O confinamento e o isolamento social provocados pela pandemia da Covid-19 têm agravado a saúde mental dos mais jovens.

A saúde mental é, segundo a definição de “saúde” da Organização Mundial de Saúde (OMS), um dos três pilares do bem-estar. Apesar disso, não tem estado na lista de prioridades dos governos, sendo frequentemente classificada como “o parente pobre da saúde”.

Com o surgimento do Sars-Cov-2, a população mundial viu-se obrigada a confinar para reduzir o risco de contágio e consequentemente o número de vítimas da doença. No entanto, o confinamento e o isolamento social provocaram um agravamento da saúde mental, em particular dos mais novos. Segundo dados revelados pela Unicef e citados pelo Público, um em cada cinco jovens entre os 15 e os 24 anos sofre de depressão.

Portugal não escapa a esta realidade, sendo significativos os dados relativos à saúde mental dos jovens portugueses. De acordo com um artigo do Diário de Notícias do psicólogo Alfredo Leite, “o suicídio é a principal causa de morte em crianças e jovens adultos” no país. Em conversa com o ComUM, Eugénia Ribeiro, professora da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, explica como a pandemia veio agravar a saúde mental dos mais jovens, bem como o impacto das redes sociais nesta tendência.

Eugénia Ribeiro começa por constatar que “os acontecimentos que as pessoas vivem, como a pandemia, não causam, por si só, ansiedade ou depressão”. No entanto, estes acontecimentos têm a capacidade de “interagir com vulnerabilidades” pré-existentes, as quais podem “facilitar o desenvolvimento de perturbação mental”. Assim, “não há uma relação de causalidade, mas uma relação de influência e de associação”, visto que pessoas com determinadas fragilidades de saúde mental têm maior predisposição para desenvolver patologias.

Da mesma forma, a professora argumenta que “a ansiedade é uma resposta, em si própria, normal”. “Todos sentimos ansiedade num determinado momento da nossa vida e, em alguns momentos, esta ansiedade pode ser protetora, porque nos prepara para agir”, explica. Contudo, esta ansiedade pode tornar-se patológica quando começa a interferir “de tal maneira no dia a dia que a pessoa deixa de conseguir fazer o que quer e o que precisa”. Na realidade, a ansiedade traduz-se num “conjunto de formas de pensar acerca da própria pessoa” e, quando atinge valores disfuncionais, caracteriza-se sobretudo por “um pensamento mais apoiado no perigo”.

Relativamente ao impacto das redes sociais na saúde mental, a especialista considera que “podem na sua vertente positiva funcionar como o suporte social”, permitindo “criar redes de interação saudáveis”. Porém, Eugénia Ribeiro afirma que têm um impacto negativo ao criarem “redes de interação que são ameaçadoras para a pessoa”, constituindo assim “um contexto facilitador da experiência de ansiedade”. “As redes sociais podem ser contextos pouco protegidos, em que as pessoas se podem expor e essa exposição pode criar da parte dos outros respostas de rejeição ou de crítica”, acrescenta.

A professora da Escola de Psicologia revela ainda que os jovens têm, por norma, dificuldade em apurar a origem da sua ansiedade e stress. “Podem achar que o problema está em si e não nas redes sociais”, refere. Por isso, é importante que tenham alguma literacia sobre o assunto, para que possam também perceber quando a sua ansiedade é uma experiência normal e quando deixa de o ser. Segundo a especialista, “começar a ter problemas de sono, não conseguir adormecer, ter dificuldade em concentrar-se, estar muito agitado e ter sensações físicas como suores ou dificuldades de respirar” são alguns sintomas de níveis desadequados de ansiedade. Assim, “se a pessoa conseguir reconhecer quais são os sinais, uma das coisas que pode fazer é pedir ajuda especializada”, aconselha.

Além disso, Eugénia Ribeiro realça a necessidade de “fazer o que dá prazer e o que ajuda a relaxar, por exemplo, desporto, caminhadas, cantar, dançar para organizar os pensamentos”. Da mesma forma, reitera que é importante que as pessoas não se isolem e que percebam com quem podem partilhar o seu mal-estar. “Nem toda a gente que está triste está deprimida”, constata. Por isso, “nem toda a gente precisa da ajuda de um psicólogo” quando sente que algo não está bem. A professora refere que o importante, nestes casos, é “o suporte social” e a ativação “da rede de contactos e da rede de amigos”.

A Universidade do Minho disponibiliza, para todos os alunos, consultas de psicologia e psicoterapia, destinadas ao trabalho com ansiedade e depressão. A Associação de Psicologia da UMinho é a responsável pela prestação destes serviços.

Artigo escrito por: Ana Beatriz Cunha, Eduarda Almeida e Joana Oliveira