Homem na Lua estreou em Portugal no dia 10 de março de 2000. O filme realizado por Miloš Forman conta a história biográfica de um dos mais excêntricos artistas da história: Andy Kaufman.
Começo esta crítica questionando ao leitor o que fariam nesta situação. Imagina que compraste um bilhete para um espetáculo que foi vendido como sendo de comédia. No palco, temos espaço vazio, excetuando um gramofone. O “comediante” entra. O público espera ansiosamente. A meio do espetáculo, o artista diz que vai ler um dos maiores clássicos da literatura americana O Grande Gatsby. A plateia ri-se. O “comediante” começa a ler o livro. O público pensa que não tarda nada irá parar. Ele não para. As pessoas indignadas vão saindo. Pergunta se querem que pare ou se preferem que ponha o disco a tocar. O público pede o disco. Não é música que sai, mas sim o resto da leitura. Peço desculpa pela descrição longa, mas deixo uma pergunta: O que faria o leitor? Era este o grande objetivo de Kaufman: provocar reações no público, sejam de revolta ou fascínio. Eu escolho o fascínio.
Protagonizado por Jim Carrey, a longa-metragem conta a ascensão e queda de um dos maiores artistas dos últimos tempos. Recusava ser chamado de comediante, mas acabou por fazer carreira nesse ramo. No decorrer do filme temos um vislumbre detalhado sobre a carreira de Kaufman. Conhecemos as suas angústias (que eram muitas), os seus sucessos e falhanços. As suas várias tentativas de revolucionar e de brincar com o formato do humor nem sempre foram bem sucedidas e o filme mostra-nos isso mesmo.
Jim Carrey é fascinante como Kaufman. Carrey é já referência no que diz respeito ao humor físico mas aqui o ator esmera-se e entrega-nos uma das suas melhores prestações. O ator curva-se, muda a voz e desaparece completamente no papel. Danny DeVito como o agente de Kaufman, Paul Giamatti como cúmplice nos esquemas intricados de Kaufman também estão muito bem. Mas é Carrey que rouba a cena e torna-se o grande destaque do filme. Correm até histórias de que o ator que durante as gravações do filme nunca saía de personagem. A obra cinematográfica é recheada de humor “meta” com uma pitada de referências da época. O humor do guião é transportado para a tela através de uma edição sublime e de uma realização impecável.
O guião do filme é recheado de humor mas também levanta grandes questões sobre o mundo das artes e do espetáculo. Kaufman fez um personagem de sucesso numa sitcom chamada “Taxi” e foi esta a participação que o catapultou para o estrelato. O artista não gostou da experiência na série. Estou a explicar isto porque a carreira de Kaufman após a série ficou “amaldiçoada” pela personagem.
A obra cinematográfica critica o público que não consegue dissociar uma personagem da carreira de um artista. Sempre que se apresenta em público o seu espetáculo é interrompido pela plateia que lhe pede para fazer aquela personagem, como quando pedimos a um cantor que cante aquele êxito e nos esquecemos do resto do repertório. Ou seja, é a nossa atitude com a arte, com a repetição que nos é familiar, que o filme pretende criticar. E fá-lo com humor e ironia.
Homem na Lua conta-nos a história de um artista fascinante com uma das melhores interpretações de Carrey. Tudo isto recheado com um humor que nos faz rir dos nossos comportamentos em relação à arte.
Título Original: Man On The Moon
Realização: Milos Forman
Argumento: Scott Alexander, Larry Karaszewski
Elenco: Jim Carrey, Danny DeVito, Gerry Becker
EUA
1999