmente para temas pop de finais dos anos 90 e início dos anos 2000, mas, ainda assim, não chega aos calcanhares da faixa anterior. Com um ritmo enérgico e alegre, a canção encaixaria perfeitamente num filme teen dessa época.

O cantor Chris Stapleton dá voz, juntamente com Swift, à divertida “I Bet You Think About Me”. Ao contrário das outras faixas do álbum, esta canção, claramente country, aborda o tema do coração partido de forma cómica e engraçada (“I bet you think about me when you say/Oh my god, she’s insane, she wrote a song about me”). Para além dos compositores já referidos, este projeto conta com letras co-escritas por Mark Foster, da banda Foster The People, em “Forever Winter”, mais uma balada que retrata a falta de comunicação dentro de uma relação amorosa.

Das faixas criadas com Sheeran, “Run” sempre foi a preferida do cantor britânico, mas acabou por ser excluída da versão original de Red. O que distingue este tema dos restantes é o facto de se demonstrar a vontade de fugir dos olhares curiosos com o seu par romântico, assemelhando-se a “I Know Places” do disco 1989 (2014). A canção foi escrita no dia em que os dois artistas se conheceram, aquando da composição de “Everything Has Changed”. Desde essa altura, muitos aspetos realmente mudaram nas suas vidas, mas é inegável que os dois continuam a formar uma dupla musical imbatível.

Por fim, temos a alegre canção pop “The Very First Night”. No que toca à melodia e ao ritmo, este tema é bastante idêntico a “Message In A Bottle”, sendo, no entanto, muito mais viciante. Apesar do refrão cativante, o instrumental é demasiado alegre para acompanhar os versos saudosos (“And so it goes, every weekend, the same party/I never go alone and I don’t seem broken-hearted/My friends all say they know everything I’m going through/I drive down different roads but they all lead back to you”).

Não há dúvida de que Taylor Swift elevou este clássico da sua carreira a outro nível. Cada canção é única e faz sentido dentro deste autêntico carrossel de emoções que é Red (Taylor’s Version). Os êxitos bem conhecidos pelos ouvintes ganham, aqui, mais vida com os vocais maduros e profundos da artista e os elementos pop que foram incluídos nos instrumentais. Já as novas composições surgem quase como um “penso rápido” que vem curar as feridas provocadas pela carga dramática dos temas anteriores, com melodias e ritmos alegres. Este projeto é, tal como diria Swift em “22”, feliz, livre, confuso e solitário ao mesmo tempo. Um verdadeiro mix de sensações que continua a fazer as delícias dos fãs passados quase dez anos.